Produto que está para Minas Gerais assim como o acarajé está para a Bahia, o pão de queijo, um bolinho assado, feito de queijo bem curado, polvilho de mandioca, leite de vaca, ovos e manteiga, caiu no gosto popular, gerando renda e emprego para um exército de quituteiras. Nenhuma delas, no entanto, ganhou tanto dinheiro quanto Maria Dalva Mendonça, que criou, no começo dos anos 1990, a marca Forno de Minas, em Contagem, município da região metropolitana de Belo Horizonte. “A melhor sensação que existe é colocar a mão na massa”, diz dona Dalva, como gosta de ser chamada. Neste ano, a Forno de Minas, que espera vender mais de 14 mil toneladas de pão de queijo, deve faturar R$ 150 milhões, com um lucro líquido estimado em R$ 15 milhões. Trata-se de uma vitória e tanto de dona Dalva e seus filhos Hélder e Hélida, que dividem com ela o comando da empresa, que fechara as portas nas mãos da americana General Mills, dona das marcas de alimentos Yoki e dos sorvetes Häagen-Dazs. Vendida em 1999 aos americanos, a Forno de Minas foi retomada há três anos pela família Mendonça.

Depois de dois anos de prejuízos (R$ 10 milhões, em 2010, e R$ 6 milhões, no ano passado), já sob o controle dos antigos donos, a maior fabricante de pão de queijos do País já se atreve a refazer os planos de crescimento. Segundo Hélder, principal executivo da Forno de Minas, as vendas devem chegar a R$ 300 milhões em 2015, o dobro do atual faturamento. O projeto faz sentido. Segundo ele, a saúde financeira da empresa melhorou com uma injeção de capital da ordem de R$ 40 milhões, com recursos provenientes da venda de um terço de suas ações, para o fundo de investimentos Mercatto Capital Partners, do Rio de Janeiro.

A operação deu fôlego para a Forno de Minas colocar no mercado novas linhas de produtos congelados para o segmento de food service, alimentos consumidos fora do lar ou comprados já preparados para o consumo. Foram criadas linhas de produtos como broinhas de milho, tortas doces e salgadas, folhados e waffles, um tipo de massa de origem belga, de textura cremosa, muito apreciada na Europa e nos Estados Unidos. “O setor de food service avança a taxas superiores a 12% ao ano e queremos uma fatia desse mercado”, diz Hélder. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), há uma década o setor cresce sem parar. No ano passado, o segmento faturou R$ 215 bilhões, alta de quase 18% sobre o ano anterior. “Já estamos estudando o lançamento de novos produtos com a marca Forno de Minas.” Estão em testes os muffins, as tortas frias e uma linha premium de massas sem conservantes, entre eles o capeletti e o ravioli.

Mas o foco de crescimento da marca continua sendo o tradicional pão mineiro que leva queijo e manteiga de fabricação da própria Forno de Minas, mais o leite, tudo comprado de produtores da região. No total, por ano, são captados no Estado 50 milhões de litros de leite. Mas a previsão é dobrar essa demanda até 2015, ano em que o projeto é fabricar 30 mil toneladas de pães. Além de abastecer o mercado interno, sobretudo atendendo a redes de supermercados e de fast-food, a empresa, que já exporta para os Estados Unidos, Canadá e Portugal, quer ganhar mais espaço na Europa. Ainda neste ano, os pães devem chegar à França. Neste ano, a exportação deve fechar em 1 mil toneladas, ante 600 toneladas em 2011. Para o analista de mercados Steve Cachia, da Cerealpar, de Curitiba (PR), baseado nos Estados Unidos, o pão de queijo nacional faz sucesso no Exterior por ser muito diferente do produto similar, fabricado em outros países. “Nenhum pão de queijo americano, por exemplo, tem queijo de verdade”, diz Cachia. “O produto fabricado fora do Brasil leva aromatizante, não cresce direito e depois de meia hora de assado está duro feito pedra.”

Hélder conta que tirar a Forno de Minas do buraco e recuperar os clientes perdidos no Brasil e lá fora exigiram muito esforço. Na época em que a Forno de Minas foi vendida aos americanos eram produzidas 1,6 mil toneladas de pães, por mês. Mas, quando a fábrica voltou ao controle da família, a produção caíra a pouco menos de um terço. “Tivemos de readequar a fábrica, comprar equipamentos e recontratar funcionários”, conta Hélder. O segundo e mais importante passo foi retomar a tradicional receita de família do pão de queijo. A receita original foi passada aos americanos, mas abandonada nos anos seguintes. Esse foi o principal motivo da quebra de confiança dos consumidores: não usar os ingredientes certos.

Segundo Hélida, primogênita de dona Dalva e diretora de marketing, a mudança feita pelos americanos na receita, que levava originalmente 20% de queijo e foi reduzida a apenas 2%, fez a Forno de Minas perder a condição de produto de qualidade e de marca premium no mercado. “Com sabor e textura alterados, os clientes abandonaram nossos pães”, diz Hélida. Hoje, com a volta da antiga receita, o pão de queijo está em 18 mil pontos de venda no Brasi. “Há três anos, eram apenas oito mil distribuidores”, diz Hélida.