18/02/2013 - 11:26
Durante 30 anos, entre as décadas de 1950 e 1980, o apresentador Abelardo Barbosa, o Chacrinha, um dos mais irreverentes comunicadores de programas de auditório que a televisão brasileira já conheceu, se virava para o público e perguntava: “Vocês querem bacalhau?” Em seguida, atirava o peixe para a plateia que disputava a tapa o produto. Naquela época, o bacalhau era uma iguaria acessível a poucos. Na última década, porém, o peixe seco e salgado vem conquistando cada vez mais espaço na mesa do consumidor brasileiro. Mas, se depender do empresário Rui Manoel Dias, presidente da Seafoods, importadora de São Paulo, os dias de reinado absoluto desse tipo de bacalhau estão contados no País. A Seafoods aposta no bacalhau dessalgado, pronto para o consumo, importado do Alasca, para ganhar mercado no País. “O consumidor mudou”, afirma Manoel Dias. “Há uma nova geração que deseja praticidade na cozinha, com o bacalhau já sem sal e pronto para ir à panela.”
A Seafoods é o braço importador no Brasil da Bacalhau Dias, exportadora criada em 1987, em Lisboa, pelo pai de Manoel Dias, o português Rui Dias. Com 12 mil toneladas de bacalhau vendidas, a Bacalhau Dias fatura R$ 100 milhões por ano. A operação brasileira foi aberta em 2004, já com vistas à popularização do bacalhau dessalgado, mas a proposta custou a engrenar. “O peixe no Brasil sempre esteve ligado a datas festivas, como Natal e Páscoa, diferentemente de Portugal”, afirma Manoel Dias. “Mas hoje o cenário é outro. O brasileiro tem mais dinheiro no bolso e gosta de apreciar boa comida o ano todo.” Por conta desses fatores, cuja influência passou a ser mais sentida a partir de 2010, as vendas do peixe sem sal, que não passavam de 700 toneladas por ano, praticamente dobraram nesses dois anos. “Em 2013, pretendemos vender duas mil toneladas”, afirma Manoel Dias. O plano da Bacalhau Dias é colocar o produto no mesmo patamar de popularidade do salmão chileno. “Bom, barato e fácil de fazer”, diz Manoel Dias.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, a importação de bacalhau ficou em torno de 36 mil toneladas no ano passado, praticamente empatada com a de salmão. Comparando os dois peixes, de 2002 a 2012 a venda de salmão no Brasil cresceu 311%, enquanto a de bacalhau foi de 145%. “Queremos acelerar o ritmo de crescimento do consumo de bacalhau, a exemplo do que aconteceu com o salmão”, firma Manoel Dias. A marca comercializa sete itens no Brasil, todos dessalgados, entre eles o lombo inteiro ou desfiado, postas, carpaccio e bolinho. Neste ano, serão lançados o prato pronto com acompanhamento, bacalhau para criança e para churrasco. Noventa toneladas de produtos serão testadas em pontos de venda do Rio de Janeiro e de São Paulo. “O bacalhau vai ganhar uma nova roupagem”, afirma Manoel Dias. Para Tiaraju Pires, superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em São Paulo, todo movimento que incentive o consumo de peixe no País é bem-vindo. “O brasileiro,de fato, tem colocado um pouco mais de peixe nas suas refeições”, diz Pires.
O Ministério da Agricultura também está em busca desses consumidores. Para o ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, o País ainda vive um grande paradoxo nesse setor. “Não podemos ter tanta água e tão pouco peixe para o consumidor”, diz Crivella.
No dia 4 de dezembro, o ministro anunciou que o Plano Safra deste ano vai destinar R$ 4,1 bilhões em crédito e incentivo para aumentar a produção de pescado no País. Para Manoel Dias, nesse movimento há lugar para todos. O Brasil, que representa 20% do faturamento da Bacalhau Dias, tem potencial para se tornar seu principal mercado. “Todas as cadeias de carnes, como o frango, os bovinos e os suínos, já ganharam muito com o Brasil”, afirma Manoel Dias. “Agora é a vez dos pescados.”