A Embrapa Florestas (PR) acaba de disponibilizar o software Planin_Matte que possibilita a análise econômica dos plantios de erva-mate considerando os diversos segmentos de custos operacionais de implantação, manutenção, manejo e colheita do erval. Voltado ao produtor, o sistema controla fluxos de caixa e realiza avaliações segundo os critérios de análise econômico-financeira mais utilizados no agronegócio.  “Com este sistema, pretendemos auxiliar o produtor de erva-mate na tomada de decisão para atividades de manejo e planejamento de seus plantios”, explica Joel Penteado Júnior, analista da Embrapa Florestas e um dos responsáveis pelo desenvolvimento do sistema.

A ferramenta é gratuita e pode ser baixada do site da Embrapa Florestas. O Planin_Matte deriva do software Planin amplamente usado pelo setor de florestas plantadas para análise econômica. Segundo Edilson Batista de Oliveira, pesquisador da Embrapa Florestas responsável pelo desenvolvimento do software, o sistema foi ajustado para atender às peculiaridades da cultura da erva-mate. O usuário fornece dados de custos e produção, e o sistema calcula os parâmetros de análise econômica mais utilizados para a avaliação da produção ervateira em diferentes períodos de colheita.

O fluxo de caixa é outra ferramenta do sistema e permite que o usuário acompanhe seus custos, emitindo relatórios dos gastos anuais. Para isso, são considerados parâmetros como: quantidade dos direcionadores de custo, gastos envolvidos em cada componente da estrutura de custos divididos em grandes grupos como serviços e insumos, por exemplo.

Por meio do software é possível saber a taxa mínima de atratividade (TMA) da produção, ou seja, o percentual mínimo que a cultura deverá retornar financeiramente para que valha a pena. O sistema traz outros parâmetros econômicos importantes como o valor presente líquido (VPL) e a taxa interna de retorno (TIR). O VPL apresenta em valores atuais a somatória de resultados obtidos pela atividade. VPL negativo indica inviabilidade do negócio. A TIR é a taxa de juros que torna o VPL igual a zero, indicando ao produtor que ele precisa de um retorno maior do que a TIR para que o investimento se torne viável.

Outro item trabalhado pelo Planin_Matte é a análise de sensibilidade da rentabilidade a diferentes taxas de atratividade. “Isso faz com que o produtor saiba se, naquele regime de manejo, o cultivo da erva-mate está sendo mais rentável do que outros tipos de aplicação, como uma poupança, por exemplo”, explica Edilson. Com a ferramenta, o produtor faz simulações a partir de dados do fluxo de caixa e analisa mudanças de cenários, possibilitando a verificação do que aconteceria se os valores fossem mudados.

Historicamente, a erva-mate tem sido fundamental para a economia de muitos municípios do Sul do Brasil. Atualmente é o principal produto não madeireiro do agronegócio florestal na região. No entanto, o setor ervateiro, que já foi responsável por um ciclo econômico no qual era chamado de “Ouro Verde”, passou por um longo período de estagnação, com consequente queda nos investimentos e no desenvolvimento de tecnologias. Com potencial para desenvolvimento de novos produtos e a descoberta pelo mercado internacional, o setor precisa inovar para atender estas novas demandas. “Todo estabelecimento agrícola produtivo, independente do seu tamanho, precisa gerar retorno econômico para sobreviver. É importante que se tenha conhecimento técnico e noções de controle financeiro, só assim é possível medir o desempenho das atividades, pois o adequado planejamento técnico e financeiro é fundamental para o sucesso produtivo e obtenção de lucro”, orienta Penteado.

Apesar de deter uma boa base produtiva, o setor ervateiro ainda é pouco tecnificado. “Por ter uma origem carregada de tradições quanto ao cultivo, processamento e consumo, um dos principais gargalos que a cadeia produtiva da erva-mate apresenta é o sistema de produção, que é praticamente o mesmo de 40 anos atrás”, exemplifica Penteado. A utilização de sistemas que possam apoiar o produtor na gestão e tomada de decisão pode ajudar o setor a se modernizar.

Importância do setor ervateiro

A produção mundial de erva-mate está concentrada em três países sul-americanos: Brasil, Argentina e Paraguai. A produção brasileira de erva-mate verde é de, aproximadamente, 935 mil toneladas, da Argentina é de 778 mil t e, do Paraguai, 85 mil t.

No Brasil, o Estado do Paraná é o maior produtor com 512.412 toneladas, seguido do Rio Grande do Sul com 296.437 e Santa Catarina, com 123.810. A erva-mate brasileira é exportada em pequena escala para trinta países e o maior importador é o Uruguai.

Fazem parte da economia ervateira aproximadamente 700 indústrias beneficiadoras, cerca de 150 mil pequenos produtores rurais, localizados em mais de 480 municípios, propiciando em torno de 700 mil empregos.

Aproximadamente 80% da produção brasileira de erva-mate destina-se ao mercado interno, sendo que 96% é consumida como chimarrão e 4% na forma de chás e outros usos. Entretanto, há um amplo mercado com potencial para ser trabalhado, principalmente fora do Brasil. Diversos países têm descoberto o potencial da erva-mate para compor outros produtos, como chás, energéticos, suplementos alimentares, cosméticos, outros tipos de bebida e produtos de limpeza. Esses países têm demandado matéria-prima bruta do Brasil e da Argentina. Vislumbra-se, portanto, um amplo espaço para atender estes mercados, tanto para fornecimento de matéria-prima como para fabricação desses novos produtos.

Por se tratar de uma planta cuja composição química possui compostos de interesse e propriedades benéficas ao organismo, podem-se prever muitas aplicações, que podem ampliar o mercado e também a aumentar o valor agregado do produto, desde que sejam exploradas em novos padrões de industrialização.

Para isso, é necessário que o setor ervateiro se organize e desenvolva os mecanismos necessários para viabilizar novas formas de processamento, melhorar ou adequar a qualidade da matéria-prima e implementar sistemas de produção que permitam estabilizar o volume da produção, em especial com a melhoria na gestão das propriedades ervateiras. “Devido ao seu grande potencial econômico, social e ecológico, a cultura ervateira se constitui numa das melhores opções de emprego e de renda, especialmente para os pequenos e médios produtores rurais que desenvolvem suas atividades em ervais nativos e plantados no Sul do Brasil”, finaliza Joel. Fonte: Embrapa