TROCA: Bussolaro, que ficou com o seu velho trator por mais de 30 anos, exibe seu novo possante. “Há linhas de crédito muito favoráveis e não precisamos gastar nada de imediato”, afirma

A troca do carro usado por um novo, normalmente, está atrelada ao tempo de uso do veículo, degradação, mau funcionamento, ou mesmo à vaidade em andar a bordo de um possante zero bala. Válido para os veículos de lazer, esse tipo de consideração não tem nada a ver com os motivos que levam um produtor rural a cogitar a troca de seu maquinário agrícola. Em geral, o produtor não desperdiça seu tempo com contas mirabolantes e troca uma máquina quando o valor da manutenção começa a ficar muito salgado, as perdas na lavoura muito grandes e o tempo exigido para realizar uma determinada tarefa no campo fica maior. Tanto que a idade média da frota rural no País segue elevada, com 12 anos para tratores e nove anos para colheitadeiras, os mesmos índices do início do programa Modern Frota, lançado pelo governo federal em 2000, justamente para acelerar a renovação do equipamento na lavoura. “Nunca segui fórmulas para comprar um equipamento novo”, diz o agricultor Hilário Bussolaro, que arrenda 470 hectares espalhados pelo oeste do Paraná para produzir soja, milho e feijão. “Troco quando acho necessário.”

Em fevereiro, Bussolaro e o sócio João Carlos Nazari compraram um trator para substituir um que foi adquirido na década de 1970. De tão velho, nem a logomarca do fabricante e a pintura sobreviveram ao tempo. Mas os problemas não se resumiam somente à parte estética. A cada safra, o velho trator ficava parado de três a quatro dias para manutenção. “Com essa máquina chegamos a 20% de perda por hectare na lavoura de soja”, diz Nazari. Os produtores gastaram R$ 235 mil em um trator da marca Valtra que, segundo eles, vai ajudar a manter a colheita da soja em 60 sacas por hectare, sem perdas.

 

TRATORES: uma máquina nova precisa apenas de manutenção de rotina para que seu tempo de vida útil chegue aos oito anos sem grandes gastos

Para Nazari e Bussolaro o atual momento é propício para a troca de maquinário. “Há linhas de crédito muito favoráveis e não precisamos gastar nada de imediato para ter uma máquina funcionando”, diz Bussolaro. Para Luiz Cambuhy, gerente nacional de vendas da Valtra, fabricante de tratores do grupo americano Agco, os produtores estão aproveitando linhas de crédito com dois anos de carência e que levam até seis anos para ser quitadas. “Esse é um tempo razoável, já que os gastos com reparos de motor e câmbio de um trator normalmente começam a ficar muito altos após dez anos de uso da máquina”, diz Cambuhy. Para ele, com a expectativa de boas safras agrícolas e com o crescimento do consumo interno de alimentos, a renovação da frota deve ser maior nos próximos cinco anos. Com máquina nova trabalhando, o produtor deve ficar apenas atento à sua manutenção. “É possível desfrutar de um bom tempo sem preocupações com peças e reparos, mas esse período acaba”, diz. Os especialistas afirmam que o tempo ideal para a troca de um trator que passa por manutenção rotineira é de oito anos. A manutenção rotineira envolve a troca de pneus, correias, regulagem e limpeza interna. Não por acaso, a manutenção tem peso importante na decisão da troca. “Quando ela passa do rotineiro, é hora de avaliar a possibilidade de compra de um novo trator”, diz Cambuhy.

EFICÁCIA: para Cambuhy, da Valtra, uma colheitadeira nova gera perdas no campo inferiores a 1% por hectare. Já os maquinários antigos apresentam índices superiores a 4%

Em relação às colheitadeiras, a preocupação do agricultor é com a perda de produção na lavoura decorrente do mau funcionamento, hoje na média de 4% por hectare. Essa perda é muito inferior à registrada há 20 anos, da ordem de 10% por hectare. “Mas hoje, com maquinário novo e tecnologia avançada, as perdas podem ficar abaixo de 1% por hectare”, diz Luiz Feijó, diretor-comercial da New Holland. Para ele, um dos maiores gastos na manutenção de uma colheitadeira no campo está na regulagem de suas engrenagens. O tempo de vida de uma máquina dessa é inferior ao de um trator. “O ideal é que o agricultor use uma colheitadeira por seis anos, no máximo”, diz. Isso considerando-se que a manutenção de rotina foi realizada. Após esse período, são grandes as chances de mecanismos mais sofisticados da máquina apresentarem problemas. “Ainda hoje existe agricultor que fica com uma colheitadeira por mais de dez anos na propriedade”, diz Feijó. “Ainda há muita gente usando máquinas sem cabine com ar refrigerado para o condutor e isso é coisa do passado.” Antigamente, as colheitadeiras, além de não possuirem cabine, dependiam de seus operadores para ser reguladas. “Só com o tempo que se perdia para ajustar uma colheitadeira daria para comprar uma nova, hoje”, diz Feijó. Naquela época, o condutor tinha de apear da máquina e usar ferramentas pesadas para alterar um comando, por menor que fosse. “Hoje, o operador fica na cabine com ar-condicionado e tem o comando total da máquina”, diz Feijó.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a demanda por colheitadeiras cresceu 17% no ano passado. Foram comercializadas 5,3 mil unidades, contra 4,5 mil em 2010. A procura por colheitadeiras reflete um bom momento e uma nova dimensão das necessidades do agricultor. De acordo com Milton Rego, diretor da Anfavea, o motivo que está levando o produtor à renovação de frota é a necessidade da diminuição do tempo gasto com a colheita da lavoura. Como não existe tanta área para ampliar a produção, chegou a hora de intensificar a operação para elevar a produtividade por hectare. Apesar da demanda por colheitadeiras, os esforços do governo para que a frota de veículos rurais brasileiros seja renovada podem não surtir o efeito desejado de estouro nas vendas. A estiagem que castigou a lavoura desde o fim do ano passado em boa parte da região Sul do País e a crise internacional que vem se arrastando desde 2011 podem assustar os produtores. “O Modern Frota foi muito bem nos quatro primeiros anos, mas depois os investimentos cessaram, principalmente para tratores”, diz Rego. Em 2005, com incentivo através dos financiamentos, a idade média da frota rural brasileira havia caído de 12 para dez anos, no caso dos tratores, e de nove para sete anos, no das colheitadeiras. Nos cinco anos seguintes, a idade média novamente voltou aos patamares anteriores. No ano passado, o mercado de tratores recuou 7,3%, passando para 52,2 mil unidades vendidas, contra 56,4 mil unidades em 2010. Mas, até o fim deste ano, a expectativa da Anfavea é de que as vendas fiquem muito próximas às registradas em 2011. Para os especialistas, apesar da queda na venda de tratores, essa é uma boa notícia. “Repetir o volume de vendas neste ano vai rejuvenescer novamente a frota”, diz Rego. “Se o comércio se estabilizar, em cinco anos a idade dos maquinários voltará a cair, principalmente a das colheitadeiras.”

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