07/03/2023 - 20:15
O ano de 2022 foi bem complicado para a produção de soja e milho em todo o mundo. As duas principais commodities agrícolas enfrentaram problemas de quebra de safra tanto na América Latina, com destaque para Argentina e Brasil, como também nos Estados Unidos. O fenômeno climático La Niña afetou as lavouras argentinas e brasileiras, com menores índices de chuva. Somado a isso, ainda houve percalços com a guerra na Ucrânia, que elevou os custos da produção, e a política de Covid Zero na China, principal compradora mundial de grãos.
Diante dos problemas, os estoques globais de grãos caíram e os preços das commodities subiram, o que animou os produtores brasileiros a investir na ampliação do plantio. Assim, a perspectiva para a lavoura da soja é aumento de até 4,8% na área plantada neste ano, chegando a 43,46 milhões de hectares, considerado recorde. E aumento de 21,6% na produção para 152,7 milhões de toneladas.
A produção brasileira de milho também deve alcançar um volume histórico, com 125 milhões de toneladas, 12 milhões a mais do que no ciclo anterior. O Brasil ainda pode acabar ocupando espaços deixados pela Ucrânia, grande produtor, e pelos Estados Unidos que enfrentam dificuldades para os embarques de cereais devido à baixa do nível do Rio Mississipi, uma das principais vias de transporte do produto.
“A queda na safra elevou os preços do milho e da soja, garantindo margens recordes, o que animou os produtores a investir em aumento do plantio”, disse a analista do Rabobank, Marcela Marini. Assim, a área total plantada para a próxima safra de milho, somando a de verão e a safrinha, deve atingir o recorde de 22,3 milhões de hectares, alta de 3,5% em comparação ao ciclo anterior, de acordo com levantamento feito pelo banco.
INTERNACIONAL Para o próximo ciclo, o volume de esmagamento na China deve ser similar à safra anterior, entre 93 e 96 milhões de toneladas, o que deve provocar aumento de demanda externa por parte do país, maior consumidor e esmagador mundial de soja. O movimento chinês acontece em um momento em que o volume embarcado pelos Estados Unidos e ainda é irregular. Neste contexto, será mais difícil a recomposição dos estoques globais da oleaginosa, que dependerão da safra que será colhida pela América do Sul em 2023.
Questões geopolíticas também devem continuar impactando o mercado do milho. A situação, que já era de ameaça de desabastecimento devido aos problemas decorrentes da Guerra da Rússia contra a Ucrânia, importantes produtores de ambas commodities, ficou ainda mais delicada após a seca observada no Rio Mississipi que prejudicou o escoamento dos grãos norte-americano. O resultado final para o Brasil é um provável e bem-vindo aumento dos volumes de exportação desses produtos.
Seja no exterior ou no Brasil, a grande ameaça a ser observada é a mudança climática. “É importante ressaltar que ainda há riscos em relação ao clima, porque há grandes chances de 2023 repetir a seca do ano passado”, afirmou a especialista em grãos do banco holandês. Por isso, ela acrescenta que será preciso acompanhar bem de perto o desenvolvimento das lavouras brasileiras, com o avanço do plantio.
Na receita para este ano, ingredientes que o produtor rural brasileiro já domina: gestão, tecnologia e resiliência para fazer o trabalho chegar aos portos, porque uma vez no oceano mercado para as commodities nacionais não faltará.