O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do planeta, sendo campeão na produção e exportação de uma série de cultivos. E, para preservar esse perfil, uma das principais frentes do país são os cuidados com a segurança fitossanitária em território nacional. 

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O intercâmbio de material vegetal é uma atividade constante entre os países. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estima que 80% dos alimentos que consumimos hoje no Brasil têm origem estrangeira, ou seja, foram introduzidos no país em algum momento de nossa história, como no caso da manga e do arroz, que são asiáticos, e do café, cuja origem é africana. 

Porém, a entrada de materiais vegetais, como plantas, frutas e até mesmo animais, quando realizada sem registro ou controle, pode ocasionar problemas graves, como a dispersão de organismos extremamente nocivos à economia de um país. Até mesmo uma simples semente, se contaminada, pode causar danos. 

“Temos hoje algumas doenças no Brasil que não existiam antes e, sem dúvida, vieram de fora. É o caso do míldio no girassol, uma praga que chegou ao Brasil por meio de sementes. Daí começamos a entender o porquê tem tanta fiscalização”, explica Adriana Matos, professora de Agronomia da UNA. 

Ferrugem asiática na soja e Mildio no Girassol (Crédito: Embrapa)

Com origem na América do Norte, o míldio é uma das principais doenças do girassol no mundo, devido a seu alto potencial destrutivo. No Brasil, a praga foi constatada pela primeira vez em 1982.

Nem mesmo, o principal motor do agro brasileiro conseguiu escapar. Em 2001, foi identificada pela primeira vez no Brasil a ferrugem asiática, doença que acomete a soja, tem capacidade para causar perdas de até 90% da produção se não for controlada

Evitar a entrada de pragas como insetos, fungos, bactérias, entre outros, é um o papel do sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (VigiAgro), órgão vinculado ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), composto de 102 unidades técnicas em aduanas de interior, aeroportos, postos de fronteira, portos e unidades regionais. 

“A gente sabe que a agropecuária no Brasil tem um papel socioeconômico importante, muita gente vive disso, trabalha com isso, então um prejuízo na produção, na exportação dos alimentos, acaba prejudicando toda uma população que trabalha com isso e depende disso, além de comprometer em grande escala a economia do próprio país, dependendo do caso”, explica Cleverson Freitas, chefe do VigiAgro.

Freitas citou o recente caso de gripe aviária em Montenegro, no Rio Grande do Sul, como um exemplo para a importância dos cuidados sanitários com as exportações ou importações dos alimentos do país.

“Vimos agora o que uma doença como a influência aviária pode causar. Muitos países pararam de importar carne de frango do Brasil. Apesar de não ter risco para o ser humano, prevenir doenças como essa também é proteção do mercado”, concluiu Freitas.

É papel do VigiAgro realizar a fiscalização de todos os produtos vegetais que entram e saem do país. Nas redes sociais, os vídeos que mostram os auditores fiscais do Mapa realizando essa fiscalização frequentemente viralizam.

O que pode ou não pode

Tem dúvidas sobre o que pode ou não trazer na mala quando estiver entrando no Brasil?  Montemar Onishi, diretor de Comunicação do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), elaborou uma lista, a pedido da Dinheiro Rural, pra esclarecer. Confira:

Itens proibidos:

Vegetais:

  • Frutas e hortaliças frescas (ex: maçãs, bananas, mangas)
  • Frutas secas não industrializadas ou sem identificação (damasco, tâmaras, ameixas)
  • Bulbos (ex: batatas), sementes (muitos para plantio)
  • Grãos e farinhas não industrializados e/ou sem identificação (café em grãos, arroz, feijão, lentilha, trigo)
  • Mudas e estacas; flores e plantas
  • Artesanato com produtos de origem vegetal não processados (madeiras principalmente).

Animais:

  • Produtos cárneos frescos (de animais silvestres, bovinos, aves e suínos)
  • Lácteos não industrializados (queijos diversos)
  • Produtos suínos industrializados (embutidos) diversos, presuntos crus, pata negra etc.)
  • Pescados não industriais (peixes secos caseiros, camarão, caranguejos vivos, pescados frescos); produtos apícolas
  • Animais de caça (troféus de caça e mercadorias para rituais religiosos (ratos, cabeças e membros de animais diversos).

Principais riscos zoo e fitossanitários

  • Influenza aviária (aves)
  • Peste suína africana (suínos)
  • Febre aftosa/tuberculose/brucelose (bovinos)
  • Cria pútrida americana e europeia (abelhas)
  • Síndrome da mancha branca (camarões)
  • Mosca das frutas/carambola, monilíase(cacau)
  • Besouro asiático (madeira)
  • Sigatoka negra e murcha de Fusarium (banana)
  • Cydia pomonella (maçã/pêra/castanha portuguesa)