03/07/2020 - 16:38
Roraima assumiu a liderança de pior quadro no combate ao coronavírus entre as 27 unidades da federação na semana finalizada no dia 30 de junho, conforme o Ranking Covid-19 dos Estados, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP) e obtido com exclusividade pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. No ranking, criado para avaliar comparativamente como as ações dos Estados têm se refletido nos números sobre a doença, quanto maior a nota normalizada e, portanto, a classificação, pior é a avaliação no combate à covid-19. Segundo o CLP, por meio da identificação dos desafios, o monitoramento visa a mitigar os efeitos da pandemia na vida da população.
Depois de três semanas no topo, o Pará caiu para a segunda posição entre os Estados com situação mais desfavorável no enfrentamento ao coronavírus. Em terceiro, agora aparece Mato Grosso, que há duas semanas estava em oitavo. Rondônia e Alagoas fecham a lista dos cinco Estados com o pior quadro no combate à doença. Por outro lado, Santa Catarina (27º), Maranhão (26º) e Rio Grande do Sul (25º) seguem com as melhores estatísticas nos indicadores observados pelo ranking.
O CLP usa a mesma metodologia do Ranking de Competitividade dos Estados, que vai para sua nona edição este ano, para sistematizar nove indicadores semanalmente, analisando tanto o nível quanto à tendência da doença nos Estados e no País: a proporção de casos confirmados, a evolução dos casos (em escala logarítmica) e a taxa de mortalidade de Covid-19, conforme números do SUS, assim como os mesmos indicadores para Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), fornecidos pela Fiocruz. O Índice de Transparência da covid-19, da Open Knowledge Brasil, e os dados de isolamento social, do Google, completam os indicadores analisados no ranking. Desses, os dados oficiais de coronavírus e de SRAG, sintoma mais grave da doença e tratado como indicio de subnotificação, têm maior peso.
“Roraima acompanhou a ‘viagem’ da covid-19, com o epicentro passando do Amazonas para o Pará, e agora subindo”, diz o Head de Competitividade do CLP, José Henrique Nascimento, destacando o movimento de propagação do vírus entre Estados vizinhos, que têm maior fluxo de moradores. “Roraima chegou em um estado complexo, para não falar calamitoso. Teve um aumento significativo nos números de covid-19 e de SRAG ao longo das últimas duas semanas e também tem a pior evolução relacionada ao coronavírus. A covid-19 está avançando de forma tenebrosa no Estado, que tende a se manter nessa posição, tendo em vista esse aumento significativo em sua curva de evolução nas últimas semanas”, avalia.
Segundo os números do SUS, Roraima tinha até ontem 17.583 casos de covid-19 e 354 mortes, contra 1,496 milhão de infectados no Brasil e 61.884 vítimas fatais. Mas, de uma escala de zero a 0,50 no País, Roraima tem evolução (em escala logarítmica) de casos de 0,48, segundo a última atualização do ranking, de 0,27 há duas semanas. No mesmo período, a média nacional passou de 0,29 para 0,24. O número de casos por milhão de habitantes (pmh) no Estado praticamente dobrou do dia 16 de junho para o dia 30, de 11.127 para 21.721, enquanto no Brasil o aumento foi de 60% (5.678 para 9.117 por milhão de habitantes, em média). A taxa de mortalidade, por sua vez, diminuiu no Estado, de 2,95% para 2,10%.
Os números de SRAG, já descontados os casos que foram confirmados como sintoma de covid-19, indicam também grande subnotificação no Estado, que tem uma das menores taxas de transparência do País (50%). Agora, está no topo do Brasil em letalidade por SRAG, com 77,42%, com a quarta maior incidência do País, de 51,18 por milhão de habitantes (pmh), contra 33,44 na média nacional.
Com o salto de Roraima, que passou de nota normalizada 47,91 para 67,15, o Norte do País voltou a ser a região com situação mais desfavorável em relação à covid-19. Mas o CLP continua a alertar sobre o quadro no Centro-Oeste (2º), com o recente crescimento exponencial de casos em Mato Grosso e no Distrito Federal.
No Mato Grosso, da semana finalizada no dia 16 de junho ao período terminado no dia 30, houve avanço de 145% dos contaminados, e a mortalidade aumentou para 3,88% e ultrapassou a cadente média brasileira (de 3,55% para 3,26%). E a evolução dos casos permanece idêntica ao de duas semanas atrás (0,43), com uma das menores faixas de isolamento do País.
A evolução recente de casos de coronavírus no Distrito Federal também preocupa. O DF deixou a terceira colocação no dia 16 e chegou a 16ª na semana passada, mas voltou a subir para nono nesta atualização, com o número de contaminados por milhão de habitantes (pmh) passando de 7.354 para 14.280 no espaço de duas semanas. Há um mês, eram 3.117.
O Head de Inteligência Técnica, Daniel Duque, chama atenção que, no início do monitoramento, no começo de abril, o DF localizava-se entre 10 as unidades federativas com o pior quadro no combate à doença, melhorando a situação com a adoção do isolamento social. Mas, com a aparente reabertura precoce da economia, em 18 de maio, o quadro voltou a piorar no início de junho. Nascimento também destaca que o caso de Mato Grosso é emblemático, porque já havia sido identificada uma tendência de piora quando houve a flexibilização do isolamento, no fim de abril, com a evolução elevada de casos, dada a proximidade com o Amazonas, àquela época epicentro da doença.
“O ranking tem uma combinação de indicadores de nível e de tendência que tende a suavizar a diferença entre os estágios de covid-19 em cada Estado. De qualquer forma, o vírus chegou no Brasil, em 26 de fevereiro. Todos os Estados sabiam disso. Desde o começo, poderiam ter tomado medidas para evitar uma situação muito ruim, uma vez que há livre circulação de pessoas pelo País, já teria dado tempo para tomar um controle maior da situação”, argumenta Duque. “Não é uma questão só de estágio do vírus, mas é uma questão realmente das políticas adotadas em relação à pandemia.
Nascimento, Head de Competitividade, cita que alguns Estados, como Santa Catarina, Maranhão, Paraíba e Alagoas, procuraram o CLP para entender o ranking e como poderiam agir para melhorar suas estatísticas ou para se precaver de desenvolvimentos negativos. “Nossa proposta com essa iniciativa é possibilitar aos Estados, aos governos, que consigam, a partir dos números que temos observados, tomar decisões que possam mitigar os efeitos da pandemia na vida das pessoas. O interessante é que ferramentas de ranqueamento, do ponto de vista político, são fantásticas, porque fazem que isso entre na agenda dos governantes, porque ninguém que ser mal avaliado.”
O que dizem os Estados
O governo do Maranhão, disse, em nota, que a boa classificação do Estado no ranking é resultado da soma dos esforços em uma gestão focada no bem-estar da população e no desenvolvimento do Estado.
Consultados, os outros Estados citados na reportagem não responderam os contatos da reportagem até o momento da publicação desta matéria.