01/03/2012 - 0:00
Quem for a um supermercado paulista deve levar de casa sua própria sacola para carregar as compras. O acordo para banir o uso de sacolas foi assinado entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e o governo estadual e começou a valer no dia 25 de janeiro. A iniciativa deve ser copiada por outros Estados, além de Minas Gerais, que já aderiu. No Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo, a discussão está nas ruas. “Não vamos voltar atrás”, diz João Galassi, presidente da Apas. “A decisão de abolir a sacola de plástico é definitiva.”
Mas nem toda sacola de plástico está condenada a poluir o meio ambiente, somente aquelas feitas de subproduto de petróleo. Atenta às oportunidades criadas pela polêmica decisão do governo paulista, a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) tirou da cartola uma sacolinha do bem, um produto politicamente correto que se decompõe entre seis e 18 meses, contra os 400 anos das proibidas. “As sacolas à base de milho chegaram para ficar”, diz Alysson Paulinelli, presidente da Abramilho e ex-ministro da Agricultura. “Elas são resistentes e suportam tanto peso quanto as de petróleo.”
Algumas empresas já estão produzindo ou aprimorando essa tecnologia, como é o caso da alemã Basf, dona do Ecovio, um produto derivado de milho industrial. “O bioplástico da Basf já está presente em supermercados do País, mas ele também serve para outras finalidades”, diz Karina Daruich, coordenadora do Negócio de Plásticos Biodegradáveis da Basf para a América Latina. “O bioplástico deve ganhar cada vez mais espaço na fabricação de produtos à base de petróleo.”
Cada empresa tem uma maneira de chegar ao plástico de milho, mas, de modo geral, a produção começa no esmagamento do cereal e na fabricação da farinha. Em seguida, o amido é separado e fermentado, num processo semelhante ao do etanol. O resultado é uma substância à base de ácido lático que, aquecida e moldada, se transforma em plástico. Paulinelli, da Abramilho, diz que a utilização da sacola de milho poderia ajudar os agricultores a aumentar substancialmente a produção das lavouras, que hoje é de 60 milhões de toneladas por ano. “O brasileiro usa em média 66 sacolas por ano”, diz o ex-ministro. “Isso representa uma demanda que estimularia o produtor de milho a investir em mais áreas de cultivo.”
Além do descontentamento provocado entre os consumidores, que passarão a ter de adquirir suas próprias sacolas, a decisão da Apas e do governador Geraldo Alckmin também despertou a oposição dos fabricantes do setor, que vendiam por ano sete bilhões de unidades para as redes varejistas da cidade. No ano passado, os supermercados da capital gastaram R$ 500 milhões com a compra de sacolas produzidas à base de petróleo.
Para o presidente da Apas, as sacolas de milho são apenas uma alternativa. O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), proposto pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e assinado pela Apas e pelo Procon, estabelece o uso de produto reutilizável, mas não determina do que ele deve ser fabricado. Se depender da Abramilho, o movimento para que o cereal seja a matéria-prima das sacolas vai continuar. “É uma questão de tempo parar de usar sacolas que vão poluir o ambiente”, diz Paulinelli.