24/10/2012 - 15:52
O salmão já é figurinha carimbada em praticamente todos os cardápios de restaurantes brasileiros. Nos últimos anos, as diferentes maneiras de servir o pescado de carne rosada têm conquistado o paladar dos brasileiros, desde os mais endinheirados que frequentam restaurantes de luxo até a clientela de restaurantes por quilo e fast-foods. De olho no mercado brasileiro, o ProChile – Direção de Promoção de Exportações, órgão vinculado ao Ministério de Relações Exteriores do Chile, tem incentivado a indústria local a investir no Brasil. Em julho, 26 produtores se uniram para criar a marca Salmón de Chile, com uma grande campanha publicitária iniciada em agosto. No mês passado, o peixe com a marca chegou ao mercado consumidor brasileiro. Segundo Melanie Whatmore, gerente da Salmón de Chile, a campanha está orçada em US$ 2 milhões. “Queremos o consumidor de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que frequenta hipermercados de ponta, como Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart”, diz Melanie.
Dos três gigantes, o Carrefour já foi fisgado pelos chilenos. A rede varejista realizou uma auditoria naquele país e aprovou três centros de cultivo da marca Salmón de Chile, nos municípios de Puerto Varas, Llanquihue e Calbuco, no litoral do centro-sul do país, onde a água do mar é mais fria. “São as baixas temperaturas do oceano que dão ao salmão um sabor mais intenso que agrada ao consumidor do peixe”, diz Melanie. O produto chileno já está em lojas do Carrefour de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. A expectativa da rede é comercializar pelo menos 150 toneladas de salmão por mês.
Com a nova marca, os produtores chilenos querem aumentar em 50% as vendas do peixe no País, até o fim de 2013. Para isso, eles terão de passar das atuais 38 mil toneladas do pescado, embarcadas ao Brasil no ano passado, para 57 mil toneladas. “O mercado brasileiro é o nosso principal alvo, pelo potencial de expansão do consumo e pela proximidade com o Chile”, diz Melanie. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior destino das exportações chilenas, atrás dos Estados Unidos e Japão. O Chile é o segundo maior produtor mundial de salmão, atrás da Noruega, com mais de 700 mil toneladas processadas por ano. O país andino detém 36% da produção global, e a Noruega 43%. No ano passado, as exportações do pescado renderam US$ 3 bilhões. De acordo com uma projeção da Salmón de Chile, até 2016 essa receita deve superar os US$ 5 bilhões.
Os produtores chilenos reagiram com rapidez ao baque que sofreram com a queda da produção, entre 2007 e 2012. Nesse período a exportação caiu mais de 20%, causada por uma doença, a anemia infecciosa do salmão (ISA, na sigla em inglês) e os centros de cultivo deixaram de empregar 50 mil trabalhadores. Hoje, para proteger os tanques de criação, e consequentemente a indústria, os produtores têm apertado as regras de manejo. O peixe passa por três etapas até a sua distribuição. No laboratório, os ovos são extraídos das fêmeas, selecionados e misturados com o sêmen dos machos, na chamada fertilização in vitro, técnica de reprodução em ambiente controlado. Durante a fase jovem do salmão, ele é transferido dos tanques de água doce para os tanques flutuantes no mar, onde permanece por cerca dois anos, até atingir o peso comercial, entre três e quatro quilos. Na natureza, o peixe atinge cerca de 70 centímetros de comprimento e pode pesar até oito quilos.
Outro fator que influencia na qualidade do peixe é a ração. Segundo Melanie, não pode haver na dieta do salmão pigmentos sintéticos, como tintas que interferem na coloração do peixe. “O salmão tem carne branca”, diz. “A cor rosa vem de algas e organismos que são ingeridos pelos camarões, comidos pelos salmões”, diz Melanie. Mas é muito comum encontrar no mercado peixe colorido artificialmente com produtos derivados da mesma substância que dá cor a tomates, pimentas, beterrabas e cenouras, e que se passam por salmão. A falta de conhecimento é o principal motivo do consumo equivocado. “Queremos que os brasileiros digam não a esse peixe falsificado”, diz Melanie.
Apesar de ser um produto já identificado com o gosto do brasileiro, a história do salmão no País é recente. Nos anos 1980, o peixe só era encontrado em pratos requintados e para poucos, numa época em que o País mantinha suas portas fechadas às importações. Na década seguinte, com a liberação das importações, e com a popularização da culinária japonesa nos grandes centros urbanos, o pescado definitivamente garantiu seu espaço no Brasil. Além do Chile e da Noruega, outros países produtores de salmão, como o Canadá e a Escócia, também investiram na produção em cativeiro, aumentando ainda mais a oferta mundial do pescado. Atualmente, mais da metade da produção global, de aproximadamente dois milhões de toneladas por ano, é feita em tanques-rede.
Segundo Rodrigo Roubach, biólogo da Secretaria de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), o mercado brasileiro de salmão está aberto a outros países, porque o Brasil não tem a mínima condição de competir com os estrangeiros. “A produção local é inviável”, diz Roubach. De acordo com ele, a limitação de áreas propícias no mar, com poucos trechos do litoral em que a temperatura fica entre 10 e 12 graus centígrados, e a legislação que determina a importação de reprodutores da espécie – por se tratar de um peixe exótico, não encontrável em águas brasileiras –, colocam por terra qualquer tentativa de investimento no setor. “A produção de salmão no Brasil só seria possível em sistemas fechados, com água salgada e doce, altamente intensivos e de alto custo”, afirma. Já as águas frias do mar do Chile são ideais para a criação. No ano passado, o embarque das 38 mil toneladas de peixe chileno, do total de 41 mil toneladas importadas pelo Brasil, rendeu àquele país US$ 282 milhões. Só no primeiro semestre deste ano, as importações brasileiras de salmão aumentaram 77%, na comparação com 2011. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), foram 28,5 mil toneladas de salmão no período. Sem contar que, no cenário geral da pesca, o País praticamente engatinha. Há hoje um déficit na balança comercial brasileira de pescados de US$ 748 milhões. “Ainda há espaço para muito salmão chileno no Brasil”, diz Roubach.