A Cosan deu um susto no mercado financeiro brasileiro com o endereço de sua nova controladora: a Cosan Limited. Agora, a sede da empresa fica nas Bermudas, no belíssimo mar do Caribe: Canon’s Court, 22 Victoria Street. Hamilton HM 12, Bermuda. A mudança ocorreu em agosto passado. Além da queda brutal das bolsas no mundo, poderá ser lembrado também como o mês em que a Cosan deu o pulo-do-gato na Bolsa de Valores de Nova York. O pulo foi dado lá, em Wall Street, centro financeiro do mundo, mas o reflexo pôde ser visto por aqui. E o gato em questão tem nome. Trata-se do próprio controlador da empresa, Rubens Ometto.

Com uma sofisticada operação coordenada pelo Morgan Stanley, o empresário criou uma das mais audaciosas operações financeiras com o objetivo de manter em suas mãos o controle da Cosan. De uma só tacada criou uma holding para controlar a empresa, transferiu sua sede para as Bahamas e multiplicou por dez o poder de voto de suas próprias ações, garantindo assim o controle total da companhia. Na mesma onda, lançou 100 milhões de ações da Cosan Limited em Wall Street e levantou US$ 1 bilhão. Mais do que nunca, agora, Ometto é novamente o “senhor etanol” da Cosan e responde pelos futuros investimentos da empresa.

SP VIA BERMUDAS: Cosan foi para o Caribe passando por Wall Street

Abertamente, não houve quem criticasse a atitude de Ometto. Tanto é que a reação imediata, depois do susto, foram aplausos do mercado internacional. E, no Brasil, também aos olhos do mercado, a Cosan continua atraente — aliás, muito atraente — como papel em bolsa. Para se ter uma idéia, na última semana de agosto três grandes corretoras de valores brasileiras projetavam valorizações entre 35% e 50% do valor da ação até dezembro de 2007. Para o analista Marcelo Brisac, da Itaú Corretora, a situação agora é clara e favorável à Cosan. “O crescimento da empresa, como muitos temiam até a ação de Ometto, não está mais amarrado”, diz Brisac. “Antes, com o capital diluído, havia o temor de que a Cosan ficasse paralisada. As mudanças resolveram isso.”

Na verdade o constrangimento causado pela decisão de Rubens Ometto não diz respeito necessariamente ao fato de ter criado uma holding — até porque o modelo europeu segue este caminho, a exemplo da Heineken, cuja empresa controladora da cervejaria o faz lançando mão do mesmo estrategema. O que ocorreu com Ometto foi algo mais básico do mundo das bolsas de valores, e as regras e condutas que o regem. Quem permaneceu na empresa controlada não gostou de ver seu poder diluído por uma máquina de alavancas, isso é fato — e daí o conseqüente constrangimento. Os minoritários perderam poder, viram a empresa migrar para um paraíso fiscal, onde as regras não obedecem necessariamente as normas brasileiras e norteamericanas, e não ganharam nada com as mudanças. Mas pode ser que lucrem com o crescimento da Cosan, se a empresa for levada por Ometto para uma trilha de excelência empresarial.