RAÇA FORTE: Isabel Penteado posa ao lado de Galante, um de seus principais reprodutores

Eles desembarcaram no Brasil em 1534, em uma caravela comandada por Martim Afonso de Souza e logo conquistaram seu espaço. Utilizados pelos portugueses como verdadeiros ‘tratores’, os touros da raça caracu ajudaram a abrir estradas e foram fundamentais na colonização do País, fornecendo leite, carne e couro aos patrícios em seus primeiros anos nas Américas. Tempos depois, em 1869, também ajudaram o coronel João Carlos Leite Penteado a desbravar uma fazenda na cidade de Santa Cruz das Palmeiras, distante 300 quilômetros da capital paulista.

Depois de usar os caracus para desmatar uma área de mais de 1.100 hectares, Penteado ainda aproveitou os animais na lavoura de café, utilizandoos para puxar o arado e semear a terra. Até o esterco era aproveitado para melhoria do solo, o que os tornava indispensáveis para o trabalho. Anos se passaram, os animais se multiplicaram e, em 1905, a família começou oficialmente a criar o gado caracu, que segue na Fazenda Aurora até os dias de hoje.

R$ 4 MIL é o preço médio pago por um touro caracu. Segundo a criadora, é um negócio rentável

Agora, sob o comando de Isabel Penteado, 64 anos, tataraneta de João Carlos Leite Penteado, a criação segue de vento em popa, contando apenas com animais puros de origem, mas de uma forma bem mais profissional. Com o apoio da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP e da Embrapa, o plantel está passando por um programa de melhoramento genético que já vem trazendo ótimos resultados e, principalmente, prêmios em exposições por todo o Brasil.

PURA TRADIÇÃO: criadora orgulha-se dos prêmios recebidos por seus animais desde 1917

Contando com cerca de 450 animais em seu criatório, Isabel Penteado diz que a raça só não é mais valorizada porque sofre com o preconceito de alguns pecuaristas, mas que não perde em nada para os concorrentes. “O nelore é muito forte no Brasil, mas o caracu tem todas as qualidades do nelore e mais uma, que é o sangue europeu”, afirma a criadora, lembrando que, por ser um Bos taurus, a raça tem a carne muito mais macia e saborosa devido ao marmoreio. “Eles têm medo da concorrência”, brinca.

Mesmo contando com plantações de cana-deaçúcar, soja, laranja, sorgo e milho em sua propriedade, ela garante que não cria caracu apenas pela tradição. Segundo Isabel Penteado, a atividade é muito rentável. Robustos e adaptados às condições brasileiras, todo o rebanho é alimentado apenas com pasto natural, como manda a tradição, e mesmo assim o tempo de engorda é relativamente curto. Quando adultos, os animais, que podem pesar mais de uma tonelada, são vendidos por R$ 4 mil, em média. O grande filão, entretanto, é a venda de embriões e sêmen dos animais campeões, como do touro Galante (na foto), um dos principais reprodutores da fazenda.

Com tantas qualidades, o caracu já vem despertando até o interesse de pecuaristas de outras partes do mundo. “Recebi um criador de Angola recentemente que queria formar um plantel na África. Ele ficou encantado com a raça e queria levar todos de uma vez”, conta a proprietária, que ficou de estudar o negócio. “Sugeri que ele levasse alguns animais agora e depois passasse a comprar apenas minha genética.”

O interesse do angolano pela raça se explica pelo fato de a África ter as mesmas condições climáticas do Brasil, onde o caracu já está completamente adaptado. Em Angola, os animais da raça ainda poderão ser muito úteis também na produção de leite, atividade hoje pouco explorada por aqui.

Nicholas Vital, de Santa Cruz das

Palmeiras – SP