16/02/2022 - 17:39
Perspectiva-2021/2022
O desempenho da lavoura de laranja em 2022 não deve ser tão parecido com o que se viu no ano passado. E nem no anterior. Muito por conta da pressão dos efeitos climáticos sobre os pomares. É o que mostra o relatório de Perspectivas para o Agronegócio do Rabobank, que prevê uma colheita inferior a 270 milhões de caixas. Mais pessimista é o levantamento do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), feito em parceria com a FEA-RP/USP e a FCAV/Unesp, que indica pouco mais de 264 milhões de caixas no cinturão citrícola que envolve o estado de São Paulo e o Triângulo Mineiro, onde está quase toda a produção nacional da fruta.
Esse cenário desafiador começou ainda em novembro de 2020, quando São Paulo enfrentou uma seca inesperada bem na fase em que os pomares passavam das flores para a formação de frutos. Com a queda da primeira florada, toda laranja que seria produzida se perdeu, e a safra 2020/21 gerou apenas 269 milhões de caixas, abaixo das 300 milhões necessárias para a colheita ser considerada de bienalidade positiva. “Por conta do clima, já sabíamos que não haveria uma produção de 300 milhões de caixas”, disse o presidente da CitrusBr, Ibiapaba Netto. “A última grande colheita do setor foi em 2019/20, com a marca de 388 milhões de caixas.”
Entre os meses de maio e junho do ano passado, veio um segundo período sem chuva. E logo em seguida os pomares enfrentaram duas geadas. “Tudo o que poderia ter acontecido de ruim com o clima aconteceu”, afirmou Netto. De acordo com o Fundecitrus, as consequências graves da seca só começaram a ser amenizadas em outubro, único mês desde o início da safra em que as chuvas superaram a média histórica. Seguindo o fenômeno da bienalidade, esperava-se que a segunda safra de 2021 apresentasse números melhores que os da anterior.
O setor de laranja encerrou 2021 com uma safra, no mínimo, desafiadora em relação aos eventos climáticos e a suas consequências. Os pomares do Sudeste brasileiro passaram por períodos de significativo estresse, impactando as perspectivas de produção. Com a oferta limitada, o preço da laranja se manteve em patamares elevados ao longo do ano, o que ajudou os produtores a, pelo menos, compensarem as perdas.
Para o analista de pesquisa do Rabobank, Andrés Padilla, “os solos dos pomares ainda estão em situação de estresse, consequência das secas e geadas enfrentadas ao longo de 2020 e 2021”. Será difícil alcançar uma safra significativamente alta em 2022, tendo em vista todos os problemas hídricos. “Os pomares passaram por dificuldades, o esperado é uma safra semelhante a do ano passado”, disse o especialista. O mais provável é que se confirme uma sequência de três safras menores.
Como o desempenho das plantações ainda depende de vários outros fatores, é preciso ter muita cautela com o manejo da lavoura durante este ano. A infestação do greening está entre as principais preocupações dos citricultores, pois a doença vem impactando muitos pomares no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo Mineiro, e limitando a produção. Segundo o monitoramento realizado pelo Fundecitrus, a incidência do greening alcançou quase 22,4% dos laranjais dessa região em 2021, o que representa avanço de 7,2% sobre o ano anterior. Além disso, ainda há que se lidar com o aumento do custo dos insumos, o que tem criado dificuldades, principalmente, para pequenos produtores.