18/02/2019 - 11:00
Agronegócio direto | grandes empresas
Quando chegou ao Brasil, há cerca de 90 anos, o comerciante português João Martins trouxe consigo uma filosofia simples de trabalho, que já adotava em terras lusitanas: evitar contrair dívidas. Para ele, um negócio só poderia dar certo se sempre estivesse no azul. Em bom português: nunca gastar mais do que arrecada. E não ter dívidas é fator essencial nessa equação, que, apesar de matematicamente óbvia, nem sempre é respeitada por empresários e governantes. Com essa máxima em mente, João Martins, que começou atuando no mercado atacadista, expandiu seus negócios. Até que, em novembro de 1951, comprou o Moinho Anaconda, que produz farinha de trigo, em São Paulo. Hoje, pouco mais de 67 anos depois, a empresa, que nasceu com o slogan “Trigo para Milhões”, é uma das maiores do setor de massas, pães e moinhos do País e seus produtos são consumidos por cerca de 10 milhões de brasileiros. E com o orgulho de afirmar que, faça chuva ou faça sol, a empresa
está sempre no azul.
Para o presidente do Moinho Anaconda, o gaúcho Valnei Origuela, 56 anos, essa criteriosa gestão financeira é o segredo do sucesso. Especialmente, para uma companhia que trabalha com commodity. “O controle de gastos é fundamental no nosso trabalho.
E ainda temos de estar atentos às variações do preço do trigo, para comprar o mais barato possível”.
Isso não quer dizer que o Moinho Anaconda deixe de investir em melhorias. Pelo contrário. “É justamente graças a essa gestão sensata que sempre temos dinheiro em caixa para continuar investindo. Mas só no que é importante”. Por tudo isso, o Moinho Anaconda foi o campeão da categoria Agronegócio Direto – Grandes Empresas, do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2018. A empresa também conquistou, na mesma categoria, o prêmio de Melhor Gestão Financeira. Já o Laticínios Jussara ganhou como Melhor Gestão Corporativa.
Os números do Moinho Anaconda são eloquentes. Com duas unidades industriais – uma na capital paulista e outra em Curitiba – e 500 funcionários, a companhia teve receita líquida de R$ 570 milhões em 2017 (cerca de 10% superior ao ano anterior) e a previsão para 2018 é de que esse valor chegue a R$ 600 milhões (alta de mais de 5%). E sem abrir mão de investimentos, mesmo em anos de crise. Em 2016, por exemplo, foram aplicados R$ 15 milhões em melhorias nas operações de expedição de farinha industrializada. Já em 2017, foram mais R$ 10 milhões em investimentos. Em 2018, apesar de todo o clima tenso na economia e na política brasileiras, a empresa teve investimento recorde, de R$ 25 milhões (alta de 150% em relação ao ano anterior). “Com isso, melhoramos ainda mais nossos equipamentos, armazenagem e logística, setores cruciais na atividade de um moinho”, destaca Origuela. Segundo ele, a rigorosa gestão financeira não atrapalha o crescimento do negócio. “Nossa regra é: o que tem de ser feito, vai ser feito. Independentemente de crise econômica, problemas climáticos, variações do dólar”.
A receita vale, inclusive, para épocas de otimismo e economia em alta. Diferentemente de muitas empresas que, motivadas pelos resultados da eleição presidencial, já anunciaram novos investimentos para 2019, o Moinho Anaconda vai manter o que já estava programado. “Também acreditamos que o Brasil vai voltar aos trilhos. Mas entre isso acontecer e o consumo voltar a subir, há uma certa distância”, analisa Origuela. “Sendo assim, vamos continuar investindo, mas sem tirar os pés do chão”, afirma o presidente da empresa. É o tipo de frase que deixaria o português João Martins, fundador da companhia, tranquilo e orgulhoso.
Esse mesmo orgulho é sentido pelos diretores e pelos cerca de 1 mil funcionários do Laticínios Jussara, vencedor na categoria Melhor Gestão Corporativa. Fundada em 1954, pelo médico Amélio Barbosa, a empresa sempre teve como uma das suas características o investimento em tecnologias modernas e na capacitação técnica de seus funcionários, para produzir com qualidade e agilidade. Foi assim que, em 1955 – apenas 1 ano após a sua criação -, a Jussara já era uma das primeiras companhias do Estado de São Paulo a produzir leite pasteurizado. A evolução continuou. Em 1970, seu leite foi um dos primeiros a ser distribuído em saquinhos.
Pouco mais de 10 anos depois, a empresa era uma das líderes nacionais com a embalagem cartonada, a mais avançada tecnologia da época. Hoje, a Jussara possui 25 postos de captação nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, que recebem o leite de cerca de 4 mil produtores rurais de todo o País. “Investir em tecnologia sempre esteve no nosso DNA”, diz o diretor-superintendente da Jussara, Odorico Barbosa, um dos quatro filhos do fundador que administram a companhia.
A estratégia de estar sempre modernizando seus equipamentos tem dado resultado. Este ano, a Jussara terá faturamento líquido de R$ 1 bilhão, 25% acima dos R$ 800 milhões registrados em 2017. Para 2019, a previsão é de que esse número fique perto de R$ 1,3 bi, ou seja, em torno de 30% de crescimento. Para se manter atualizado em relações às inovações tecnológicas, Odorico Barbosa é figura garantida nos grandes eventos do setor, como feiras e exposições, além de realizar visitas constantes aos grandes fabricantes da Europa. E ele anuncia mais uma novidade para 2019. “Vamos adotar um estilo de governança corporativa, com conselheiros externos, de fora da família”, diz. “O objetivo é deixar a Jussara ainda mais profissional, transparente e competitiva, num mercado que ainda tem muito a crescer”. No Brasil, o consumo de leite gira em torno de 175 litros/habitante por ano, sendo que a quantidade considerada ideal pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 200 litros/habitante. “Mas isso pode ser até mais. Na Argentina, eles consomem 210 litros. E nos Estados Unidos, são 250 litros/habitante por ano”, diz. Ou seja, há espaço para crescer.