O secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês), Simon Stiell defendeu hoje (10) o avanço no financiamento climático para uma transição energética mais justa, especialmente com o uso de energias renováveis, em detrimento dos combustíveis fósseis.

“Agora é a hora de focar em como fazer a transição de forma justa e alternada para acelerar a aplicação das renováveis e a duplicação da eficiência energética. Precisamos colocar em prática o mapa de Baku [onde foi sediada a COP29] para Belém”, disse Stiel durante a cerimônia de abertura da COP30.

Notícias relacionadas:

Na COP 29, realizada em Baku, no Azerbaijão, foi aprovada nova meta de financiamento para ajudar os países a protegerem suas populações e economias contra desastres climáticos e a compartilharem os vastos benefícios do crescimento da energia limpa.

Entre os pontos acordados estão triplicar o financiamento climático para países em desenvolvimento, passando da meta anterior de US$ 100 bilhões anualmente para US$ 300 bilhões anuais até 2035 e ampliar o financiamento aos países em desenvolvimento, proveniente de fontes públicas e privadas, para o montante de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.

O valor foi considerado insuficiente pelos países em desenvolvimento e pela delegação brasileira, que demandaram US$ 1,3 trilhão por ano como base da meta.

>> Siga o canal da Agência Brasil no WhatsApp

Para o secretário, a adoção da agenda de ação apresentada pelo Brasil para a COP é crucial para avançar na transição.

“A agenda de ação não é algo supérfluo, é crucial para a missão. Mais do que isso, é para o bem da própria nação. Cada gigawatt de energia limpa cria mais empregos, cada ação para fortalecer a resiliência ajuda a salvar vidas, fortalecer as comunidades e proteger as cadeias globais das quais todos dependem. Esta é a história de crescimento do século XXI, a transformação econômica da nossa era”, afirmou.

Em seu discurso, Stiell fez um pequeno balanço dos 10 anos do Acordo de Paris. Na avaliação do secretário da UNFCCC, o acordo trouxe avanços na queda da curva de emissões de gases de efeito estufa, mas ainda há trabalho a ser feito. Como exemplo, ele citou o relatório da Organização das Nações Unidas, de outubro, mostrando que o mundo não será capaz de conter o aquecimento global abaixo de 1,5 grau Celsius (°C) nos próximos anos.

“Há dez anos, em Paris, estávamos discutindo o futuro que desenharia a queda da curva de emissões. Um futuro que testemunharia claramente a queda da curva de emissões. Esse futuro chegou. De fato, a curva de emissões apresentou declínio e isso deve a salas como esta, com legislação governamental e respostas do mercado, mas não vou dourar a pílula. Precisamos agir muito, mas muito mais rápido, tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da resiliência. A ciência é clara, podemos e devemos reduzir as temperaturas ao limite de 1,5ºC, após um desvio de curso temporário”, acrescentou.

O secretário defendeu que o caminho para a retomada na queda das emissões passa pelo incremento da cooperação internacional, uma vez que os compromissos nacionais de redução na emissão desses gases, as chamadas NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada) assumidos pelos países têm sido insuficientes.

“Não precisamos esperar que entrem em efetividade as NDCs,  feitas para identificar as lacunas e desenhar as inovações necessárias para enfrentar os problemas. Nenhuma nação pode se dar a esse luxo, enquanto desastres climáticos consomem duas casas decimais do PIB [Produto Interno Bruto] mundial. Vacilar enquanto mega secas destroem plantações, fazendo os preços dispararem, não faz sentido nenhum, nem economicamente, nem politicamente. Discutir enquanto a fome se instala, forçando milhões a abandonar as suas terras natais, isso jamais será esquecido. Na medida em que os conflitos se espalham e os desastres climáticos dizimam a vida de milhões, enquanto já temos as soluções, isso jamais será perdoado”, afirmou.