Importante foco das atenções diplomáticas do Brasil desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o continente africano agora é alvo de investimentos brasileiros também no agronegócio. Fruto de um acordo de cooperação trilateral, que inclui, ainda, o Japão, o Fundo Nacala deve representar um investi- mento de US$ 2 bilhões na agricultura de Moçambique. A ideia é captar recursos junto a empresas do Brasil e do Japão, do Banco Mundial e de insti- tuições financeiras dos três países para financiar o desenvolvimento agrícola da região conhecida como Corredor de Nacala. São 14 milhões de hectares, com potencial para pro- duzir arroz, soja, milho, algodão, girassol e amendoim, que podem se valer de uma infraestrutura privilegiada: o porto de Nacala, o maior de águas profundas da costa oriental da África. “Essa talvez seja a melhor área para desenvolver agricultura no continente, com retornos estimados entre 18% e 23% ao ano”, diz o coordenador da Fundação Getulio Vargas Projetos, Cleber Guarany.

O projeto, que foi estruturado pela FGV, e costurado com a Agência Brasileira de
Cooperação (ABC), órgão do Ministério das Relações Exteriores, a Agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jica) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), quer replicar no país africano o desenvolvi- mento da região Centro- Oeste no Brasil. “Temos de provar, com esse pro- jeto, que a savana africana pode seguir o exemplo do Cerrado brasileiro”, disse o diretor-geral da ABC, Marco Farani. O diplomata enfatiza que a experiência original do Brasil de transformar o Cerrado em um dos maiores fornecedores de grãos do mundo, iniciada há 30 anos, foi a grande inspiração para o Fundo Nacala. “Quem sabe, daqui a 20 anos não vamos comemorar um grande feito dessa parceria Brasil-Japão”, disse Farani no dia 4 de julho, em Brasília, minutos antes de assinar o con- trato de viabilização do Fundo com todas as enti- dades e autoridades envolvidas. Guarany, da FGV, acredita que, por conta da experiência bem-sucedida e testada do Cerrado brasileiro, não os resultados poderão surgir mais rapidamente na África. “O Brasil prova com esse fundo que, além de grande exportador de alimentos, se tornou também um grande transmissor de tecnologia e conheci- mento”, acrescentou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro.

A aposta do Brasil nesse projeto tem a ver com a similaridade de solo e clima do Cerrado brasileiro e do Corredor de Nacala. essa proximidade já vem atraindo o interesse de empresas brasileiras do agronegócio, de fundos de pensão e de investimento e tradings companies. Os nomes de investidores ainda não foram revelados pela FGV e pelo governo brasileiro, mas sabe-se que o fato de grandes grupos brasilei- ros já estarem envolvidos com o desenvolvimento da região africana foi crucial para chamar a atenção de investidores nacionais. A Vale, por exemplo, ganhou, há dois anos, uma concessão do governo africano para operar a malha ferroviária que corta o Corredor de Nacala. Com isso, a mine- radora pretende melhorar o escoamento da
produção de
carvão mineral e fertilizantes que
mantém em
Moçambique, desde 2004. Construtoras como Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Odebrechet – que atuam na reforma do Porto de Nacala – também são exemplos de empresas brasileiras naquele país. Além do mais, foram descobertas recentemen- te jazidas de alumínio e reservas de gás natural na extensão do corredor. “Queremos levar recursos para uma região rica, porém escassa em alimentos”, afirma Cesar Cunha Campos, diretor da FGV Projetos.

Para que o projeto resulte, de fato, em dividendos econômicos e sociais para Moçambique, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) irá transferir suas técnicas de plantio a institutos de assistên- cia técnica rural, cooperativas de médios e pequenos produtores e a agricultores familiares em Moçambique. “Nacala tem vazios que podem comportar até produtores médios”, avalia o presidente da Embrapa, Pedro Arraes. Ele espera que até o segundo semestre de 2013 o fundo já conte com recursos disponí- veis. “O Corredor de Nacala pode gerar muita renda e desenvolvimento para Moçambique”, diz o ex-ministro da Agricultura e atual coordenador da FGV Agro, Roberto Rodrigues.

Mendes Ribeiro: o Brasil, al;em de grande exportador de alimentos, agora exporta tecnologia

O FUNDO DE NACALA
Empresas brasileiras e japonesas investem em Moçambique

O que é – fundo de investimento com recursos de Japão e Brasil para desenvolver o agronegócio em Moçambique
Área agricultável – 14 milhões de hectares
Culturas – soJa, milho, algodão, amendoim e girassol
Valor – cerca de us$ 2 Bilhões, divididos entre empresas Brasileiras e Japonesas
Financiadores – fundos de pensão, fundos de investimento e empresas de agronegócio

Fontes: FGV Projetos