02/05/2025 - 15:00
Os brasileiros têm sentido bem o aumento nos preços dos alimentos no bolso. Segundo o mais recente IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado em abril, o grupo de Alimentos e Bebidas teve alta de 1,14% na comparação com o mês anterior. O grupo foi responsável por 60% da alta do índice no mês.
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O governo federal tem buscado alternativas para amenizar os impactos dessa alta no custo dos alimentos. Mas uma notícia pode aliviar a pressão nos preços, a supersafra.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que a produção brasileira de grãos na safra 2024/25 deve alcançar 328,31 milhões de toneladas, um crescimento de 10,3%, ou 30,6 milhões de toneladas a mais, em comparação com a temporada anterior, 2023/24, que rendeu 297,75 milhões de toneladas.
Caso esse panorama se confirme ao final do ciclo, será um novo recorde para a produção na série histórica da Conab.
De acordo com o economista Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital, o ponto-chave para entender os efeitos da super safra é o conceito econômico de oferta versus demanda.
“A supersafra gera um aumento ‘súbito’ de oferta que não costuma ser acompanhado de um mesmo movimento na demanda, o que faz com que os preços caiam”, explica.
Segundo Marcelo Cunha, professor e consultor de Negócios da Faculdade UNA, de Minas Gerais, o aumento na oferta tende a exercer pressão para que os preços de itens como arroz, feijão, milho e carne diminuam.
“A supersafra de grãos impacta indiretamente o preço da carne por meio da redução nos custos de produção. Com a ração mais barata, os pecuaristas podem aumentar a produção, elevando a oferta de carne no mercado. Essa maior oferta, se não acompanhada por um aumento proporcional na demanda, pode levar à queda nos preços”, explica Marcelo Cunha.
Quando os preços começam a cair?
Entretanto, o preço no bolso do consumidor não deve ser imediato, já que antes de chegar às prateleiras, é preciso considerar o tempo necessário entre a colheita, comercialização, processamento, logística de distribuição e exposição no varejo.
Marcelo Cunha explicou que a maior parte da safra de verão da soja, primeira safra de milho e a safra de arroz terão sua colheita concluída até maio deste ano, com a comercialização para o mercado doméstico se intensificando entre abril e junho. Sendo assim, o consumidor deve começar a perceber uma redução mais significativa nos preços a partir do final do segundo trimestre.
“Se tudo correr bem, sem problemas logísticos e sem explosão nas exportações, alimentos como arroz, milho e derivados de soja devem ficar mais baratos no supermercado a partir de junho de 2025”
Maior disponibilidade de milho pode reduzir preço das carnes
A Conab estima uma produção total de milho de 3,3 milhões de toneladas, crescimento de 7,7% em relação à última safra. O milho é a base da alimentação de bovinos, aves e suínos, ou seja, fundamental para a cadeia de proteínas. Sendo assim, o preço do milho influencia diretamente o custo da carne, do leite e dos ovos.
“O milho é um dos grãos mais prejudicados por gargalos logísticos e falta de armazéns. Com a supersafra, o risco de perdas aumenta, o que pode forçar a venda rápida e, portanto, queda mais rápida de preços”, afirma Marcelo Cunha.
O que mais impacta o preço dos alimentos?
Além de uma produção maior, outros fatores interferem nos preços que chegam ao consumidor. Um deles é o transporte. Marcelo Cunha explica que apesar da supersafra, a logística tem interferência direta nos custos. Ele cita como exemplo um aumento de frete registrado no Mato Grosso, que segundo ele subiu 62% entre janeiro e fevereiro de 2025.

As condições climáticas também não podem ser descartadas. Eventos climáticos extremos, como secas ou enchentes, podem afetar a produção e, consequentemente, os preços. Produtos como hortaliças e frutas, que têm ciclos mais curtos e maior sensibilidade ao clima, costumam ser mais afetados que outros.
Outro ponto de atenção deve ser a taxa de câmbio. Grãos como milho e soja são commodities exportadas. Se o dólar estiver valorizado, produtores tendem a exportar mais, diminuindo a oferta interna e mantendo os preços altos. Assim, se o real estiver valorizado, as exportações ficam menos vantajosas, e mais produtos ficam no Brasil, o que contribui para reduzir os preços internamente.