18/02/2013 - 11:55
O algodão colorido da Paraíba, valorizado pela pegada ecológica por evitar o tingimento químico e promover a economia de água no processo industrial, está ameaçado pela seca que atinge o Estado desde o ano passado. Mas, além da seca, desde 2003 há uma queda das áreas destinadas ao cultivo, que recuaram de dois mil hectares para menos de 60 hectares plantados. A produção da fibra naturalmente colorida, que foi de aproximadamente 75 toneladas, em 2011, caiu para cerca de 30 toneladas na safra 2012. A indústria têxtil, que amargou prejuízos, começa a buscar soluções para que o resultado não se repita em 2013. “O ano passado foi o caos”, diz Francisca Vieira, diretora da Natural Cotton Color, grupo que reúne seis empresas do setor, com sede na capital João Pessoa. “Precisamos recuperar a produção que vem caindo muito nos últimos anos e investir em estocagem da matéria-prima.”
A fabricação de roupa feminina pela indústria têxtil teve uma queda de 25%, de 24 mil peças em 2011 para 18 mil peças no ano passado. “Mais de 30 peças foram tiradas de linha por falta de algodão colorido”, diz Francisca. O balanço poderia ter sido muito pior, não fosse uma medida emergencial para salvar as coleções do grupo. “Invertemos a cartela de cores e criamos novas padronagens de tecido, usando o algodão convencional in natura”, diz Francisca.
Para amenizar o problema, a Natural Cotton Color foi ao campo garantir a sua matéria-prima para a próxima coleção e vai pagar mais caro pelo produto. “Firmamos contratos com 20 produtores e vamos pagar R$ 2,50 pelo quilo do algodão”, diz Francisca. Na safra passada, o preço oscilou entre R$ 1,60 e R$ 1,80. As próximas compras serão na região do Agreste, próximo de Campina Grande, onde há mais possibilidade de chuva. Nos últimos anos, o algodão colorido era tradicionalmente cultivado na região do Alto Sertão paraibano, próximo dos municípios de Cajazeiras e Patos, fortemente afetados pela estiagem.
As cultivares geneticamente modificadas que popularizaram a fibra colorida foram lançadas no ano 2000 pela Embrapa Algodão, de Campina Grande, e viraram uma febre na Paraíba. Em meados de 2003, o Estado registrou quase dois mil hectares destinados a esse cultivo. No entanto, segundo o analista da Embrapa, Gilvan Ramos, por falta de compradores e preços competitivos, os agricultores foram perdendo o interesse pela cultura. “A crise vem ocorrendo de maneira gradativa”, diz Ramos. Mas, para ele, ainda é possível reverter o quadro. “A cadeia produtiva precisa de organização e estamos iniciando o processo.” Foi criado um comitê gestor que no ano passado começou a buscar meios de valorizar o produto. “Precisamos rastrear a produção e ter preço mínimo para a estocagem do produto”, diz Ramos.