01/06/2011 - 0:00
Sabores: manga, caju, goiaba, pêssego, camucamu e açaí com cupuaçu
Aos 16 anos, a estudante paraense Simone Negrão Anewalt se mudava definitivamente para os Estados Unidos. Era o início dos anos de 1980. O pai, o exportador de peixes ornamentais Cláudio Negrão, resolvera emigrar em busca de novas oportunidades de negócios. Já instalado, Cláudio investiu no marketing da saudade, vendendo aos brasileiros que residiam no país, produtos como bombons, arroz, feijão e guaraná. Comercializava marcas como Lacta, Bauducco e Yoki. Depois de algum tempo, ele viu a oportunidade de criar uma marca própria e investir em sucos tropicais, um nicho até então pouco explorado naquele país.
“Nos Estados Unidos ninguém conhecia frutas como a goiaba ou o maracujá”, diz Simone, hoje diretora comercial da Brazil Gourmet, empresa criada pelo pai em 2001. Baseada em Allentown, na Pensilvânia, a Brazil Gourmet faturou R$ 13 milhões no ano passado.
Gostinho de quero mais
Em uma década, a Brazil Gourmet caiu no gosto dos norte-americanos
Principais clientes: Sam’s Club (grupo Walmart), BJ’S Club e Costco Club
Pontos de venda: 8 mil, nos Estados Unidos e Europa
Polpa produzida: 900 toneladas por ano
Faturamento: R$ 13 milhões
Previsão de crescimento: 22%
De imigrantes a empresários de sucesso, a família Negrão se consolidou no mercado de sucos não só nos Estados Unidos, mas também na Europa. Hoje, os negócios são administrados por Glória Negrão, presidente da empresa e esposa de Cláudio, que atua nos bastidores. As polpas das frutas são importadas de alguns produtores do Brasil. São cerca de 900 toneladas ao ano para a produção de néctar, que é a polpa acrescida de água e açúcar, e do suco 100% natural. O nome dos fornecedores e o local onde eles produzem são guardados a sete chaves. “São o segredo da nossa qualidade”, diz Glória. A empresa produz sucos em sabores de manga, goiaba, pêssego e caju, além de frutos típicos da Amazônia como camu-camu, açaí e cupuaçu. A Brazil Gourmet foi a primeira a vender suco de manga no mercado americano. Agora, querem ver outro exótico sabor cair no gosto popular. “Apostamos no açaí como o próximo boom de vendas”, diz Simone.
Em Família: Cláudio Negrão apostou na fabricação de sucos tropicais nos Estados Unidos.
Os preços dos produtos variam entre US$ 1,99 e US$ 2,83, a depender da embalagem, em caixas de 1 litro ou garrafinhas de 300 ml. Os sucos são envasados em uma planta no Nordeste e outra nos Estados Unidos. Apesar de parte da produção ser feita no Brasil, a empresa não comercializa seus produtos por aqui. “Estamos distantes do mercado brasileiro há muito tempo”, diz Simone. “Seria necessário um grande estudo para conhecer o hábito dos consumidores.” Já os mercados americano e europeu, elas conhecem bem. “Fazemos estudos constantes sobre hábitos e preferências do consumidor”, diz Alcides Ruozzi, vice-presidente de operações da Brazil Gourmet.
Hoje, a empresa está nas mãos da filha Simone (esq.) e da esposa Glória (dir.)
Os produtos da empresa estão presentes em gôndolas de 18 Estados americanos e de alguns países da Europa, totalizando oito mil pontos de venda. Desse número, 50% estão no varejo e 30% nas redes atacadistas como Sam’s Club (divisão do grupo Walmart), BJ’S Club e Costco Club. Nesses locais, os sucos “made in Brazil” disputam espaço nas prateleiras com similares provenientes do México, Egito e Índia. Outros concorrentes de peso são as grandes empresas produtoras de bebida, que também comercializam sucos tropicais em caixinha, como a Coca-Cola, dona da linha Minute Maid. Os outros 20% dos pontos de venda estão em bases militares americanas, 176 nos EUA e 18 na Europa. “Para nós é um orgulho, pois as exigências deles são imensas”, diz Ruozzi.
Atualmente, o foco da Brazil Gourmet é ganhar mais espaço na preferência dos consumidores. “A competitividade nos Estados Unidos é muito acirrada”, diz Simone. Um dos fatores é a disputa com bebidas artificiais como refrigerantes e os tradicionais sucos de laranja e maçã. Por isso, a empresa estuda minuciosamente todas as ações e lançamentos. “Crescemos porque os clientes sabem que nosso produto é importado, natural, uma iguaria”, diz Glória. Segundo Ruozzi, esse diferencial turbinou o desempenho da marca. Em 10 anos, o crescimento da Brazil Gourmet foi de 700%. “Prevemos um crescimento de 22% até o fim deste ano”, diz ele.