O Brasil é um dos principais produtores de alimentos, fibras e bioenergia do mundo. Suas estratégias e seus programas de sustentabilidade na agropecuária já trazem resultados, com enorme potencial de consolidação, se forem conciliados os projetos em andamento do e para o setor, que visam uma nova gestão política e econômica. Para o País atender à projeção de sua participação – de 40% – na demanda global de alimentos, que deve crescer 20% até 2030, serão necessários rearranjos irrefutáveis entre o comércio mundial e as discussões climáticas.

Nesse contexto, torna-se necessário dentre os países unificar as negociações internacionais de comércio e clima, definindo critérios objetivos, claros e comparativos, para priorizar a produção de alimentos oriunda de regimes sustentáveis, ante os demais sistemas. Esses critérios devem ser amplamente difundidos, para que a população consumidora final reconheça o valor agregado dos produtos sustentáveis. Só será possível construir uma nova ordem mundial ao partir do engajamento dos principais países produtores e dos consumidores de alimentos.

Esse debate deve envolver questões relacionadas à apropriação de valores às novas práticas, o redimensionamento do significado dos custos de oportunidade, das fatias de mercado, dos tributos entre outros critérios, mesmo que em termos estimados. É importante desenvolver sensibilidade econômica em relação à magnitude da discussão.

A reunião dos países em torno das metas climáticas durante a Conferência do Clima em Paris já sinaliza que essas mudanças vão além das fronteiras nacionais. Este esforço tem implicações de natureza política e econômica, nada triviais, pois a abertura deste debate no âmbito global produzirá consequências surpreendentes e não antecipadas no contexto das negociações internacionais de comércio.

Ao mesmo tempo, a convenção climática deve representar o primeiro acordo global, definido a partir das diretrizes e dos compromissos individuais e coletivos dos países em relação aos seus respectivos modelos de crescimento nos próximos 80 anos.

O Brasil é candidato a líder nesta discussão por algumas razões. Além de reunir as condições naturais que o tornam protagonista-chave do mercado global de produtos agropecuários, o País avançou rápido na implantação das inovações tecnológicas nos últimos anos. O agro brasileiro também possui capacidade para discutir standards globais destes mercados à luz dos valores e também das tecnologias disponíveis e em desenvolvimento.

O Brasil é um “global player” de peso nas arenas ambientais e agropecuária. Seu exercício no papel de “soft power” no avanço da agenda ambiental global o coloca em uma posição privilegiada neste debate.

Para apresentar-se ao mundo, o Brasil realizou ações internas no setor e no campo político nos últimos tempos, produzindo mudanças necessárias na infraestrutura institucional, como leis, normas e práticas. O País se prepara para ser bem-sucedido na produção de mais e melhores alimentos, a custos bastante competitivos, usando menos terra de lavoura e tamanho de rebanho e área de pastagem cada vez menores.

Neste sentido, o Brasil já possui um arcabouço legal que o projeta como precursor nas discussões sobre o desenvolvimento de um novo modelo econômico para os próximos cem anos.

No terreno do avanço político, a recente legislação ambiental, amparada no Código Florestal, aprovada em 2012, significa outro passo importante na conquista de uma agricultura sustentável. O proprietário rural no Brasil passou a ser obrigado a preservar entre 20% e 80% de sua propriedade conforme especificação rígida da lei.

Esta regra garante a proteção de Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais nas fazendas. Hoje, mais de 65% do território brasileiro são reservas ambientais, das quais 50% são áreas preservadas pelos proprietários rurais.

Em termos relativos e absolutos, observa-se a contribuição significativa do Brasil ao mundo para o equilíbrio ambiental global. Dos 850 milhões de hectares de área total do território brasileiro, 62% são compostos por matas nativas e áreas preservadas. Na Europa e nos Estados Unidos, para termos de comparação, a cobertura florestal – diga-se, a maior com árvores plantadas – representa menos de 30%, enquanto na China e Índia, o percentual é estimado em 20%.

Apesar de ser o segundo maior produtor de alimentos no mundo, o Brasil ocupa apenas 8% da sua superfície com agricultura e 20% em produção extensiva de gado, considerando as áreas de proteção especial, como reservas para povos indígenas e o uso urbano e para infraestrutura,

As emissões de gases de efeito estufa provenientes do setor agropecuário em 2005 foram cerca de 460 MtCO2eq (Mt CO2eq é a unidade de medição para quantificar a emissão de dióxido de carbono), considerando as emissões diretas das atividades e o balanço de carbono no solo. Se os investimentos necessários forem aplicados na agropecuária brasileira, os resultados obtidos poderão ser superiores às metas propostas pelo governo brasileiro na Conferência de Paris.

O impacto da implantação dessa nova economia agrária no Brasil deverá resultar em emissões inferiores a 280 MtCO2eq por ano, ou seja, menos de 22% das emissões totais brasileiras em 2030. Somada à contribuição do Código Florestal, teremos uma redução de 43% até 2030.

Tanto na agricultura como na produção bovina a pasto, há substanciais ganhos na fixação de carbono. Além disso, as áreas liberadas pela intensificação das pastagens de baixa eficiência terão um destino produtivo, seja pela conversão para agricultura ou, ainda, para o desenvolvimento de modelos florestais integrados, pela Integração Lavoura, Pecuária e Floresta e para usos comerciais.

Dessa forma, a atividade rural brasileira produzirá mais, contribuindo, de forma clara e crescente para o desenvolvimento de uma nova economia, mais competitiva e com benefícios climáticos e ambientais para nosso planeta…

É responsabilidade do mundo todo buscar uma solução para o dilema existente entre alimentar a população crescente e preservar seus recursos naturais, ameaçados pelo efeito estufa.

O Brasil possui todos os requisitos e riquezas naturais, dispõe de uma sofisticada e amplamente implementada tecnologia tropical, mostra ao longo dos últimos anos uma crescente produtividade que protege o ambiente, e, acimade tudo, possui produtores rurais espalhados por todo o País com capacidade de vencer esse desafio, como já fizeram em outros momentos bem mais difíceis no passado.

A partir de agora, a comunidade internacional tende a se voltar cada vez mais ao Brasil, atraída tanto pela produção agropecuária quanto pela oportunidade de investimento e retorno da potência alimentar. Por sua vez, o País faz conhecer sua a realidade e discutir o interesse pelas perspectivas de uma produção eficiente aliada à preservação ambiental.

Os pilares que reúnem os amplos recursos naturais – terra, sol e água -, a intensificação da capacidade da tecnologia tropical, que permite criarmos modelos tais como o sistema de integração lavoura, pecuária e floresta, e a pujança do agro brasileiro demonstram um futuro promissor na convergência das relações do clima, das atividades comerciais e do bem-estar das Nações. Certamente, será necessário ao País aprofundar a gestão desse novo modelo, que concilie a capacidade tecnológica e produtiva às exigências de manutenção dos recursos naturais, sem perder a competitividade.

Estamos em construção de um novo modelo de produção alimentar e energético, que pode lançar o Brasil como principal referência em relação a um novo padrão de produção e como importante força de paz no mundo.