O desempenho do mês de dezembro, que mostrou avanço de 15,4% na arrecadação sobre igual mês de 2019, proporcionou ao setor segurador brasileiro encerrar o ano de 2020 com alta de 1,3%, em comparação ao ano anterior, acumulando receita de R$ 273,7 bilhões e dando destaque aos seguros patrimoniais. O resultado exclui os ramos de saúde e o Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (Seguro DPVAT). Em relação a novembro de 2020, o crescimento observado em dezembro atingiu 34,8%. As informações foram divulgadas hoje (23), no Rio de Janeiro, pelo presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano. O segmento responde pela geração de mais de 170 mil empregos diretos no país.

“Se comparar com outros setores da economia, o resultado foi bom. Demonstra uma continuidade de penetração maior de seguros”, disse Coriolano à Agência Brasil. Explicou que dezembro é, tradicionalmente, um mês mais produtivo, de planejamento para o ano seguinte. “As próprias seguradoras estão fechando seus relatórios, seus balanço, e há uma natural hiperatividade nesse mês”, completou.

Marcio Coriolano informou que os planos de previdência complementar do tipo PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), tiveram expansão de 24,1%, em dezembro. Na análise anual, porém, mostraram queda de arrecadação de 1,4%. O setor segurador nacional em 2020 foi marcado por grande heterogeneidade.

Patrimônios

O presidente da CNseg informou que o ano de 2019 foi caracterizado por um crescimento mais forte de seguros de pessoas, com destaque para vida e PGBL e VGBL, por conta da reforma da Previdência e outros fatores, como estabilidade de preços. Já em 2020, ocorreu o inverso. O ano começou bem, com expansão de cerca de 12,5% para o setor, mas a pandemia do novo coronavírus, a partir de fevereiro, contribuiu para uma mudança de padrão, em termos da preferência da população. “Enquanto no ano de 2019 (prevaleceu) o seguro de vida, no ano de 2020 foram os seguros de patrimônios”. Isso aconteceu por dois efeitos, afirmou Coriolano: a covid-19 deixou as pessoas isoladas dentro de casa e elas passaram a dar mais atenção para seu patrimônio. “Faz seguro quem não tem”.

Esse movimento alavancou muito os seguros de propriedade particular, de construção, de comércio em geral. “Tudo que está relacionado a danos patrimoniais teve resultado favorável”. Exemplos são os ramos de seguros marítimo e aeronáutico (alta de 44%); rural (29,5%); responsabilidade civil (22,8%); crédito e garantias (17,8%); e patrimonial (10,2%). No sentido contrário, apresentaram queda o seguro de garantia estendida (-6,3%); títulos de capitalização (-4,1%); automóveis (-2,1%); e planos de acumulação, já citados (-1,4%). O segmento mais dinâmico no ano passado, de acordo com o presidente da CNseg, foi o de danos e responsabilidades, que evoluiu 6%.

“Tudo que está relacionado a riscos patrimoniais teve desempenho favorável. Apesar da covid-19, o setor de transporte de carga para abastecer não parou”, observou Coriolano. Por outro lado, a redução da atividade comercial, com menos pessoas comprando eletrodomésticos e bens de produção, e a grande volatilidade de ativos na economia e insegurança no lado político-institucional, acabaram impactando em seguros que têm também função financeira, como capitalização e seguros PGBL e VGBL, além do seguro de automóveis.

Provisões

As provisões técnicas, que garantem os riscos do sistema, atingiram o recorde histórico de R$ 1,202 trilhão, aumento de 7,5% sobre o exercício de 2019. Em sinistros, indenizações, benefícios, resgates e sorteios, o setor totalizou R$ 151 bilhões, sem saúde e seguro DPVAT. A alta registrada foi de 8,3% em relação ao ano anterior. “O volume de provisões cresceu mais do que o volume de negócios, por uma razão substancial. Porque acompanha o valor da importância do segurado e, também, a própria regulação do governo”. Coriolano lembrou que o governo ajudou vários setores da economia durante a pandemia, mas não o setor segurador, para dar qualquer alívio econômico-financeiro. Por isso, o provisionamento se manteve conservador, o que é positivo, porque fica isento de quaisquer oscilações que possam ocorrer.

Como houve um crescimento maior dos seguros patrimoniais em 2020, de maior valor, eles carregam um provisionamento maior junto. Esses ativos retornam ao país sob a forma de lastro para financiamentos e pagamento da dívida pública. O presidente da CNseg avaliou que fatores como a recuperação industrial, o arrefecimento da pandemia, estabilização da renda e da inflação e aumento da capacidade de compra do consumidor brasileiro podem levar a uma recuperação dos planos de previdência, ou aposentadoria complementar, que já começaram a demonstrar fôlego nos últimos meses.

Com a vacinação contra a covid-19, ele não tem dúvida que “as coisas podem melhorar”. “Já está acontecendo no resto do mundo”, disse.

Expectativa

Como os dados de janeiro de 2021 ainda não foram fechados, Marcio Coriolano afirmou que “não dá para arriscar” um cenário para este ano. Mas argumentou que uma maior estabilidade econômica e a vacinação em massa da população podem ajudar a levar o setor para um resultado positivo.

CNseg

A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) reúne as empresas que compõem o setor, divididas em quatro Federações (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap). A missão da CNseg é contribuir para o desenvolvimento do sistema de seguros privados, representar suas associadas e disseminar a cultura do seguro, concorrendo para o progresso do país.