Se você é urbano, nunca viu um boi de perto, já pensou que o leite nasce na caixinha e ainda assim pretende ajudar a salvar o mundo do aquecimento global, não se desespere: você pode ser um “ativista virtual”. Para tanto não é necessário sequer colocar a mão na massa, ou melhor, na terra, e ainda assim é possível ajudar a “resolver” os problemas da humanidade. No Brasil, pelo menos na teoria, é o que têm feito (ou tentado) milhões de pessoas conectadas em comunidades ecológicas presentes em sites de relacionamento na internet. Só na rede do site Orkut (www.orkut. com), são mais de 15 milhões. E este é o grande problema: para dar um palpite não é preciso nem saber do que está falando. Vamos aos exemplos:

Na comunidade da WWF Brasil, uma das grifes do protecionismo ambiental, com 57.763 participantes, a pecuária está sempre entre os assuntos mais discutidos. Até o fechamento desta reportagem, o tópico “pecuária orgânica” contava com 270 diferentes respostas, englobando dezenas de participantes. “Existe muita desinformação circulando nesses debates”, diz o zootecnista Paulo Selke, um “viciado” em debates virtuais. “Acho engraçadas essas pessoas que nunca pisaram na grama e falam como especialistas em meio ambiente”, diz. Com uma paciência oriental, Selke chega a gastar mais de duas horas por dia nesses debates sem ganhar nada por isso. “Mas me divirto muito com esses debates”, comenta. O motivo é meramente ideológico. Segundo ele, há um grande número de “ecochatos” divulgando inverdades sobre as atividades rurais. Como exemplo, cita uma discussão sobre o uso da água em que um participante trouxe à baila um relatório da FAO afirmando que para cada quilo de carne produzida seriam necessários 15 mil litros de água. “Esse número é verdadeiro, só que para rebanhos confinados nos Estados Unidos e na Europa, não para o Brasil”, diz.

SANTA PACIÊNCIA – Com a mesma dedicação e paciência, pode-se encontrar o ex-pecuarista Carlos Vianna, que depois de se mudar de Campo Grande (MS) para São Paulo entrou para o Greenpeace. Com o sonho dourado de criar nelore orgânico, hoje suas ações campestres estão concentradas em engrossar as fileiras das campanhas antitransgênicos da ONG Greenpeace. “Não posso falar pela entidade, mas, como ativista, acho que a internet é a melhor ferramenta existente para alertar a população sobre os riscos da transgenia”, avalia. Dono de seu próprio tempo de trabalho, ele diz que acompanha as comunidades da internet ao longo do dia. Entre os temas expostos, há um tópico sobre a aprovação do arroz transgênico da Bayer, cujo debate mereceu diversas considerações sobre supostos riscos alimentares do produto. “Acho que a internet é a melhor forma de divulgar essas questões e fazer com que as pessoas participem de uma maneira mais ativa”, diz.

Contudo, ele concorda que as fontes de informações às vezes não são tão confiáveis. “As discussões se tornam guerras de referências acadêmicas, que mudam conforme o ponto de vista ideológico”, analisa. “Se você quiser ser a favor dos transgênicos, vai encontrar trabalhos favoráveis na internet, assim como encontrará publicações contrárias”, comenta. Para a secretária- executiva do Conselho de Informação de Biotecnologia, Alda Lerayer, a internet pode se tornar uma grande fonte de desinformação. “É humanamente impossível combater todas as informações que saem na internet, por isso mantemos um site de referência para que os interessados possam se informar”, diz. E se você também deseja entrar nessa guerra, prepare suas armas, vá até o computador e comece a palpitar. A imagem do agronegócio precisa de você.