23/01/2019 - 15:19
O tradicional e bilionário mercado de fertilizantes está mudando. Onde antes imperavam sozinhas multinacionais como a norueguesa Yara Internacional e a americana Mosaic – além de brasileiras como a Fertipar, do Paraná, e a Heringer, de Minas Gerais –, estão cada vez mais em evidência empresas de pequeno e médio porte, caso das paranaenses Superbac e Redi, e das mineiras Yoorin e Geociclo. O motivo? Uma onda de inovação de fórmulas em nutrição vegetal, desenvolvidas por essas empresas, passou a atrair o produtor. Nessa competição com as formulações sintéticas, entram os chamdos fertilizantes biotecnológicos, organominerais, orgânicos e biológicos. “Somos classificados como fertilizantes especiais, mas estamos na briga por espaço na agricultura de grande escala”, afirma o administrador de empresas Luiz Chacon, 43 anos, CEO e fundador da Superbac. “A nossa tecnologia pode competir por igual com a das grandes.” O executivo está atrás de uma fatia dos R$ 29 bilhões movimentados pelo setor de fertilizantes no ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
A oportunidade é grandiosa para um setor formado prioritariamente por formulações importadas. Dos 34,4 milhões de toneladas vendidos ao produtor rural no ano passado, 76,5% vieram de fora do País, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Com sede em Mandaguari (PR) e especializada em biotecnologia, a Superbac atende, além do agronegócio, os setores de higiene, saneamento e óleo e gás. “O agronegócio é o carro-chefe da companhia.” O campo responde por 80% do faturamento da empresa. No ano passado, a receita foi de R$ 286,2 milhões. Este ano, a expectativa é faturar R$ 450 milhões e, em 2019, a projeção é chegar a R$ 740 milhões.
Se o prognóstico de Chacon estiver certo, a empresa quadruplicaria seus ganhos desde 2016. Esse crescimento é puxado por investimentos de R$ 110 milhões nos últimos dois anos e que vão culminar em mais duas fábricas. O executivo não revela onde as unidades serão construídas, mas afirma que a empresa sairá de uma capacidade instalada de 600 mil toneladas de fertilizantes por ano para um milhão de toneladas. “A empresa veio para substituir processos tradicionais. O foco é produtividade e sustentabilidade.” O fertilizante da empresa é feito a partir de dejetos da avicultura e está patenteado no Brasil, nos EUA e na China.
É esse produto que responde por grande parte do gradual aumento de produtividade das lavouras de soja, milho e feijão da fazenda Liberdade, de 3,5 mil hectares no município de Unaí, no interior de Minas Gerais. Segundo o agricultor Régis Wilson Nunes Ferreira, 43 anos, sócio da propriedade junto com seu irmão, Robson Emanuel Nunes Ferreira, a formulação vem dando resultados. “Gostamos de fazer testes e experimentar o que há no mercado”, diz. “Temos visto o rendimento crescer há cinco safras.” A produtividade de soja e milho tem saltado cerca de 5% por safra. A oleaginosa saiu de 51,8 sacas de 60 quilos por hectare para 63 sacas na safra passada, 9,6% a mais que o rendimento no município e 9% a mais, no Estado.
O milho saiu de 106 sacas por hectare para 130 sacas, 30% a mais que a média municipal e 21,8% superior à produtividade estadual. Já o feijão, que cresceu 8% ao ano em produtividade, chegou a 58 sacas por hectare. O resultado põe o produtor próximo dos municípios de maior de produtividade de feijão no País, como Guabiruba (SC), o líder, com 66,66 sacas por hectare, e Turvelândia (GO), com 60 sacas por hectare. Além de sua área própria, os irmãos cultivam em mais 12,1 mil hectares arrendados. Hoje, a fertilização biotecnológica cobre 80% da área cultivada pelos agricultores e 20% com fertilizantes sintéticos. “Podemos até chegar a 100%, mas o ideal é estar de olho em tudo. Quanto maior for a concorrência entre as empresas, melhor para nós.”