A conjunção entre governismo e abundantes recursos públicos é uma das explicações para o desempenho dos partidos que compõem o Centrão nas eleições deste ano. A avaliação é de Carlos Ranulfo, professor e coordenador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para Ranulfo, além da força do bolsonarismo, o avanço do Centrão pode ser explicado também pelo uso da máquina pública por esses partidos, impulsionado nesta legislatura pelo recebimento de valores de emendas do orçamento secreto.

“Essas duas coisas estão juntas, mas, claro, depende da região. O PL elegeu muitos deputados do Nordeste, isso aí certamente é a força do bolsonarismo. Em uma região lulista, o PL conseguiu avançar”, observou o professor.

Com o avanço de legendas como o PL, que, com 99 deputados, conquistou o maior número de cadeiras na Câmara, o Centrão terá ainda mais dinheiro do fundo eleitoral para consolidar espaço no Legislativo. O valor destinado a campanhas é distribuído entre os partidos com base no número de votos dos candidatos no último pleito. Este ano, os valores repassados para as siglas do fundo eleitoral somaram R$ 4,9 bilhões. As bancadas eleitas no Congresso definem também o tamanho da fatia do Fundo Partidário, outra fonte de recursos das legendas.

Ao mesmo tempo que contribuiu para o Centrão conquistar mais espaço no Congresso e nas Assembleias Legislativas, o avanço do grupo alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pode criar tensões dentro do próprio bloco, segundo Ranulfo. “Acho que pode haver tensões dentro dele à medida que o ‘bolsonarismo raiz’ cresce e ameaça tomar o lugar do Centrão ‘mais clássico'”, disse o pesquisador da UFMG.

Neste contexto, ele destacou que conversas para uma possível fusão entre o União Brasil e o PP, por exemplo, indicam um contraponto ao PL de Bolsonaro no Congresso e nos Legislativos pelo País.

ENCOLHIMENTO

Além de marcar um avanço das legendas do Centrão, a eleição deste ano atingiu em cheio partidos como PSDB e Cidadania, além do Novo, que sofreram redução no número de seus candidatos eleitos. O fenômeno, na avaliação de Ranulfo, pode ser explicado pela predominância de Bolsonaro sobre o eleitorado deste segmento político, o que contribuiu para o esvaziamento de legendas de centro-direita. “Em vez de você ter centro-esquerda e centro-direita, você vai ter centro-esquerda versus direita, essa direita conduzida pelo Bolsonaro.”

A situação poderia mudar, segundo ele, com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência, que obrigaria alas mais pragmáticas do Centrão a negociar com o petista. “Não consigo imaginar esses deputados mais próximos, que são mais fiéis ao Bolsonaro, dialogando com o Lula. Mas eu consigo imaginar perfeitamente Arthur Lira, Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto. Já dialogaram, já estiveram em governos do Lula.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.