08/05/2022 - 17:00
Em pouco menos de um ano, a empresária Natasha Gaspar já adquiriu computador, garrafas de vinho, roupas, sapatos, itens de supermercado, passagens de ônibus, pacotes de viagem e muito mais, tudo isso de empresas que oferecem o sistema de recompensa por cashback, do inglês “dinheiro de volta”. Usuária assídua de plataformas que oferecem esse benefício, ela conta que, por essas compras, já conseguiu receber de volta mais de R$ 2 mil.
Assim como Natasha, milhares de brasileiros vêm aderindo a esse modelo de compras que oferece retorno porcentual imediato em dinheiro. Para especialistas, o crescimento desse tipo de negócio no País vai ganhando o espaço que antes era dos programas de pontos no cartão de crédito, ou serviço de milhagem. “Sempre que vou fazer uma compra online, vejo se o cashback é vantajoso. Uso várias plataformas e o programa do meu cartão de crédito”, conta. “Às vezes, nem estou precisando de nada, mas entro no site para dar uma ‘olhadinha’ e acabo comprando algo”, acrescenta.
Para Myrian Lund, educadora financeira da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), apesar de atrativo, o uso do cashback precisa ser feito com consciência e planejamento. Ela alerta que é comum o caso de consumidores que, “enfeitiçados” pela ideia de retorno imediato, acabam gastando mais do que deveriam, ou até pagando mais caro por um determinado produto por conta do benefício.
Ainda na opinião da especialista, a presença do cashback foi impulsionada pelo crescimento do e-commerce durante a pandemia e por um serviço que olha para as camadas baixas da sociedade, com consumidores de menor poder aquisitivo. “Antes, muitos clientes acabavam nem usando as milhas acumuladas, por não ter o suficiente para conseguir viajar com elas. Com o cashback, até as menores compras trazem uma sensação de recompensa”, ressalta Myrian.
RETENÇÃO DE CLIENTES. Para Carlos Netto, fundador e CEO da empresa de soluções e produtos financeiros Matera, o cashback funciona como uma solução para as marcas reduzirem o custo de aquisição de novos clientes. “Para as empresas, o cashback é um mecanismo de estímulo de vendas. Quando você paga, o resultado do investimento de marketing das empresas é materializado. Assim, ele é sustentável. Mas há também o cashback que é feito queimando capital, depende da empresa”, diz.
Quem pretende se aventurar no mundo do cashback precisa ficar atento a algumas informações importantes. Na hora de efetuar a compra é preciso levar em consideração as regras de cada companhia que oferece o serviço, entre elas o porcentual de retorno, o prazo para compensação do valor a receber e o período de validade dos créditos.
Segundo os especialistas ouvidos pelo Estadão, os consumidores devem seguir algumas regras de educação financeira para não transformar o que seria um benefício em uma armadilha, evitando compras por impulso e pesquisando empresas que oferecem o melhor benefício.
Modalidade alcançou R$ 10 bi em vendas no comércio virtual em 2021
O uso do cashback no comércio eletrônico nacional gerou em 2021 um faturamento de R$ 10 bilhões, quase o dobro do registrado em 2020, segundo levantamento da empresa Cuponomia. “A pandemia fez o e-commerce crescer e puxou o cashback junto. Quem usa conta para os amigos, o que gera um crescimento exponencial”, diz Ivan Zeredo, diretor de marketing do Cuponomia.
Nascido no mundo digital, o benefício avança para as lojas físicas com os cartões de crédito. No Nubank, o cashback é oferecido a quem opta pelo modelo Ultravioleta, com 1% da fatura convertido em dinheiro de volta, que passa a render a 200% do CDI. “Oferecemos total flexibilidade para o cliente usar esse cashback da maneira que melhor entender”, afirma Rusen Baragiola, líder da área de cartões do Nubank.
O coordenador de mídias sociais Gustavo Gusmão estima que irá acumular R$ 663 em um ano. “Escolhi o cartão por causa do rendimento e pelo saldo nunca expirar, diferente das milhas aéreas”, diz.
O benefício, antes mais ligado às fintechs, já aparece nos “bancões”. O Santander passou a oferecer cashback aos seus clientes no ano passado. No Itaú, o serviço é encontrado em alguns cartões. “Nos bancos o foco era a média e alta renda. Com os bancos digitais, os tradicionais precisaram se mexer para não perder clientes”, diz Myrian Lund.
Pioneira no País, a Méliuz atua há mais de dez anos no setor. No início, a companhia precisou explicar que o cliente não pagaria a mais pelo benefício. “O custo para o anunciante é reduzido em relação a anúncios em redes sociais porque ele só existe se houver venda, e o consumidor recebe uma parte da compra”, afirma Malu Tolentino, gerente de desenvolvimento de negócios no e-commerce. A empresa hoje conta com cartão de crédito que dá cashback em compras no varejo físico e virtual, com retorno que varia conforme a loja.
O aplicativo de carteira digital RecargaPay vende um plano de assinatura que dá cashback a cada pagamento. Para o assinante, em uma estimativa de gastos com cartão de crédito, sendo R$ 150 em recarga de celular, R$ 100 em bilhete de transporte e a
Disseminação Nascido no mundo digital, benefício avança para lojas físicas, via cartões
compra de botijão de gás a R$ 112, o cashback pode chegar a quase R$ 30 do total gasto. Além disso, o pagamento de contas acima de R$ 20 com a carteira digital gera até R$0,60 de retorno por boleto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.