Fantasias: elementos do campo compunham a maioria das alegorias da escola

 

Tinha produtor rural no samba e o enredo estava na ponta da língua. As atenções do Carnaval do Rio de Janeiro se voltaram para o agronegócio quando a escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel adentrou a passarela da Marquês de Sapucaí. A senadora Kátia Abreu(DEM-TO), a influente presidente da CNA, Herbert Bartz, produtor pioneiro no plantio direto na palha, e os ex-ministros da Agricultura Roberto Rodrigues, Eliseu Alves e Alysson Paulinelli foram destaques da escola.

 

A Parábola dos Divinos Semeadores, tema da Mocidade Independente, era um sonho antigo do carnavalesco Cid Carvalho e também de Kátia. Foi a líder ruralista quem procurou a diretoria da escola, em março do ano passado, para propor a parceria, que envolveu R$ 2,6 milhões pagos pela CNA como patrocínio do desfile. “Ela nos procurou e, curiosamente, eu já tinha a parábola dos divinos semeadores na minha cabeça há muito tempo”, diz Carvalho. “O Carnaval é uma história de rituais e tudo nos remete diretamente à agricultura.” Segundo Carvalho, a ideia era contar a história da agricultura através da existência da humanidade. “O único pedido da senadora Kátia Abreu foi que retratássemos a importância da agricultura para a sobrevivência da humanidade e o respeito ao meio ambiente, às práticas corretas.”

O ex-ministro Rodrigues reforçou o time de ruralistas que tornou realidade o defile verde proposto por Vianna e Carvalho, da Mocidade

A presidente da CNA, de acordo com Carvalho, teria também limitado sua participação a alguns palpites sobre o samba-enredo, não interferindo diretamente na confecção das alegorias e carros. A maior parte das fantasias, porém, foi composta de elementos agrícolas, tais como soja, arroz, uva, trigo, milho e outros cereais. “Eles têm competência para fazer o desfile”, disse Kátia Abreu, durante o lançamento do samba-enredo da escola. “Eu tenho certeza de que não vão mostrar apenas o óbvio da agropecuária, mas a agricultura feita da forma correta, que prioriza a preservação do meio ambiente e a importância do Brasil para o resto do mundo.” A senadora estava muito animada, segundo o carnavalesco. “Ela é muito entusiasmada, tem fôlego de sobra e decidiu desfilar no chão, com a diretoria da escola”, afirmou Carvalho.

 

Rituais: deuses da mitologia grega deram origem ao Carnaval

Além dos nomes já citados, um grupo de 110 pessoas ligados à CNA participou do desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, entre eles, pelo menos quatro fundadores da entidade. Os ex-ministros Rodrigues, Alves e Paulinelli participaram do desfile a bordo do último carro alegórico, movido a biodiesel. A estratégia inicial da Mocidade Independente era a de que todas as alegorias utilizassem o combustível verde, mas uma recomendação do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro frustrou os planos da agremiação.

O problema, de acordo com os bombeiros, é que os galões com o biodiesel ficariam armazenados no galpão da Mocidade na Cidade do Samba até o momento do desfile e isso poderia gerar risco de incêndio. “Mesmo assim, entramos com um veículo, que emite 15% a menos de gás carbônico na avenida”, diz Paulo Vianna, presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel. Ele foi um dos principais incentivadores da proposta verde no Carnaval, até então, inédita. “Quando lançamos a ideia do biodie sel, recebemos apoio de muitas empresas do agronegócio e até do Ministério da Agricultura”, diz. “A união das pessoas ligadas ao agronegócio é muito grande.” Além de explorar à exaustão a importância do combustível não poluente, a Mocidade Alegre destacou o papel do Brasil como celeiro do mundo. “Queríamos mostrar que temos orgulho de ser brasileiros porque temos a maior produção de alimentos do planeta”, afirmou o presidente da escola, que decidiu destinar as frutas usadas como alegorias no desfile a um “banquetaço” na quadra da escola. “Não gostamos de desperdiçar nada”, afirmou.