Ao entrar no saguão do imponente prédio no número 141 do West Jackson Boulevard, que abriga a Bolsa de Chicago (CBOT), o visitante é envolvido pelo suave cheiro de lavanda e um blues em baixo volume que emana das caixas. O silêncio só é quebrado pelo som dos sapatos vencendo o piso de pedra. Um café à esquerda abriga alguns “brokers” entretidos com seus celulares. A languidez do ambiente despista o fato de que, nos andares superiores, o preço da soja e mais 50 produtos em quase todo o planeta estão sendo definidos.

Ao seguir adiante, uma placa indica que os visitantes devem se dirigir a uma escada rolante que leva ao mezanino. Chegando lá, uma recepcionista pacientemente explica que a visita termina por ali mesmo. “Não há nada o que ver nos andares, além de pessoas e computadores. Não tem graça nenhuma”, conta sorrindo.

Saguão de entrada do prédio do Chicago Board of Trade
Saguão de entrada do prédio

Ela está coberta de razão. Desde 2021, não há mais nenhum pregão acontecendo no salão envidraçado no quarto andar do prédio. Foi o fim de uma era. Aquela gritaria frenética de gente comprando e vendendo contratos futuros nasceu ali mesmo, na Bolsa de Chicago, e depois se espalhou por estabelecimentos similares ao redor do mundo. Hoje, o máximo de barulho vem dos cliques no mousepad quando os negócios são fechados.

E haja clique. Fundado em 1848, o Chicago Board of Trade (nome oficial da bolsa) movimenta atualmente mais de US$ 1 trilhão por ano. O prédio é o epicentro de onde partem ondas que definem os valores de mais de meia centena de produtos em pelo menos 100 países do mundo. Só de soja, são negociadas 225 milhões de toneladas por ano, quase 80% do comércio mundial da oleaginosa.

Claro que a Bolsa de Chicago não negocia a soja física. Assim como no caso de outras commodities, a instituição oferece contratos futuros. Eles funcionam como certificados de compra e venda de soja em uma data adiante, com preço pré-determinado. A operação traz vantagens e segurança para todos os envolvidos no processo.

Os produtores ganham a certeza de um preço mínimo e evitam variações bruscas de preço. Os processadores (ou tradings) têm fornecimento garantido por um valor fixo. E os investidores podem apostar e obter lucros com a flutuação de preços contando com a segurança de uma instituição com mais de 175 anos de solidez.

Definição do preço

Com todas as negociações feitas eletronicamente, a bolsa oferece uma plataforma que permite encontros de compradores e vendedores. Para determinar o preço final dos contratos, são realizados vários leilões ao longo do dia. Além disso, a CBOT define padrões de qualidade e quantidade dos grãos.

Por falar em quantidade, sempre que podem os americanos fogem da lógica do sistema métrico. Em vez de toneladas e quilos, a unidade de medida para a quantificação dos grãos é o bushel, um cesto imaginário capaz de comportar 27,216 kg de soja ou milho.

Boa parte da solidez da Bolsa de Chicago repousa sobre a garantia do cumprimento dos contratos firmados ali. Fechado o negócio, compradores e vendedores devem depositar um valor inicial como margem de garantia, além de eventuais ajustes nos preços diários. Na data estipulada para o fim do contrato, as posições devem ser liquidadas financeiramente ou com a entrega física da soja em armazéns credenciados. O esquema dá certo desde 1848.

Quando foi criada, a CBOT era palco para a negociação apenas de commodities agrícolas, como soja, milho e trigo. Com o tempo, foi incorporando ouro, prata, títulos do Tesouro dos EUA e até geração e distribuição de energia.

Monumento arquitetônico

O prédio da Bolsa de Chicago visto a partir da La Salle Street
O prédio da bolsa visto a partir da La Salle Street

Ao deixar para trás o cheiro da lavanda e o blues do prédio, vale avançar alguns metros pela La Salle Street, que sai da frente da CBOT. Aí vale fazer um giro de 180 graus e admirar de novo o edifício de estilo art déco concluído em 1930. São 44 andares distribuídos em 184 metros de altura.

No topo, brilha uma estátua de alumínio que retrata Ceres, a deusa romana da agricultura e da fecundidade. Descendo o olhar por vários andares, vê-se o nome da bolsa esculpido em calcário ladeado por esculturas que representam um babilônio segurando grãos, um nativo americano portando milho e uma águia de asas abertas. Tudo isso envolvendo o imponente relógio do edifício.

Por fim, é recomendável se reaproximar do prédio para visitar um par de estátuas de granito ao lado da bolsa. São duas figuras femininas de 3,6 metros que celebram a agricultura e a indústria. Elas estavam alocadas no prédio anterior da CBOT, erguido em 1883 e demolido em 1929. Ficaram desaparecidas desde então e só foram reencontradas nos anos 1970 em uma reserva florestal. Como pararam lá é um mistério. Foram transferidas para a localização atual e, pela serenidade dos semblantes, parecem aliviadas com o fim dos pregões barulhentos no prédio ao lado.

Estátuas que representam a agricultura e a indústria
Estátuas que representam a agricultura e a indústria

* O jornalista viajou a convite da Choose Chicago