13/07/2022 - 16:06
O Ministério da Saúde descontinuou na segunda-feira, 11, a sala de situação criada para monitorar o avanço da varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil. O comitê foi formado emergencialmente em 23 de maio, exatos 50 dias antes de encerrar suas atividades. O objetivo do grupo era, além do monitoramento de casos aqui e no mundo, “elaborar documentos técnicos para fomentar ações de saúde pública” e impedir a disseminação da doença viral no País.
Os casos vêm crescendo no Brasil. Segundo o balanço mais recente da pasta, foram 218 confirmados até o último dia 9 – apenas três eram em mulheres. A maioria está no Estado de São Paulo, que registrou 158 pessoas com a doença.
Questionada sobre quantos profissionais compunham o grupo, a assessoria do ministério disse que não havia um número fixo de colaboradores. O plano de desmobilização foi divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde e tinha 30 colaborações de representantes da Anvisa, do Conass, da Fiocruz e da Opas/OMS.
No “Plano de Desmobilização da Sala de Situação Monkeypox”, a pasta define fluxo de atendimento dos pacientes, contextualiza o avanço da varíola dos macacos desde sua descoberta nos anos 1970 e define os conceitos de casos suspeitos e confirmados da doença, estes últimos com a obrigação de serem notificados até 24 horas após o diagnóstico.
Entre as ações realizadas pelo grupo, o documento cita 85 reuniões, o acompanhamento ininterrupto de notificações, a definição do fluxo de atendimento, a suposta divulgação de cards com o balanço diário da doença no território nacional e a elaboração de um plano de ação.
Na “proposta de continuidade das atividades”, a sala de situação cita uma série de ações que já eram executadas pelo próprio grupo, como o monitoramento diário de notificações, a atualização constante de orientações e o planejamento de aquisições de vacinas junto à Opas.
Até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não tem pedido ou registro de uso para algum imunizante contra a varíola dos macacos. “Caso haja a aquisição de vacinas”, os membros da sala de situação apenas propõem que o Programa Nacional de Imunizações disponha as doses à população e coordene a estratégia de aplicação, “de acordo com as necessidades locais das unidades federativas”.
Questionado pelo Estadão, o Ministério da Saúde informou que o objetivo da sala de situação era “divulgar de maneira rápida e eficaz as orientações para resposta ao evento de saúde pública de possíveis casos da doença no Brasil, além de direcionar as ações de vigilância em saúde”. A pasta afirma que o grupo “atuou para a padronização das informações e na orientação dos fluxos de notificação, assistência e investigação” e que “continua monitorando o cenário epidemiológico” no País.
Apesar da afirmação do grupo e do ministério, a divulgação pública de dados sobre a varíola dos macacos tem sido inconstante nos canais oficiais da pasta. O último card diário, citado pela sala de situação como uma de suas atribuições, foi publicado em 29 de junho. Já os boletins epidemiológicos, com o total e os detalhes dos casos confirmados da doença, não é disponibilizado desde a segunda, quando o grupo foi extinto.
Precipitação
Profissionais da saúde ouvidos pela reportagem classificaram como precoce o encerramento da Sala de Situação e apontam o contexto ainda nebuloso da doença no Brasil e no mundo. Até agora, os novos sintomas da varíola dos macacos têm confundido médicos, a quantidade de doses de imunizante disponíveis no mundo é escassa e não há um consenso científico sobre transmissibilidade dessa nova linhagem por relações sexuais ou superfícies.
“É lógico que foi precipitado e que o Ministério da Saúde não sabe o que é uma sala de situação nem como operá-la”, avalia o sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Anvisa. “Estamos começando a entender a monkeypox e quais as desgraças dela. A função de uma sala de situação é exatamente acompanhar a doença e tomar decisões mais rapidamente, por diferentes autoridades em um mesmo ambiente.”
Ele aponta que a sala de situação é “um instrumento de gestão para um problema complexo, que reúne gente de todos os lados para tomar decisões emergenciais”. Como exemplo, cita que cada unidade federativa criou e manteve grupos parecidos para lidar com o coronavírus, todos com longevidade superior a 50 dias.
“Nesse momento, não existe grupo ou Estado preparado para acompanhar casos novos e identificar se eles estão sendo de fato quarentenados”, observa. Para Vecina, a sala de situação deveria ter se mantido “até o momento em que a doença estivesse controlada”.