Se é  verdade que um homem prevenido vale por dois, os empresários do agronegócio brasileiro se multiplicaram por vários nos últimos meses, valendo muito mais, portanto. Isso porque boa parte da safra 2012/2013 de soja, que deve atingir a marca recorde de 83 milhões de toneladas, já está vendida às tradings e às esmagadoras. Neste mês, 35% de toda a produção futura já está na conta corrente dos produtores. Em Mato Grosso, o líder na produção da oleaginosa no País, chega a 48,3%. Na safra passada, nessa mesma época do ano, o percentual era de 21%. O que isso representa? Na prática, a decisão de antecipar a venda dos grãos, que serão plantados no fim do ano, garante dinheiro no bolso e tranquilidade aos produtores em qualquer situação, faça chuva, faça sol. “Sem dúvida, teremos um rit- mo de crescimento chinês nesta safra”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro.

A notícia de que a soja brasileira se converteu em faturamento aos pro- dutores, antes mesmo de ser colhida, seria, por si só, motivo de euforia para o agronegócio. Mas há outras duas novidades que fertilizam a lavoura de oti- mismo no País neste ano. A primeira: a cotação internacional da soja disparou – de US$ 10 por bushel, em janeiro de 2010, para US$ 17,60, no mês passado –, em razão da seca que atingiu os Estados Unidos. A segunda: o País deverá superar o mercado americano como o maior produtor mundial do grão pela primeira vez na história, com 83 milhões de toneladas, três milhões acima do colhido naquele país. “toda essa conjuntura sinaliza uma realidade muito positiva, embora ainda seja cedo para garantir que teremos a maior rentabilidade de todos os tempos”, afirma Flávio França Júnior, diretor da consultoria Safras & Mercado.

Além de representar mais dinheiro no bolso dos produtores e estimular um futuro de boas colheitas, o cenário positivo da soja deve esti- mular o aumento da área plantada. Nos cálculos do Instituto Mato- grossense de Economia Agro- pecuária (Imea), a área destinada ao manejo de soja no Estado será ampliada em 1,7 milhão de hectares, alcançando o recorde de 7,4 milhões de hectares em 2012/2013. todo esse mar de soja renderá aproximadamente 23 milhões de toneladas, 5,5 milhões acima do que na safra 2008/2009.

O horizonte promissor nos campos de soja não é traçado apenas por Mato Grosso. Os produtores do Paraná, do rio Grande do Sul e de Santa Catarina deverão recuperar as perdas da safra passada, muito prejudicada pelo clima adverso. “Sofremos tanto no ano passado que, agora, parece que deus ouviu nossas preces”, diz renato Mocinni, produtor de soja no Paraná.

Há um outro fator que impulsiona os negócios nos campos de soja: a China. A fome de consumo do país asiático manteve aquecida a demandamundial pelo grão. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de grãos, farelo e óleo de soja, principalmente aos chineses, renderam US$ 15,9 bilhões, no primeiro semestre do ano, 25,4% mais que entre janeiro e junho de 2011. “Se a China mantiver o atual ritmo de compra e a temporada de seca nos EUA se prolongar por muitos meses, a tendência é de que os preços con- tinuem elevados até o fim deste ano, com garantia de bons negócios”, diz Júlio diniz Almeida, da Agrodata.

Diante desses números, o Banco do Brasil, principal fonte de crédito rural do País, prevê boas margens de lucro aos produtores. Como informa o banco, em Mato Grosso a margem média ficará ao redor de r$ 890 por hectare. No Paraná, onde a logística tem custo menor, a expectativa é de aumento de r$ 829, na última safra, para r$ 1.398 nesta temporada. Em outras palavras, adubada pelo melhor fertilizante que é, sem dúvida, o lucro, a lavoura brasilei- ra de soja promete uma incrível safra de recordes nas próximas colheitas.