O governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), afirmou nesta sexta-feira, 7, ao Estadão que vai usar suas redes sociais e a capilaridade da Associação Mineira de Municípios – com mais de 820 cidades – para tentar ampliar a votação de Jair Bolsonaro (PL) no Estado, o segundo maior colégio eleitoral do País. O presidente (5,2 milhões de votos) ficou atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva (5,8 milhões de votos) no Estado.

O apoio de Zema é considerado pela campanha de Bolsonaro o mais valioso neste segundo turno. O governador disse não entender o apoio dos economistas responsáveis pelo Plano Real a Lula. Afirmou ainda que seu partido, o Novo, busca fusão com outras siglas que não atingiram a cláusula de barreira. E descartou deixar a sigla, que elegeu apenas três deputados federais – nenhum em Minas.

Minas é um Estado fundamental para a definição de uma eleição presidencial. Como o senhor espera contribuir para a votação do presidente no segundo turno? Como e onde?

Nós temos em Minas uma história trágica em relação ao PT. Quem acompanha nossa história sabe que a tragédia da gestão de 2015-2018 precisa ser relembrada para que não se repita. É o que pretendo fazer para que o mineiro saiba o que foi o desastre da gestão do PT em Minas e em cidades relevantes como Uberlândia e Pouso Alegre e no governo federal. O eleitor se esquece com facilidade. Em 2015 e 2016 o Brasil foi uma exceção: conseguiu produzir recessão cavalar enquanto o mundo crescia. Única e exclusivamente devido ao PT e à corrupção. E lembrar que a ideia de prosperidade foi uma ilusão. Aquilo foi como um atleta que usa anabolizante. No começo, muitas conquistas; depois, problemas hepáticos e renais para o resto da vida. No governo Lula foi o que aconteceu: nenhuma reforma estruturante, aproveitou o que foi feito de bom no governo Fernando Henrique Cardoso e pegou o boom das commodities que o Brasil exportava, a Copa do Mundo, a Olimpíada e a descoberta do pré-sal. Não preparou o Brasil para o futuro e veio a ressaca no governo Dilma. Quero alertar o povo mineiro sobre essa tragédia que pode se repetir.

Mas como mobilizar a máquina política no Estado?

Nós temos em Minas a AMM, a Associação Mineira dos Municípios. Dos 853 municípios do Estado, mais de 820 são filiados a essa entidade que é presidida pelo Marcos Vinícius (PSDB), prefeito de Coronel Fabriciano. E os prefeitos de Minas comeram o pão e a rosca que o diabo amassou na gestão do PT. Tínhamos prefeituras que, em vez de pagar folha, distribuíam cestas básicas para funcionários, pois o PT não fez os repasses constitucionais, não repassou o ICMS, o Fundeb e outros, deixando as prefeituras quebradas. Lembramos que tudo isso foi causado pelo PT. Estamos com nossos deputados eleitos, com os partidos com que temos alianças e trabalhamos em conjunto. Eu saliento que estarei fazendo ampla divulgação. Estou usando minhas redes para poder lembrar a tragédia que foi o PT tanto em Minas como no Brasil.

Muitos prefeitos decretaram gratuidade de transporte público para facilitar o voto do eleitor. O senhor vai conversar com os prefeitos para que essa gratuidade seja mantida no segundo turno? Para que o eleitor mais pobre possa dar o seu voto e que aqueles eleitores que o senhor acredita que serão de Bolsonaro possam se deslocar até as seções eleitorais?

Sou totalmente favorável. Qualquer obstáculo ao eleitor não é bem-vindo e, para as pessoas mais humildes, o preço do transporte público pode ser um obstáculo.

O discurso antipetista do sr. é retórica para a campanha ou não? Caso Lula seja eleito, como será sua relação com o governo federal?

Em Minas temos 853 prefeitos, nenhum do meu partido. E temos um diálogo extremamente positivo e satisfatório com 95% deles. Só não temos com extremistas, que são exceção. Estamos abertos e dialogando. O governo federal preza pela questão de resolver os problemas de Minas e de outros Estados. O governo federal sabe a importância de Minas no contexto nacional. Teremos diálogo, sim, com o novo presidente, mas, para Minas, o presidente Bolsonaro será sempre melhor. Eu sempre menciono que existe uma pauta que coincide 70% com aquela do presidente Bolsonaro; com o PT essa coincidência talvez seja só de 20%. É melhor trabalhar com quem acredita nos seus princípios. No passado havia alinhamento do governo federal com o de Minas e ambos eram do PT. Esse alinhamento se mostrou desastroso para Minas. O que vale é ter bons projetos e fazer uma boa gestão. Muita coisa já está encaminhada, como o Metrô de Belo Horizonte e o edital da BR 381 e 262, que é obra importantíssima já concluída.

Os principais economistas do Plano Real, como Pérsio Arida, Pedro Malan, Armínio Fraga e outros, declaram apoio a Lula. O senhor diz que Lula foi um desastre…

Realmente eu fiquei surpreso com esse apoio, pois um candidato que quer cancelar as reformas e avanços que tiveram no País não deveria ter o crédito a que nós estamos assistindo.

Eles dizem que o que contou foi a defesa da democracia e o princípio liberal de que todos devem ser iguais perante a lei. O presidente, ao brigar com o Congresso e com o Supremo, não parece querer ficar acima da lei ou não obedecê-la, como disse que faria em alguns embates com o STF?

Então, o presidente Bolsonaro muitas vezes pode ser impulsivo nas falas e não muito feliz em colocações, mas qual ação concreta, além de palavras, ele fez para afetar a democracia? E será que esses economistas estão esquecendo que Lula sempre trabalhou lado a lado com (Nicolás) Maduro e Fidel Castro? São pessoas que prezam a democracia? Diga-me com quem andas e eu direi quem és. Eles estão ponderando isso? Acho isso muito mais perigoso do que algumas falas impulsivas que de vez em quando acontecem. O que aconteceu no passado no PT foram ações concretas pró-regimes ditatoriais. E fale se o Bolsonaro fez alguma aliança com ditadores. Pelo que eu saiba, não.

O Novo diminuiu nesta eleição, elegendo três deputados federais, não ultrapassou a cláusula de barreira e teve desempenho pior do que em 2018 na eleição presidencial. Onde errou?

Te diria que foi questão conjuntural. Tivemos uma eleição polarizada em que candidatos tiveram votação expressiva e carregaram, via voto de legenda, uma série de colegas de partido. Como o Novo não participou dessa polarização, acabou não surfando essa onda.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.