14/11/2020 - 8:30
Ainda há muito a ser feito, mas os esforços em direção à sustentabilidade das companhias de proteína animal do Brasil começam a ser reconhecidos lá fora. No caso, a Fairr Initiative, associação de investidores que, juntos, detêm US$ 25 trilhões sob sua gestão e conta com membros do porte de Nordea, UBS, Pimco e Credit.
Nesta semana, a entidade lançou a 3ª edição do Coller Fairr Protein Producer Index, que avalia 60 companhias globais de capital aberto ligadas à produção de alimentos à base de carnes, peixes e lácteos. Tyson, Fonterra, JBS, Marfrig, BRF, Minerva, Louis Dreyfuss Company e Cofco são algumas das multinacionais avaliadas. Pecuária sustentável será um dos temas debatidos no Summit Agro do Estadão, entre 23 e 25 de novembro.
Os investidores costumam consultar o índice para decidir se vale a pena aplicar ou manter recursos no segmento de proteína animal no mundo. Embora o relatório deste ano continue apontando Marfrig, BRF e JBS como companhias de “médio risco” e Minerva como de “alto risco” – em relação aos critérios adotados pela Fairr -, as três primeiras galgaram posições que indicam avanços na sustentabilidade. Os critérios envolvem emissões de gases de efeito estufa, desmatamento, uso de antibióticos, condições de trabalho e investimento em proteínas alternativas.
Mesmo figurando na categoria “médio risco”, a Marfrig comemorou o avanço de posições, de 11º para 4º lugar no ranking. De acordo com o diretor de Sustentabilidade e Comunicação Corporativa, Paulo Pianez, “é preciso considerar que o setor de carne bovina está no âmbito das proteínas animais que têm um grau de complexidade maior”, justifica. “Toda e qualquer empresa que atua no Brasil, principalmente em pecuária, tem esse grau de risco médio em função das questões de sustentabilidade ligadas à biodiversidade e à rastreabilidade da cadeia de fornecedores.”
Ele prevê, porém, que com as medidas anunciadas pela empresa este ano, sobretudo em relação ao rastreamento total da cadeia de fornecedores de gado, há chance de figurar, no ano que vem, como empresa de “baixo risco”. No Fairr Index, há apenas três classificadas assim: a Mowi, da Noruega (piscicultura); a Maple Leaf Foods (proteínas embaladas), do Canadá; e a Bakkafrost (piscicultura), das Ilhas Faroe. E, logo atrás, a Marfrig, já como “risco médio”.
Outra gigante global, a JBS, subiu da 17ª para a 9ª posição no Fairr Index. O presidente da companhia, Gilberto Tomazoni, vê “com bons olhos” esse avanço. “Isso é consequência de vários e importantes investimentos da JBS, tanto na área social quanto ambiental”, diz. “Não fazemos isso para evoluir nos rankings, e sim porque achamos que é o jeito certo de agir.” Recentemente, a JBS anunciou um amplo programa, o Juntos pela Amazônia, que compreende, entre outras medidas, a rastreabilidade total dos fornecedores de gado para a companhia e um fundo de preservação.
Na BRF, o VP de Qualidade, P&D e Sustentabilidade, Neil Peixoto, diz que ter avançado três posições no Fairr Index (da 13ª para a 10ª) “é mais um reflexo dos compromissos da BRF em prol da sustentabilidade e da gestão da cadeia de suprimentos como um todo”. Ele cita, por exemplo, iniciativas da companhia no setor de bem-estar animal, que devem ter contribuído para a melhoria da avaliação. “Isso reforça a aderência dos nossos processos ao Programa Global Bem-Estar Animal feito na empresa”, continua. “Além disso, acabamos de lançar a Política de Sustentabilidade, cujo objetivo é reforçar diretrizes, compromissos e princípios ambientais, sociais, de governança e financeiros alinhados à nossa estratégia.”
Defesa. A Minerva Foods, como única companhia brasileira que retrocedeu no índice, da 25ª para a 33ª posição, rebate alguns critérios de avaliação usados pelo Fairr Index. Um deles diz respeito à compra de soja de áreas desmatadas para alimentar o gado. Segundo o diretor de Sustentabilidade da Minerva, Taciano Custodio, a companhia praticamente não compra soja para seus confinamentos de gado. “Fizemos um levantamento para a Fairr e, nele, houve compras desprezíveis”, diz. “Temos confinamentos em Goiás, onde o gado se alimenta de farelo de milho; em São Paulo, usamos polpa cítrica, e, em Mato Grosso, milho e resíduos de soja”, explica. “Além disso, toda compra de commodities que vêm do setor rural passa pelo crivo de sustentabilidade da companhia e que, de acordo com o Ministério Público Federal do Pará, tem o melhor resultado entre os principais players do País.”
Outra crítica diz respeito à metodologia de “comunicação pura e simples” do Fairr Index. “Se olhamos um ranking internacional que não tem avaliação e não verifica na prática, há um descolamento entre o que é comunicado pelas empresas e o que se pratica de fato, e isso não só para o Brasil.” Custodio diz que o Fairr Index foi feito com dados anteriores à divulgação do relatório de sustentabilidade 2019 da Minerva. (Colaborou Julliana Martins)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.