O Vasco precisou de apenas uma partida para mostrar que pode ser um time bem diferente do que foi visto no primeiro semestre de 2020.  Os protestos na redes sociais em março – contra o rendimento da equipe -deram lugar à esperança no início desta semana. O torcedor viu um grupo mais organizado, agressivo, com poder de fogo, variações táticas e, acima de tudo, vitorioso. O elenco é o mesmo, mas a mudança em campo ficou nítida.

Nos últimos quatro confrontos do Vasco, antes da paralisação do futebol devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), foram três empates e uma derrota, com apenas um gol marcado. A vitória por 3 a 1 contra o Macaé foi construída nos 45 minutos iniciais, com possibilidade de ampliar o placar no segundo tempo. O treinador Ramon Menezes é apontado como o grande responsável pelo novo Vasco. Apesar de ter sido apenas a primeira partida, o próprio técnico reconhece que o time correspondeu a seus pedidos.

“Eu enxergo o futebol como uma construção. Muito pouco tempo de trabalho e houve um entendimento de uma ideia e de mudança de comportamento muito interessante. É lógico que tem que ter os pés no chão, mas eu saio satisfeito, com mais vontade de continuar trabalhando, fazendo essa equipe crescer. Esse é o meu objetivo, é a minha vontade dentro do clube”.

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Ramon cresceu na base do Cruzeiro, mas é ídolo do Vasco. O ex-jogador meio-campista conhece o ambiente que o cerca. Em 1997, jogando ao lado de “crias” de São Januário – Carlos Germano, Felipe, Pedrinho e Edmundo – Ramon foi um dos protagonistas da equipe mais vitoriosa da história do Cruzmaltino, time que conseguiu mesclar a juventude de joias da base com atletas mais experientes. Hoje, no comando do time, Ramon quer repetir a fórmula a partir deste ano.

“O Vinícius é um jovem jogador, muito promissor. Ele precisa ser condicionado, orientado, e ele conseguiu fazer várias jogadas. Temos o Lucas Santos, que pode fazer essa função também. É um jogador que, talvez há um ano atrás [tivesse] mercado até para [jogar] fora do país,. Ele tem tudo para voltar a ser o Lucas Santos que a gente espera. Nós temos o Gabriel Pec, que terminou o Campeonato Brasileiro do ano passado muito bem. Nós temos jovens jogadores que precisam ser trabalhados, estão sendo trabalhados e orientados. O Talles Magno hoje é uma realidade, ele vai crescer pois está vindo de lesão. Você vê o crescimento do Andrey. O Bruno Gomes não teve oportunidade de ficar no banco porque teve um probleminha”.

Ramon Menezes, técnico do Vasco

No fim de 2019, Ramon  tirou a Licença Pro da CBF, graduação máxima de curso de técnicos no Brasil – Rafael Ribeiro/Vasco/Direitos Reservados

 

Além da experiência dentro de campo, Ramon ocupava a função de auxiliar-técnico do Vasco desde janeiro de 2019. O novo treinador conhece bem o elenco que tem nas mãos e, já na primeira partida, mostrou que pretende contar com todos. Fellipe Bastos foi titular. Antes afastados, Bruno César e Cláudio Winck entraram no decorrer da partida. A tendência é dar oportunidades, como Ramon explica.

“Uma coisa que eu acho importante dentro do futebol é você entrar em campo e saber o que você vai fazer e como fazer. O Fellipe entendeu muito bem isso. É um jogador com brilhante parte técnica, tem um chute muito bom de fora da área e enxerga como poucos o jogo de frente. Ele vem crescendo na parte física. O Marcos Júnior entrou, o Raul, ainda não temos a presença do Werley, do Guarín, que é um jogador muito importante. O Bruno César que vem bem nos treinamentos e hoje cumpriu sua função. Lá na frente nós temos o Ribamar, enfim, tá todo mundo atento e pronto pra jogar”.

Há mais um componente que pode explicar a mudança inicial do Vasco: a capacitação. Ramon Menezes tem apenas 47 anos, mas antes de chegar ao clube já havia treinado Joinville, Anápolis e Tombense. No fim de 2019, tirou a Licença Pro da CBF, graduação máxima de curso de técnicos no Brasil. O comandante cruzmaltino colocou em prática os estudos e o Vasco passa a ter novas opções.

“Tivemos pouco tempo para trabalhar, mas houve algumas variações. Eu, conhecendo o elenco, facilita. Quando o Winck entrou adiantamos o Pikachu para a segunda linha, pois ele tem muito potencial para jogar na segunda linha. Eu acho que o futebol é isso. O futebol é você criar algumas alternativas, variações de acordo com o adversário, o estudo do adversário,  aquilo que você sabe a respeito do adversário e o que você está vendo ali. Nós estamos trabalhando neste sentido”.

Foi apenas a primeira vitória de Ramon no Vasco. Além do final do Campeonato Carioca, há ainda um Campeonato Brasileiro inteiro pela frente, a Copa Sul-Americana e a Copa do Brasil em 2020. O sucesso do técnico em São Januário vai depender de outros fatores como ambiente político em ano de eleição, pagamento de salários atrasados, insatisfação do elenco e reação após resultados negativos, por exemplo. Entretanto, hoje, o torcedor vascaíno tem esperança e vai acompanhar o confronto da próxima quinta-feira (2 de julho), às 20h, contra o Madureira, com outro ânimo.

 

 

Ramon muda a cara do Vasco e dá esperança à torcida