01/08/2009 - 0:00
“Quanto melhor for o agricultor, mais eu vou reconhecê-lo na hora de comprar ” Leonardo Miyao, diretor comercial de FLV do Grupo Pão de Açúcar
Vilma: para a consumidora, o programa é uma segurança a mais
Tudo começou com um impasse no ano de 2002. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) detectou que o morango que seria vendido em Pernambuco tinha resíduos de agroquímicos além do permitido. Com a constatação, o Pão de Açúcar foi impedido de comercializar a fruta. O ocorrido fez o grupo lançar um programa nacional de controle de resíduos e estreitar ainda mais o relacionamento com o produtor. “Quando surgiu a discussão sobre segurança alimentar, principalmente pela questão do uso de agrotóxicos, percebemos que precisávamos de controles efetivos de qualidade dos alimentos e vimos que a melhor forma era tratar diretamente com quem produz”, diz Leonardo Miyao, diretor comercial de frutas, legumes e verduras (FLV) do Grupo Pão de Açúcar. Com um movimento de 100 mil toneladas de frutas, legumes e hortaliças por mês, o grupo percebeu que corria um risco de abastecimento enorme, se não estivesse ligado à cadeia produtiva.
Amaral: até então, ele não se preocupava com a origem dos alimentos
“Só para se ter uma ideia, em uma oferta de batata em São Paulo, eu posso precisar de 800 toneladas. É uma quantidade muito grande para uma compra pontual. Se eu vou ao Ceasa, eu inflaciono o mercado. Tenho que ter uma programação com quem produz para garantir este volume”, diz o diretor.
A solução encontrada foi integrar os controles já existentes e beneficiar os produtores com melhores desempenhos. Para isso, o Pão de Açúcar disponibiliza uma ficha técnica com o padrão desejado para cada produto. Todas as informações estão ali: calibre, coloração, variedade, etc. “No passado, atender ou não à ficha técnica era algo que íamos administrando, hoje não. Para ser fornecedor, o agricultor tem que fazer parte do programa”, explica Miyao. Lançado em 2004, até agora o programa já consumiu R$ 3 milhões. Cada agricultor tem um cadastro online que vai alimentando com informações da lavoura: quais defensivos foram utilizados, quando foram feitas as aplicações, etc. Há também o Controle de Desempenho de Fornecedor (CDP), que abrange os quesitos da ficha técnica, análises de resíduos químicos e microbiológicos e auditoria de campo. Tudo é rigorosamente controlado.
Viera: como cliente, ele gostou de saber a procedência do produto que está comprando
Antes de mandar sua produção para as Centrais de Distribuição (CD), o produtor informa via web as características do produto enviado. “Todo o dia no CD tem um sorteio. Se aquele produtor for sorteado, coletamos uma amostra e fazemos a análise. Além disso, confrontamos as informações que ele passou com as que temos em mãos”, diz o diretor.
O mecanismo foi uma forma de identificar os agricultores com as melhores práticas agrícolas e recompensá- los por isso. Como? Por meio de participação. “Quanto melhor ele for, mais eu vou reconhecê-lo na hora de comprar”, explica Miyao. Foi o que aconteceu com Rafael Proença Coelho da Silva, produtor de tomate no sudoeste paulista. Sempre atento às boas práticas agrícolas, ele tem visto ano após ano o volume de pedidos do Pão de Açúcar aumentar. “Hoje, ele é meu melhor cliente e representa 70% das minhas vendas”, diz. E engana- se quem pensa que o programa encerra-se nessa fase. “Comecei a pensar: a gente faz todo este trabalho, desenvolve fornecedor, toma todos estes cuidados com segurança e o produtor não fica sabendo?”, relembra Miyao.
Foi quando surgiu a ideia do site www.qualidadedesdeaorigem. com.br. Com a ferramenta, o consumidor consulta o código de barra e tem todas as informações sobre o produto. Os clientes aprovaram a novidade. “É uma segurança a mais para mim”, diz Vilma Garrido Moreira. Já para Saulo José Vieira o que chamou atenção foi a procedência: “Antes eu não sabia de onde vinha”. E há ainda aqueles, como Marcelo Amaral, que não tinham pensado a respeito. “Nunca me preocupei com isso. Mas é uma iniciativa bacana. Vou procurar me informar sobre o que estou comendo”, diz.