01/10/2011 - 0:00
OTIMISMO: “O sinal de positivo faz parte do jargão da empresa gaúcha”, diz Trennepohl
Era um grande dia para o empresário Gilson Lari Trennepohl, presidente da Stara, fabricante de implementos agrícolas situada no município de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul. Na quarta- feira, 31 de agosto, o empresário recebeu o troféu Gerdau Melhores da Terra, maior premiação da América do Sul para o setor de máquinas e equipamentos agrícolas, concedida há 29 anos pela siderúrgica Gerdau. A Stara ganhou o prêmio na categoria novidades com um equipamento para a pulverização de lavouras. Na foto oficial, Trennepohl acenava com um sinal positivo e o gesto se repetiu nas demais fotos para as quais posou naquele dia. “Esse sinal faz parte do jargão da empresa gaúcha”, dizia Trennepohl, referindo-se ao otimismo dos homens de negócios locais. Natural de Ibirubá, cidade distante quase 400 quilômetros de Porto Alegre, aos 51 anos, ele fala com simplicidade sobre sua trajetória no comando da empresa e, principalmente, do anúncio que fez recentemente ao mercado. Até 2015, Trennepohl pretende investir R$ 100 milhões do próprio bolso. Ele decidiu que 75% desse montante ficará no Brasil para a abertura de uma fábrica de tratores. Os restantes R$25 milhões serão empregados para entrar na Argentina, onde a Stara fechou, em agosto, uma parceria com a fabricante de tratores Pauny. “A Argentina é um grande mercado para as indústrias brasileiras e um competente produtor de soja, reconhecido pela sua qualidade em todo o mundo”, diz.
Do lado de lá: pioneira no País no desenvolvimento da agricultura de precisão, a empresa aposta em novas fronteiras
Recursos: R$ 25 milhões serão usados para fabricar máquinas no país vizinho
A Stara pretende iniciar, até março de 2012, a fabricação de pulverizadores e fertilizadores na unidade da Pauny, localizada em Varilas, na província de Córdoba. Segundo Trennepohl, a parceria com a empresa, líder do setor de máquinas e implementos agrícolas naquele país, facilitará os negócios da Stara ao ampliar sua rede de vendas. Até agora, as receitas obtidas pela Stara no mercado argentino eram de US$ 400 mil, por ano. “Um resultado insignificante”, afirma Trennepohl, de olho gordo sobre o potencial do agronegócio do país. “Há alguns anos, estamos em busca de oportunidade para vender nossos produtos para uma agricultura que produz anualmente 100 milhões de toneladas de grãos.” Em comparação com o Brasil, que está produzindo 161 milhões de toneladas de grãos nesta safra 2010/2011, em 66 milhões de hectares, o vizinho detém uma produtividade muito maior. A produção argentina está concentrada em 27 milhões de hectares, área inferior à metade da ocupada pela brasileira, segundo dados da FAO.
A decisão de levar tecnologia brasileira para os campos vizinhos tem justificativa. A Argentina vem anunciando regularmente barreiras à importação de produtos brasileiros. Para não perder mercado, indústrias de diversos setores da economia têm transferido parte da produção para o país, como telefonia e computadores. Atualmente, há cerca de 250 companhias brasileiras na Argentina, contra 60 há dez anos. No agronegócio, os empresários do setor querem embarcar na política da presidente Cristina Kirchner, que lançou um plano nacional de agricultura e pecuária para o período de 2016 a 2020. O objetivo é aumentar a produção de grãos do país para mais de 150 milhões de toneladas, por ano, e superar a marca de um milhão de toneladas de carne exportada na próxima década. As produções agrícola e pecuária respondem por cerca de 60% do PIB nacional argentino.
A todo vapor: até 2015, a Stara pretende aumentar a produção anual para 400 unidades
“A realidade do produtor desse país é totalmente diferente da que vivemos no Brasil”, diz Trennepohl. Segundo o empresário, os vizinhos precisam de tecnologia em máquinas e equipamentos para aumentar a produção das principais culturas, trigo e algodão. O governo quer deixar de importar, todos os anos, cerca de US$ 160 milhões em tecnologias, de acordo com o Ministério da Indústria. “A atual política faz parte de um grande esforço na reindustrialização do país”, afirma Trennepohl. Nos últimos 20 anos, a Argentina assistiu a uma deterioração significativa de seu parque industrial, que está obsoleto e sucateado. “A chegada dos empresários brasileiros também gera empregos, uma das medidas populares do pacote do governo”, diz. Para fabricar seus tratores e equipamentos, a Stara vai gerar 480 postos de trabalho. No primeiro ano está prevista a fabricação de 100 unidades e até 2015 a média aumentará para 400. O acordo, que definiu os investimentos da Stara na Argentina, foi assinado na presença da presidente Cristina Kirchner e dos ministros da Economia, Amado Boudou, e da Indústria, Débora Giorgi, no dia 18 de agosto.
Acordo: a presidente Cristina Kirchner e seus ministros pretendem estimular a tecnologia nos campos
De acordo com Júlio Gomes, gerente de novos projetos da empresa, na primeira fase os tratores serão importados do Brasil, mas já comercializados com a marca própria. Em um segundo estágio, a fábrica no Brasil receberá partes produzidas na Argentina para que o veículo seja montado e mandado de volta ao país vizinho. E, na terceira fase, em até cinco anos, a produção na Argentina será nacionalizada. “As vendas serão através da rede Pauny, que tem 66 concessionários”, diz Gomes, para quem o mercado argentino é estável e com demanda em torno de 1.200 a 1.300 máquinas por ano.
No Brasil, o investimento de R$ 75 milhões programados ainda não tem endereço certo. Apesar de a sede e de o parque industrial da Stara estarem localizados no Rio Grande do Sul, não está descartada a possibilidade de o novo projeto ser implantado em outro Estado. “O projeto é de uma fábrica para duas mil unidades”, diz Trennepohl.
Com cinco décadas de existência, a empresa de estrutura familiar fundada por Johannes Bernardus Stapelbroek, pai do sogro de Trennepohl, foi uma das pioneiras no País no desenvolvimento das “máquinas inteligentes”, ou seja, na tecnologia de agricultura de precisão. A aposta nesse setor teve um impacto direto no faturamento da empresa. Em 2009, a Stara fechou com receita de R$ 140 milhões. Em 2010, foram R$ 465 milhões. “As iniciativas tomadas em 2011 deverão gerar um faturamento inicial de R$ 550 milhões”, diz Trennepohl. No Brasil, a empresa vai produzir máquinas de 130 a 310 cavalos, direcionadas para médias e grandes propriedades, e entrar de vez no mercado de cana-de-açúcar. Além de vender no mercado interno, a intenção é aumentar a exportação de máquinas. Hoje, a Stara exporta para 35 países, que proporcionaram uma receita de US$ 17,5 milhões no ano passado. E, se alguém pergunta se a empresa vem com mais novidade por aí, Trennepohl responde: “Chê, só isso não é de tirar o sono?”