Por Alexandre Inacio

Um dos grandes entraves para o crescimento mais acelerado de projetos de restauração florestal com foco na emissão e comercialização de crédito de carbono é a disponibilidade limitada de linhas de crédito no mercado financeiro. Isso porque, as terras dadas como garantia no financiamento, em sua imensa maioria, têm um valor de mercado inferior ao montante dos recursos solicitados — afinal, são áreas degradadas. Além disso, a geração de caixa desses projetos é uma promessa futura, depois que as áreas estiverem devidamente recuperadas, replantadas e os créditos passíveis de serem emitidos. Diante de tantas incertezas, o mercado financeiro ainda se mostra cauteloso com os projetos que fazem parte da nova economia.

Mas há quem esteja encontrando soluções para driblar esses entraves. Perto de completar dez anos de vida, a Radix Investimentos Florestais está transformando um simples projeto de plantio de madeira tropical em um empreendimento que tem a meta de retirar da atmosfera 21 milhões de toneladas de carbono nos próximos 50 anos. Com a expertise de quem criou o primeiro crowdfunding florestal do mundo, a empresa que cultiva 150 hectares de mogno africano em Roraima quer superar a marca de 50 mil hectares plantados com um novo modelo de negócio.

Áreas cultivadas com mógno africano passarão a dividir espaço em Roraima com espécies nativas da Amazônia em novo modelo de negócio a partir de 2025 (Crédito:Divulgação )
(Divulgação)
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O plano é seguir com o plantio do mogno que, em média, leva 20 anos para estar no ponto de colheita. No entanto, a partir do quinto ano depois de o mogno ser plantado, tem início o processo de transformação da floresta, onde espécies nativas da Amazônia começam a ser plantadas. São essas espécies originárias do bioma amazônico que vão gerar a adicionalidade necessária para a emissão e comercialização dos créditos de carbono.

“Estamos plantando espécies como castanha, paricá, andiroba, guanandi, que podem ser exploradas economicamente sem que sejam derrubadas. Esse é um sistema misto, que teve a prova de conceito realizada em 2022, com financiamento de R$ 1,3 milhão por parte do Fundo Vale”, disse à DINHEIRO Gilberto Derze, cofundador da Radix.

No curto prazo, o plano da Radix é passar dos atuais 150 hectares para 200 em 2025, dobrar de tamanho em 2026 e chegar aos 2 mil hectares em 2030. Para os dois primeiros anos, as áreas em Rondônia já estão devidamente mapeadas. A viabilização do projeto depende da captação de R$ 30 milhões que a empresa pretende levantar junto a investidores e no mercado financeiro, seja por meio da venda de participações na empresa – equity – ou emissão de dívida. “Esse é um novo formato inovador de financiamento, pois o cultivo do mogno oferece uma garantia melhor ao investidor do que simplesmente a terra degradada que é adquirida”, disse Derze.

Da esq. à dir., Rayane Soares, Elisangela Pantoja, Alessandra Santos, Gilberto Derze (fundador) e Jonathan Pereira em área de reflorestamento da Radix, Investimentos, em Roraima (Crédito:Divulgação )

Para levantar os recursos, a empresa aposta na experiência adquirida nos seus primeiros anos atuando apenas na compra de terras para o plantio de mogno e na regulamentação do mercado de crowdfunding de investimentos no Brasil• Em 2022, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) criou novas regras para o setor com a publicação da Resolução CVM 88, que revogou a Instrução CVM 588, que regulamentava o segmento de 2017.
• O objetivo da autarquia foi expandir as operações de financiamento coletivo no Brasil, criando diretrizes e exigências mais claras para as plataformas e empreendedores interessados no modelo. E não foi por acaso.
• Em 2016, quando ainda não havia regulamentação, os crowdfunding levantaram R$ 8 milhões. Entre 2020 e 2021, os fundos coletivos captaram R$ 180 milhões, subiram para R$ 200 milhões em 2023 e podem superar R$ 1 bilhão em 2024, após as novas regras da CVM.

Até agora, a Radix já levantou R$ 7 milhões em 10 ofertas públicas para pouco mais de 1 mil investidores para fazer o reflorestamento de áreas degradadas com uma espécie considerada exótica aos biomas brasileiros. Com a meta de chegar a R$ 30 milhões, a empresa quer ir além da produção de madeira e entregar aos investidores créditos de carbono e áreas restauradas com espécies nativas. Um modelo de negócio bom para o ecossistema e menos arriscado para o mercado financeiro.