Concentrado na soldagem de uma grade de ferro, Hernandez Lopes, de 47 anos, faz questão de deixar a toalha estampada com o rosto do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pendurada no muro de sua casa, no bairro popular do Caípe, em São Francisco do Conde (BA). “Não é só a picanha… Você comia o que tinha vontade e não tinha que se preocupar com o que, no outro dia, ia colocar na panela”, afirmou. Ele lembra, ainda, dos eletrodomésticos que pôde comprar na época (com a isenção do IPI) e da oportunidade que os dois filhos tiveram de entrar na universidade. Ambos estudaram Engenharia.

Assim como ele, 20.955 eleitores de São Francisco do Conde deram 81,68% dos votos válidos a Lula no primeiro turno, ante os 13,03% de Jair Bolsonaro (PL). A vantagem não é isolada na região. No Recôncavo Baiano, dos 20 municípios, nove deram mais de 80% de votos a Lula; outros nove mais de 70% e somente dois somaram mais de 65%. Na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do País, o placar foi 69,73% a 24,31%.

São Francisco do Conde é emblemática do ponto de vista histórico e político. Fundada em 1698, tem casarões defronte à orla que lembram o passado colonial da região, que vivia dos engenhos de açúcar e mandioca com mão de obra escrava. Por isso, a região é a de maior concentração de negros no Estado.

A beleza do centro, contudo, esconde a pobreza e desigualdade de bairros periféricos, como o Caípe, onde mora Hernandez. De lá, avista-se a antiga Refinaria Landulpho Alves, fundada em 1950, que foi privatizada no ano passado – o que resultou em aumento do preço da gasolina no Estado.

A refinaria é responsável pela arrecadação da cidade, que recebe royalties e repasses do ICMS, o que faz o município ter uma das maiores rendas per capita do País. Essa riqueza, contudo, não se traduz em benefícios para a população mais pobre.

Lulista de carteirinha, José Raimundo de Jesus, de 56 anos, disse que os eleitores da região lembram dos benefícios econômicos e sociais que tiveram nos mandatos de Lula. Ele citou também a implementação do câmpus da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) no município, inaugurada em 2014. Para José, a atenção dada pelo ex-presidente não foi esquecida.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.