O Estado de São Paulo aposta em um programa de enoturismo que inclui 66 vinícolas para impulsionar a produção e mudar a visão sobre seus vinhos finos, cuja qualidade e reconhecimento internacional ainda são desconhecidos por muitos.

O programa Rotas do Vinho vem fortalecer o turismo e a indústria vinífera paulista no momento em que o Estado já soma 267 vinícolas, enquanto o plantio de videiras aumentou mais de 700% de 2022 para 2023, para 65 mil, segundo números do governo estadual.

Agora a expectativa é de que a percepção sobre os vinhos paulistas mude, com novas técnicas de cultivo e investimentos dando frutos para produtores explorarem todo o potencial do terroir paulista, disseram representantes do governo e integrantes do setor no lançamento do programa, na noite de quarta-feira, no Palácio dos Bandeirantes.

“Agora todo mundo vai saber que São Paulo tem vinho de qualidade… Para aquele pessoal que está indo para a Serra Gaúcha, venha para São Paulo que aqui tem coisa boa…”, disse o governador Tarcísio de Freitas, antes de participar de uma degustação coletiva dos produtos de várias vinícolas, na sede do governo.

As cinco rotas passam pela Alta Mogiana (Ribeirão Preto e região), pelo roteiro dos Bandeirantes (São Roque e região), Circuito das Frutas (Jundiaí e região), Serra dos Encontros (Espírito Santo do Pinhal e região) e Alto da Mantiqueira (São Bento do Sapucaí e região), com 55 vinícolas. Outras 11 vinícolas foram organizadas como enodestinos.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima, o projeto quer “mudar a visão do vinho no Estado de São Paulo”, e iniciativas serão feitas também para garantir que as bebidas estejam nos cardápios dos melhores restaurantes, além de supermercados.

“Tenho feito testes às cegas com o nosso vinho, e as pessoas acham que estão tomando vinho italiano, espanhol”, disse Lima, que como empresário que já foi dono de uma vinícola na Argentina.

O Estado, já um importante produtor de vinhos do Brasil, caminha para disputar no futuro a liderança com o Rio Grande do Sul. “Agora entramos na disputa”, disse Lima, revelando que 70% de sua adega é de vinhos paulistas.

Gabriela Victor, viticultora, enóloga e CEO da Sampa Vinho, loja e wine bar paulistana especializada 100% em vinhos do Brasil, disse que os vinhos de São Paulo não perdem em nada se comparados aos vinhos de outras regiões brasileiras “mais tradicionais”. Ela acredita que o Estado seguirá avançando no setor.

“Existem grandes investimentos sendo feitos por grandes players… Muitas antigas fazendas cafeeiras sendo transformadas em vinhedos e no plantio de oliveiras para a produção de azeites”, destacou.

Para a especialista, quem degusta hoje um vinho paulista consegue perceber “uma enorme” diferença qualitativa e sensorial, já que o Estado passou a usar a técnica denominada “dupla poda” –que permite a transferência da colheita do verão para o período mais seco do inverno e faz com que as uvas cresçam num clima com alta amplitude térmica.

“São vinhos mais estruturados, mais potentes, geralmente com grau alcoólico maior sem deixarem de ser elegantes, macios”, disse Victor, lembrando que vários já foram premiados em concursos nacionais e internacionais, como os da vinícola Guaspari, em Espírito Santo do Pinhal.

Além de estabelecer o programa de enoturismo, o Estado prevê linhas de crédito para vinícolas e empreendimentos relacionados à cadeia produtiva em um raio aproximado de 50 km das rotas –os detalhes dessas linhas serão anunciados futuramente, segundo a secretaria.

 

(Por Roberto Samora)