Grandes reprodutores inspiraram a artista holandesa Marleen Felius. No

Brasil, ela pincelou a história do zebu em quadros memoráveis, e imortalizou touros como Fajardo e Panagpur

 

Panagpur: o lendário touro da CRV Lagoa foi imortalizado nas telas de Marleen Felius em 2003

Qualquer semelhança com os grandes artistas plásticos Van Gogh e De Kooning não é mera coincidência. Traços, curvas expressivas e acentuadas e cores vibrantes pontuam a obra da pintora Marleen Felius. Ela buscou nestes dois ícones referências para sua arte. E, ao contrário de expressões pessoais ou retratos da vida cotidiana que caracterizavam estes dois artistas, Marleen vem dedicando suas telas aos touros e às vacas.

A tarefa de pincelar esses animais não foi fácil. No início da carreira, tinha como desafio ir além do que já era feito em seu país. “Alguns pintores holandeses já retratavam touros, mas perdidos na paisagem. Ninguém se interessava pelo animal em si”, diz. Outro desafio eram os “modelos” vivos. Impacientes, eles não paravam tempo suficiente nem para o esboço. Quanto mais para a finalização da obra. Foi então que Marleen inventou um método que dividiu em três etapas: primeiro ela fotografa o “bichinho”, depois, espalha as imagens em seu ateliê e a partir daí passa a pintar.

Criada na zona rural de Roterdã, Holanda, Marleen Felius descobriu, ainda na infância, sua paixão pelo campo e pela pintura. Vivia cercada de animais e começou a desenhá-los.

Na adolescência, decidida a se dedicar às artes plásticas, foi estudar na Academia de Belas Artes da Holanda, onde mergulhou de corpo e alma na pintura bovina.

Depois, viajou pelos Estados Unidos, México, Canadá. Visitou mostras de gado em vários países europeus. Desembarcou também no Egito e Paquistão. Foi em busca de novas raças e suas histórias. Tudo era motivo para inspiração.

Suas pinturas inovadoras, com riqueza de detalhes, ganharam fama e a projetaram internacionalmente. Em seu país, a consagração veio com o óleo sobre tela de Sunny Boy, lendário reprodutor da história da pecuária holandesa. Algumas de suas obras alcançam 12 mil euros.

 

Grandes reprodutores inspiraram a artista holandesa Marleen Felius. No

Brasil, ela pincelou a história do zebu em quadros memoráveis, e imortalizou touros como Fajardo e Panagpur

Quando aportou no Brasil, em 2000, Marleen Felius já era nome consagrado no mundo das artes. Veio a convite do compatriota Guus Laevenm, na época diretor da CRV Lagoa, central de inseminação localizada em Sertãozinho (SP). Uma década depois, já são 15 peças que embelezam as paredes da empresa.

Foi na CRV Lagoa, aliás, que Marleen descobriu Panagpur, o touro nelore campeoníssimo nas pistas e famoso pela prole também campeã. “Ele não era um animal jovem, mas ostentava um porte orgulhoso”, recorda. Estava decidida a pintá-lo. Imortalizava, ali, um dos mais consagrados reprodutores da raça, morto em 2007.

Com Panagpur retratado, a artista foi convidada a expor suas obras na ExpoZebu, em Uberaba (MG), “capital” da raça no Brasil. Marleen, então, pintou os touros campeões da mostra, oferecendo as obras para os proprietários. Não deu outra: conquistou um seleto e exigente grupo de neloristas e as encomendas começaram a chegar.

Jonas Barcellos, da Fazenda Mata Velha, de Uberaba (MG), foi um deles. Mandou “eternizar” as vacas Olímpica, Página e Sama, primeira no Brasil a ser vendida por mais de R$ 1 milhão.

Outro touro famoso que virou obra de arte pelas mãos de Marleen foi Fajardo, um ícone na história do nelore pelos prêmios, produção de filhos campeões e recorde na venda de sêmen. Morto em 2009, Fajardo tem lugar de honra na sede da CRV Lagoa, assim como outro reprodutor da central na época, o Enlevo.

Da Fazenda Jacarezinho, a artista holandesa retratou os touros Kulal e Felius, este batizado com o seu sobrenome, uma justa homenagem a àquela que conseguiu enxergar a alma desses animais e retratar como ninguém suas qualidades.

As aventuras mundo afora acabaram despertando em Marleen a paixão pela escrita. Nascia seu primeiro livro: Cattle breeds, an encyclopedia. Encantada com a pecuária nacional, a artista holandesa também resolveu escrever sobre o assunto. Em 2004, presenteou a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) com o livro O zebu do Brasil, uma história de arte. Na obra, ela conta a trajetória do zebu, através do retrato de ícones da raça.

 

Grandes reprodutores inspiraram a artista holandesa Marleen Felius. No

Brasil, ela pincelou a história do zebu em quadros memoráveis, e imortalizou touros como Fajardo e Panagpur

Olímpica da Mata velha: em três momentos, a premiada vaca do pecuarista Jonas Barcellos pintada em 2002

 

Marleen Felius: ela virou referência internacional na arte de pintar gado. No Brasil, retratou lendários touros e vacas consagradas

História do zebu:a pintora holandesa pincelou na tela a trajetória da ABCZ e da raça. Dividida em três etapas, a obra descreve diferentes épocas da pecuária zebuína no Brasil

 

Fajardo: ícone do nelore, foi o primeiro touro a ser retratado por Marleen Felius no Brasil em 2002

Kulal: touro da Fazenda Jacarezinho pintado em 2004 em tela de 90 x 120 cm

 

Enlevo: touro da CRV Lagoa, em óleo de 120 x 90 cm pintado em 2002