Montanhas de milho guardadas a céu aberto no Centro-oeste, como a que se vê na foto desta página, voltaram a chamar a atenção dos produtores no Brasil. No entanto, desta vez o motivo não foi a deficiência logística, mas a disparada dos preços das commodities internacionais no final de agosto. A previsão para o País é de crescimento nas próximas safras, e é grande a possibilidade de que o volume de cereais sem silos ou armazéns para serem guardados volte a crescer.

Ao mesmo tempo em que gera problemas de escassez de armazenamento, as supersafras de cereais, são um poderoso dínamo para a economia, como se verificou na divulgação dos resultados do PIB no segundo trimestre deste ano, que cresceu 3,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em ritmo chinês, a agropecuária deu contribuição com uma elevação de nada menos que 13%, ajudando a reverter o pessimismo que reinava até aqui entre os agentes econômicos.

O bom desempenho do agronegócio nesta safra que está em fase final de colheita, em que o País deve arrancar de suas lavouras o recorde de 186 milhões de toneladas de grãos, deve-se em boa parte aos contratempos provocados pela seca que assolou o Meio-oeste americano, o maior polo produtor de cereais do mundo. Ainda que as tendências não estejam totalmente consolidadas, não está descartado o que na próxima safra se repita a redução da produção dos Estados Unidos, caso se confirme a repetição da estiagem. A simples possibilidade de que duas secas consecutivas castigassem a agricultura americana acabou provando uma disparada dos preços internacionais. No início da última semana de agosto, por exemplo, os contratos de soja negociados na bolsa de Chicago subiram 4,6% em um único dia, a maior alta de um pregão desde outubro de 2011. Houve uma pequena retração no meio da semana por conta de um boletim do Serviço Meteorológico nacional dos Estados Unidos, que apontou uma maior probabilidade de precipitações nos estados de Nebraska e Indiana a partir do começo deste mês. No caso do milho, o aumento foi de 6,5%, o mais elevado desde julho do ano passado.

A previsão ajudou a aliviar a pressão sobre as cotações das principais commodities agrícolas, mas uma inversão da tendência de alta ainda está por ser confirmada. Um dos problemas, caso se confirme a alta, é que, embora implique um aumento de renda para os produtores brasileiros, o que também pode ser reforçado pelo recente movimento de valorização do dólar, cereais como o milho e a soja são matérias-primas utilizadas na fabricação de rações e alimentos. Consequentemente, têm influência direta no preço dos alimentos e podem atrapalhar os esforços anti-inflacionários da equipe econômica do governo da presidenta Dilma Rousseff.

No Brasil, a previsão para o milho é de 80 milhões de toneladas nesta safra e de 72 milhões na safra 2013/2014, que ainda será plantada. Para a soja, estima-se que sejam colhidos 81,4 milhões de toneladas em 2012/2013 e 85 milhões na safra 2013/2014. Nos Estados Unidos, a safra de milho deve chegar a 330 milhões de toneladas. É um resultado abaixo dos 350 milhões previstos inicialmente, mas bem melhor que os 280 milhões do ano passado, segundo o Departamento de Agricultura Americano (USDA). Para a soja, o número previsto para a safra 2013/2014 é de 93 milhões de toneladas, contra 82 milhões deste ano.

Um problema que aflige os produtores nos estados Unidos é que as chuvas não estão caindo com regularidade e de modo uniforme, irrigando uma fazenda aqui e outra acolá. O produtor Greg Robertson, que cultiva mil hectares de soja e milho em Chesterfield, no estado de Illinois, diz que parte da folhagem das lavouras de sua fazenda está verdinha, mas uma área precisará receber irrigação emergencial se não chover neste mês. “Pode ser que 10% a 15% de minha propriedade fique com a produtividade comprometida.” Seu vizinho, o produtor Samuel Hern, concorda com ele. Para Hern, o fracasso ou a prosperidade desta safra dependerá do volume de chuva durante este mês de setembro, quando a colheita é realizada. “Na minha fazenda choveu muito pouco nas últimas semanas de agosto”, disse ele. “Algumas vezes, vi a chuva passar a uns 200 metros das minhas terras, mas não caiu nenhuma gota no meu quintal”, disse Hern.

Apesar da preocupação com a seca, Hern não se deixou desanimar e marcou presença na Farm Progress Show, em agosto, na cidade Decatur, em Illinois, uma das maiores exposições mundiais de máquinas e equipamentos, de olho em colhedeiras e tratores novos. Também era o caso de Dan Elliott e seu filho Doug Elliott, produtores de milho e soja em Monmouth, Illinois. Os Elliots cultivam 1,8 mil hectares e faturam US$ 3,2 milhões por safra. “A mãe natureza nos castigou no ano passado e não está ajudando muito neste ano”, disse Doug. “Estamos comemorando a melhora em relação a 2012, rezando para chover nas próximas semanas e torcendo para que a geada não chegue antes da hora.”