04/10/2016 - 12:00
A lei máxima para se dar bem no mercado de ações sempre foi saber comprar papéis que apresentam potencial de valorização. De certa forma, é o que começa a fazer a seguradora Tokio Marine, controlada por uma uma holding de capital japonês e que, em 2015, faturou R$ 3,8 bilhões no País. A atuação da Tokio Marine é diversificada, e engloba desde a venda de seguros residenciais à cobertura de poços de petróleo. Agora, a nova aposta da companhia para crescer no País é um dos assuntos mais espinhosos do mercado financeiro: o seguro rural. “Estamos de olho no potencial do agronegócio”, diz Felipe Smith, diretor de Produtos Pessoa Jurídica. “O mercado de seguro rural ainda é muito pequeno, mas como a sua tendência é de crescimento, vamos apostar no setor.” Além de oferecer cobertura para máquinas e implementos agrícolas, a companhia vai vender proteção de safras. “Estamos entrando com cuidado nesse setor”, diz Smith.
Inicialmente, a Tokio Marine vai oferecer cobertura para as lavouras de milho e de soja nos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. “O plano é ganhar musculatura para depois investir em outras regiões”, diz Smith. O executivo diz que a estratégia de preço é estudar as taxas caso a caso. No mercado, elas variam de 4% a 8% sobre o custo da produção, dependendo do tipo de cobertura, cultura e região do País. “Vamos praticar taxas similares ao mercado, mas vamos avaliar cada uma das apólices e atrair esse produtor”, diz Smith.
A Tokio Marine entra na briga em um setor no qual operam 11 seguradoras que oferecem produtos voltados para coberturas de safras, especialmente contra riscos climáticos. Entre elas estão gigantes como o grupo Banco do Brasil e Mapfre (BB Mapfre), a francesa Essor e a resseguradora suíça Swiss Re. Juntas, as três empresas respondem por 70,3% do mercado de seguros agrícolas no País. Esse produto não reflete a importância do campo. Na safra 2015/2016 foram emitidas 13,5 mil apólices rurais, uma fatia muito pequena comparada aos 12 milhões de seguros de diversos ramos subscritos todos os anos no Brasil. Em 2015, esse setor movimentou cerca de R$ 2,3 bilhões ou 0,2% do PIB da agropecuária. O valor ainda é pequeno em termos relativos. Ele protegeu apenas 4,3% dos 58,2 milhões de hectares dos grãos cultivados na safra passada, muito longe do que ocorre nos Estados Unidos, onde o seguro cobre todo e qualquer risco no campo.
Para o presidente da Tokio no País, José Adalberto Ferrara, o seguro de safras deve ser o primeiro de uma linha de produtos voltados para o agronegócio. “Nossos planos no Brasil são de longo prazo. Queremos ser mais uma opção para o produtor rural”, diz Smith. Hoje, o Brasil é a quinta maior operação mundial da seguradora, que está presente em 38 países.
no foco: para o economista Pedro Loyola, da Faep, falta investimento do governo federal para melhorar o seguro rural no País
Hoje, a maior seguradora desse mercado é o grupo BB Mapfre. A enorme rede de agências do Banco do Brasil proporciona 65 mil pontos de venda. Dono de quatro seguradoras, o grupo BB Mapfre respondeu por 36,9% dos prêmios pagos pelo produtor no ano passado. Para Wady Cury, diretor geral dos ramos Habitacional e Rural da companhia, o maior desafio do mercado de seguros é manter propostas adequadas. “A aquisição de uma proteção securitária que não corresponda às expectativas gera frustração do produtor rural, e coloca em risco todo o investimento realizado”, diz Cury. “O objetivo é fazer com que ele continue a investir na produção e que seja competitivo.” O grupo é um dos que oferecem uma das taxas mais baixas do mercado. Para a lavoura de soja, por exemplo, a média foi de 6,68% na safra passada, ante média do mercado de 7,04%, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Segundo o economista Pedro Loyola, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), esse aumento da concorrência é especialmente benéfico para o produtor. Graças ao aumento da competição, diz ele, a qualidade das linhas de seguro melhorou. “A Swiss Re, por exemplo, tem em sua prateleira um produto que cobre as perdas provocadas pela variação de preços ou pela quebra da produção física”, afirma. “É um seguro de faturamento, o mais requisitado por produtores americanos.” Segundo o economista, que já trabalhou no sistema financeiro oferecendo seguros para empresários do agronegócio, o que falta para o setor deslanchar são investimentos mais robustos por parte do governo federal. “Não podemos imaginar uma agricultura sem seguro, e o governo precisa fazer a sua parte.”
Tradicional em mercados desenvolvidos, essa proteção financeira só passou a estar disponível de fato para o produtor em 2006. Foi quando o governo federal criou o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), que banca de 40% a 60% dos custos de aquisição da apólice. Na safra 2014/2015, o aporte de recursos para custear essa subvenção foi de R$ 282,3 milhões, queda de 59,3% ante os R$ 693,5 milhões da safra anterior, de 2013/2014. Segundo Neri Geller, secretário de Política Agrícola do Mapa, isso não vai se repetir. Ele diz que para o ciclo 2016/2017, os R$ 400 milhões já anunciados serão mantidos. “Não há perigo em recuarmos desse patamar”, afirma. “Pelo contrário, ele pode até aumentar”.
Geller não revela qual poderia ser o aumento da dotação para o PSR, mas afirma que os planos do Mapa são de realocar verbas de outras áreas para financiar a proteção do produtor. Há também no Mapa um grupo de trabalho estudando novas regras para o seguro, que estimulem a participação da iniciativa privada, e que podem entrar em vigor já para a próxima safra.