Cultuada há mais de cinco mil anos nos Andes bolivianos, a quinoa era a base da alimentação dos povos incas. Rico em proteína, o grão sagrado, como era chamada a quinoa, vem ganhando fama no mercado internacional e se tornando presença obrigatória em restaurantes de alta gastronomia. No próximo ano, o grão deve ganhar ainda mais repercussão. A Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que 2013 será o Ano Internacional da Quinoa, por sua importância no combate à fome no mundo. Segundo o brasileiro José Graziano, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a entidade vai promover o grão em todo o mundo. “A riqueza dessa planta está no conhecimento acumulado pelos andinos”, disse Graziano.

A Bolívia, que é o maior produtor e responde por 70% da quinoa consumida no mundo. Desde 2010, o país duplicou sua produção de 22 mil toneladas para 44 mil toneladas, ocupando uma área de 70 mil hectares de cultivo. As exportações saltaram de oito mil toneladas para 26 mil toneladas, o que deve gerar uma receita de US$ 75 milhões neste ano. Mas esse crescimento tem seu lado negativo. O preço do grão triplicou nos últimos cinco anos e o consumo interno caiu mais de 30%. Nos supermercados de La Paz, a capital do país, um quilo de quinoa custa quase US$ 5, enquanto um quilo de arroz sai por US$ 1. A demanda por quinoa também gerou disputa por terras na Bolívia. No primeiro semestre deste ano, vários conflitos já ocorreram em Potosí e Oruro, as duas principais regiões produtoras do país.

No Brasil, a quinoa está longe de ser um grande cultivo. No início da década de 1990, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Cerrados) de Planaltina (DF) chegou a investir em um programa de melhoramento da semente do cereal, mas em 2006 ele foi abandonado. Porém, o pesquisador Carlos Spehar, na época coordenador do programa, ainda estuda a planta, agora no projeto Formação de Banco de Sementes, na Universidade de Brasília (UnB). Segundo Spehar, o Brasil tem potencial para produzir o grão. “Precisamos de mais pesquisas para adaptar a semente às nossas condições”, diz. Como já ocorreu com a soja no Brasil.