Segundo maior banco de financiamento para o agro, o Sicredi prevê liberar R$ 4 bilhões em crédito rural para agricultores até o fim da safra 2023/2024, em junho. A maior parte desse valor deve sair da Agrishow, maior feira de agronegócios da América Latina, que é realizada nesta semana em Ribeirão Preto (SP).

Para este ano, a cooperativa deve focar em consórcios, para facilitar os investimentos dos agricultores a longo prazo. Segundo o diretor-executivo de Negócios e Crédito do Sicredi, Gustavo Freitas, a proposta dará mais flexibilidade e previsibilidade ao agricultor para obter maiores resultados durante a safra.

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“Estamos disponibilizando aqui algo diferente do crédito, que é o consórcio de máquinas, equipamentos e todos os implementos de que o produtor precisar”, afirmou.

“Só para você ter uma ideia, a gente bateu em março R$ 37 bilhões de carteira de consórcio, desses R$ 18 bilhões ou R$ 19 bilhões são dedicados a equipamentos para o setor agro. Para o produtor que não precisa comprar uma máquina imediatamente, fazer um consórcio é uma boa alternativa”, concluiu.

Além da aquisição de máquinas e equipamentos, o consórcio ainda contempla a compra de placas solares. Freitas acredita que o sistema é a principal alternativa para melhorar a efetividade energética no setor agro, além de atender aos requisitos de sustentabilidade.

“Buscamos linhas que permitem trazer recursos a custos competitivos e que estimulem, por exemplo, o lado sustentável das propriedades. São linhas que têm uma espécie de subsídio implícito em que o produtor consegue financiar com taxas boas e boas condições de prazos de pagamentos em oito, nove ou 10 anos”.

“Ele, basicamente, troca o custo da conta de luz que ele teria por esse custo obviamente do financiamento. Após o prazo de pagamento em curto período, ele vai ter um painel solar que dura 25, 30 anos, reduzindo o custo de forma permanente para o futuro”.

Atualmente, o endividamento do agro em março de 2023, segundo a Serasa Experian, atingiu cerca de 28% dos empresários ligados ao agronegócio. Entidades bancárias, porém, acreditam que esse número seja maior.

Entre o fim do ano passado e o começo deste ano, o oferecimento de crédito em melhores condições foi prejudicado com a taxa básica de juros, a Selic, em patamar elevado. Em janeiro deste ano, a taxa atingiu 13,75%.

Para esta safra, Freitas estima haver ainda R$ 4 bilhões para o financiamento do agro. Já a próxima, o valor deve ultrapassar a marca dos R$ 50 bilhões, com possibilidade de crescimento de até 15% em 2025/2026.

“A gente espera liberar, na safra 24/25, cerca de R$ 56 bilhões de crédito até junho. Isso é um crescimento em torno de 16% em relação à safra anterior. Em meio a isso, estamos já pensando na safra 2025/2026 em que estamos já prevendo mais um crescimento nessa faixa de valor. Para a próxima, devemos vir com condições melhores que a safra deste ano devido à taxa de juros. Temos uma grande expectativa para o crescimento do crédito nos próximos meses”.

Na safra do próximo ano, a situação econômica deve se estabilizar e há expectativa de alta nos financiamentos ligados ao agro. Segundo Freitas, com a Selic em 10%, a procura pela compra de maquinários deve subir consideravelmente.

“Saímos neste com uma taxa em torno de 13%, agora estamos com discussões para iniciar a nova safra em torno de 10%. Com juros um pouco menores, inflação mais controlada, a expectativa é muito boa. Trezentos pontos de taxa a menos para o produtor em um financiamento de 10 anos é uma diferença enorme na capacidade de crédito. Ele terá um custo muito menor”.

“Esse setor tem carregado de certa forma o sucesso do país. Ano após ano tem apresentado resultados positivos por conta desses empreendedores que estão lá na ponta. Esperamos cumprir a nossa expectativa e atender a nossa base de associados”.

Mulheres no centro dos investimentos

O Sicredi ainda aposta no agro feminino para alavancar o oferecimento de crédito para o setor. Segundo Gustavo Freitas, dos 700 mil associados ligados ao agro familiar, 25% são mulheres que buscam financiamento para investimentos no setor.

O número expressivo, segundo o diretor, deve subir nos próximos anos. Atualmente, cerca de 25% dos financiamentos consolidados do banco foram destinados para o público feminino.

“Boa parte dessas propriedades é liderada por mulheres. No caso do Sicredi, 25% dos financiamentos são de propriedades lideradas por mulheres. É um alvo nosso essas propriedades e a gente entende que a transição, a sucessão dentro da própria propriedade e até a gestão têm uma qualidade muito especial quanto têm uma mulher à frente”.

De acordo com o banco, mais de R$ 20 bilhões foram liberados até março em financiamentos para as mulheres.

“Nossa carteira para o pequeno agro é de R$ 83 bilhões de reais, fechando em março. Desses, cerca de R$ 20,5 bilhões são de financiamentos feitos para mulheres líderes de propriedades rurais. É uma aposta importante”, disse Freitas.

BNDES também lança nova linha

Além do Sicredi, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou a criação de uma linha de crédito para o setor produtivo. Batizado de CPR BNDES, a proposta pode liberar cerca de R$ 10 bilhões do próprio banco para o agro.

Segundo a estatal, o empréstimo poderá ser retirado via emissão de Cédulas de Produto Rural Financeira (CPR-F) ou de Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA). Após a formalização do pedido, um credenciado irá liberar o crédito ao produtor rural.

O limite de valor liberado para cada agricultor será de R$ 20 milhões. As taxas de juros ficarão em 1,3% ao ano, com os juros dos agentes financeiros limitados a 4,3% ao ano. O pagamento poderá ser estendido em 60 meses, com prazo de carência – sem contabilização de juros – em até 24 meses.