Formado em engenharia mecânica, o paulista Luiz Eduardo Batalha não chegou a desenvolver nenhum projeto como profissional dessa área. Recém formado, Batalha foi trabalhar na Companhia Doca de Santos, no litoral de Santos, mais tarde passou pelas mesas de operação da Bolsa de Valores de São Paulo e de lá saltou para o agronegócio, em projetos cada vez mais ousados, na década de 1970. Nessa época, Batalha se tornou pecuarista criando gado de diversas raças, cavalos, ovinos e até atuou na área de fast food, com a representação da cadeia americana Burger King. Agora, aos 69 anos, ele se lançou a um novo desafio: transformar-se num grande produtor de azeite de oliva. Em uma de suas propriedades, a fazenda da Guarda Velha, no município gaúcho de Pinheiro Machado, na fronteira com o Uruguai, Batalha plantou 50 mil pés de oliveiras de dez diferentes variedades em 200 hectares, tornando-se dono de um dos maiores olivais do País. De acordo com o IBGE, em todo o Brasil, a área de cultivo de oliveiras era de 146 hectares em 2013. “Quero produzir azeite de qualidade e que agrade consumidores exigentes em todo o País”, diz Batalha. “Gostaria, por exemplo, de vender meu azeite em quiosques de shopping centers, coisa que ainda não vi em nenhum estabelecimento”.

Se depender das histórias de sucesso do produtor, o negócio vai dar certo. Um de seus principais feitos como empreendedor foi fruto de cinco anos de insistência. Em 2004, depois de várias tentativas infrutíferas, ele finalmente conseguiu convencer os diretores da Burger King de que estabelecer-se no Brasil era um bom negócio. “Perdi as contas de quantas vezes fui ao escritório de Miami e dei com a cara na porta”, diz Batalha, que depois de seis anos à frente da rede no País, transferiu o controle da master franquia, à gestora de recursos Vince Partners, do banqueiro Gilberto Sayão. Segundo ele, no caso do azeite, tornar-se um produtor, nunca tinha lhe passado pela cabeça. Isso só aconteceu em 2008, ano em que decidiu comprar ovinos da fazenda Seival, em Candiota, no interior gaúcho. A propriedade pertence aos irmãos Darci e Adriano Miolo, sócios da Miolo Wine Group, uma das maiores produtoras nacionais de vinhos finos. Batalha saiu da fazenda sem comprar um único animal, mas ficou deslumbrado com o olival da Miolo. “Achei o negócio espetacular, e ao chegar em casa já sabia que queria fazer igual”, diz Batalha. Com um investimento de R$ 5 milhões, o produtor transformou a sua propriedade em uma unidade agroindustrial. Além dos pomares de olivas, Batalha instalou uma fábrica de extração de azeite com capacidade de moagem de 1,4 mil quilos de azeitonas por hora. 

No ano passado, a safra rendeu os primeiros litros para testes de qualidade. A estimativa é que o produto esteja no mercado dentro de quatro anos, quando a produção de azeitonas deverá chegar a 400 mil litros de azeite por safra. “A intenção era fazer o super azeite brasileiro e, pelos testes, acredito que já conseguimos”, diz Batalha. O produto impressionou a degustadora Patrícia Galasini, formada na Associação Mille Sensi, na Itália, e uma das principais especialistas desse tipo de produto no Brasil. “Dos azeites nacionais que já provei, nenhum é balanceado como esse da fazenda da Guarda Velha”, afirma Patrícia. “Ele pode ser comparado aos melhores azeites espanhóis e portugueses”. 

Para chegar ao padrão de excelência verificado nos testes, Batalha contou com a consultoria técnica do americano Paul Vossen, especialista da Cooperativa de Extensão da Universidade da Califórnia, em Sonoma County. Formado pela universidade de Minnesota, em 1978, Vossen se dedica há quase duas décadas exclusivamente à olivicultura. Com Batalha, sua relação vem desde o início do projeto. “Não há dúvidas de que o negócio todo é de excelente qualidade”, diz Vossen. “Batalha estará definitivamente preparado, à medida que for gerenciando cada variedade cultivada para processar frutos com máxima qualidade”. Vossen acredita que na região Sul do Brasil há espaço para grandes olivais que poderiam ser mais competitivos que os californianos, onde estão localizados os principais polos de produção americana. Uma das vantagens do Brasil, segundo ele, é o custo de instalação de pomares. Na Califórnia, o custo de um hectare pode chegar a R$ 100 mil, enquanto no Rio Grande do Sul sai em torno de R$ 12 mil. 

Mas a tarefa de criar e perenizar uma marca nacional não vai ser fácil, pois o Brasil não possui tradição no mercado de azeite, no qual reinam os importados. No ano passado, o País gastou US$ 355
milhões com a compra de 72,5 mil toneladas de azeite, volume 2,3% superior à importação de 2013. “Bons azeites importados podem custar até R$ 360 por litro”, afirma Batalha. “Imagine se pudermos oferecer um produto de igual qualidade, ou superior, por um preço menor?” Desse ponto de vista, o produtor acredita que o Brasil é um mercado interessantíssimo. 

Por fazerem a mesma avaliação de mercado, outros empresários do Rio Grande do Sul também estão dando os primeiros passos na atividade. O produtor Flávio Lazzarotto, diretor do Grupo Artesano, de Bento Gonçalves, especialista em móveis planejados, começou a cultivar oliveiras em Candiota, na vizinhança de Batalha, em 2009. Atualmente, ele cultiva, em 39 hectares, 13 mil pés da fruta. “Acreditamos
no potencial dessa cultura”, diz. Lazzarotto já investiu cerca de R$ 3 milhões em plantio e manejo e, assim como Batalha, também quer colocar seu azeite no mercado com marca própria. “Acredito que estaremos prontos no próximo ano”, diz o empresário gaúcho.

O empresário Ivan Magalhães Siqueira e seu sócio, o locutor esportivo Galvão Bueno, criadores de gado angus, produtores de vinho e amigos de Batalha, também têm pressa em estabelecer-se para o mercado. No ano passado, eles investiram R$ 60 mil para formar seis hectares de oliveiras. “Plantamos oliveiras com o projeto de colher fruta suficiente para processar 81,5 mil litros de azeite a cada safra”,
diz Siqueira. “O negócio é muito atrativo”. Para o produtor Daniel Aued, da fazenda Olivas do Sul, no município de Cachoeira do Sul, esse foi o principal motivo para que se dedicasse à cultura. Segundo ele, um hectare de oliva pode render até R$ 30 mil por ano. “O cultivo de oliva foi a opção de maior rentabilidade que achamos”, diz Aued. A possibilidade de renda está abrindo um mercado paralelo para o azeite, o de mudas da planta. “Existe uma alta procura de plantas jovens e acredito que ela só vai aumentar”, diz Aued. 

Para atender a essa demanda, Aued investiu no comércio de mudas. Sua fazenda tem capacidade para produzir cerca de 160 mil plantas por ano. “A ideia é processar tanto a nossa produção quanto a de agricultores parceiros”, diz Aued. No ano passado a safra própria da Olivas do Sul foi de 15 mil litros de azeite, de frutos colhidos em 14 hectares. Neste ano serão 25 hectares e até 2017 o produtor espera
chegar a 175 hectares. O objetivo de Aued é processar 300 mil litros de azeite, utilizando sua produção e a de terceiros. “Hoje, os agricultores compram minhas mudas, amanhã compro a produção deles”, diz Aued.