06/10/2025 - 17:11
O setor audiovisual do Brasil ganhou nesta segunda-feira (6) um reforço para conseguir a adoção de políticas públicas, reivindicação antiga do segmento. Além da criação da Federação do Comércio e Indústria do Audiovisual (Fica), o lançamento do estudo inédito da Oxford Economics A contribuição econômica da indústria audiovisual no Brasil em 2024, encomendado pela Motion Picture Association (MPA), traz números que dão consistência à importância do setor para a economia brasileira.
O estudo da empresa global líder em consultoria econômica, que faz previsões, modelos e análises de dados que contribuem para auxiliar empresas e governos em decisões estratégicas, estimou que o impacto econômico total do setor audiovisual em 2024 gerou R$ 70,2 bilhões para o Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) e 608.970 empregos diretos e indiretos, que, conforme o estudo, equivale a 0,6% do PIB brasileiro em 2024.
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Com apresentação no RioMarket, principal evento sobre negócios e debates do audiovisual na América Latina, que ocorre em paralelo ao Festival de Cinema do Rio, o relatório apontou ainda que em relação a outras indústrias, o setor alcançou o mesmo total de empregos diretos (121.840 pessoas) que a indústria de fabricação de produtos farmacêuticos e teve número maior que a força de trabalho da indústria automotiva.
Além de participação na arrecadação de impostos e na contribuição econômica na produção e distribuição de filmes e TV, nas exibições no cinema e em vídeos sob demanda, o setor de audiovisual provoca impactos no turismo e na promoção do Brasil por meio da exportação audiovisual.
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Somente na atividade direta, incluindo empresas e pessoas diretamente empregadas na criação, produção e distribuição de conteúdo audiovisual, por exemplo, empresas de produção de cinema e televisão, redes de transmissão, serviços de pós-produção e técnicos autônomos, como operadores de câmera e engenheiros de som, o setor audiovisual gerou R$ 31,6 bilhões do PIB, cerca de 12% do setor de serviços públicos do Brasil, e registrou remuneração média mensal de R$ 6.800, 84% superior à remuneração média do país.
O estudo aponta ainda que o setor também gerou pagamentos significativos de impostos para o governo brasileiro.
“Estimamos que o setor tenha gerado um total de R$ 9,9 bilhões em pagamentos de impostos ao governo”, indicou Daniel Diamond, economista sênior da Oxford Economics e coautor do relatório com a economista Alice Gambarin.
“São dados muito relevantes que fortalecem efetivamente o nosso trabalho, que é público privado”, disse Walkíria Barbosa, produtora de cinema e TV, sócia do Grupo Total, e que vai presidir a Fica, em entrevista à Agência Brasil.
Para o economista Daniel Diamond, ao contar com uma ampla rede de empresas locais, apoiando a criação de centenas de milhares de empregos e estimulando milhares de milhões de reais em atividade econômica, a indústria audiovisual brasileira proporciona benefícios abrangentes que vão muito além da produção cinematográfica e televisiva.
“A nossa investigação demonstra quão substancial é a contribuição do setor para a economia, a força de trabalho e muitos outros setores do país”, disse à Agência Brasil.
Fica
A Federação do Comércio e Indústria do Audiovisual (Fica) surge após o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) incluir o audiovisual no projeto da Nova Indústria Brasil. A proposta da entidade é “reafirmar o audiovisual brasileiro como uma indústria, em reconhecimento aos expressivos resultados na economia do país, como vetor de inovação e geração de empregos qualificados”.
“A Fica vai reunir todos os segmentos do audiovisual. A gente precisa ter uma representação forte e única. A gente não tira o mérito das outras entidades, dos sindicatos, que têm as suas especificidades, mas quando tem que trabalhar com os meus colegas nas relações governamentais, fica muito difícil para eles entenderem cada vez que aparece uma representação. Então, resolvemos criar essa federação, e fomos muito estimulados para isso pelo governo brasileiro e por outras áreas industriais. É necessário a gente ter uma representação muito forte que possa ser um articulador para defesa das nossas políticas”, explicou Walkíria Barbosa.
Modelos internacionais bem-sucedidos, como o da Coreia do Sul, serviram de inspiração na busca da consolidação de uma política de Estado para o setor audiovisual brasileiro. Em uma comparação com o país asiático, que em 2023 exportou mais de US$ 14 bilhões de conteúdo audiovisual e musical, resultado obtido a partir da adoção de uma política de Estado, em que o audiovisual é considerado como uma indústria estratégica, Walkíria Barbosa destacou que esse é o mesmo patamar do Brasil, um país com território maior.
Para a produtora, os exemplos mostram o quanto o setor nacional pode crescer quando tiver essa política de estado.
“Esse número é o equivalente ao que fatura o audiovisual no Brasil. Se eles [sul coreanos] conseguiram fazer isso, nós temos muitas possibilidades de conseguir fazer isso e mais, porque temos um território grande. A China, em 2008, tinha 3.500 salas de cinema, quando já tinha uma população com mais de 1 bilhão, e hoje tem 90 mil, com filmes como a animação que fez mais de US$ 100 milhões dentro do território chinês”, comentou, lembrando que no ano passado foi aprovado no RioMarket um documento de política de Estado para o audiovisual brasileiro, inspirado no modelo de sucesso sul coreano que, para ela, tem um projeto de exportação inacreditável.
“Temos um ano para botar essa política pública de pé”, resumiu.
Após os dados do estudo, Walkíria e integrantes do setor tiveram diversos encontros com representantes de organismos governamentais como os ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), da Cultura (MinC) e Ancine para, conforme explicou, mostrar o potencial que essa indústria tem.
Entre essas agendas, a presidente da Fica apontou o encontro com o secretário-executivo do MDIC, Márcio Elias Rosa, que de acordo com ela, entendeu perfeitamente o potencial do setor, o que permitiu a entrada do setor no programa da Nova Indústria Brasil.
“É importante dizer que tudo isso aconteceu porque um homem visionário, chamado Márcio Elias Rosa, entendeu o que a gente estava falando, entendeu a nossa proposta e fez acontecer dentro do programa da NIB. A gente está muito feliz e aí surge a ideia de criar a Federação do Comércio e Indústria do Audiovisual”, disse a presidente da Fica.
“Nada se constrói sozinha. Esse trabalho vem sendo feito em muitas mãos de pessoas que entenderam a nossa demanda e viram a importância estratégica que é o audiovisual para o país. O audiovisual é o grande soft power”, afirmou Walkíria.