23/01/2024 - 11:43
Rio, 23 – A balança comercial fechou o ano de 2023 com um superávit de US$ 98,8 bilhões, o segundo recorde consecutivo, puxado pela soja, petróleo e minério de ferro. Para este ano, porém, há incertezas em relação ao crescimento da China e da Argentina, grandes parceiros do Brasil, segundo o relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta terça-feira, 23.
“Não há consenso de qual será o crescimento da China: o governo do país estima em 5,2%, mas os analistas de mercado e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimam algo entre 4% e 4,5%”, diz a FGV no relatório.
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O documento, porém, aponta que a desaceleração não deve ter um forte impacto negativo nas exportações brasileiras, porque os produtos demandados pela China estão associados a requisitos alimentares e de energia. “A dúvida pode ser o minério de ferro, que depende dos investimentos em infraestrutura.”
No caso dos Estados Unidos, se o ritmo de crescimento do país desacelerar, o mais provável é que haja uma queda na demanda por produtos brasileiros, diz a FGV. Na Argentina, não há sinais de recuperação no próximo ano, o que também diminui a chance de um novo recorde no superávit comercial brasileiro.
“Do lado das importações, apesar da previsão de menor crescimento do produto brasileiro para 2024, é esperada uma pequena melhora no desempenho da indústria de transformação, o que elevaria as importações. No caso dos preços, as incertezas dominam em relação ao petróleo e as tensões geopolíticas e, no caso de produtos agropecuários, aos efeitos climáticos”, acrescentou.
A expectativa da secretaria de Comércio Exterior é de um saldo positivo ainda elevado para a balança comercial em 2024, de US$ 94,4 bilhões. O Boletim Focus mais recente, porém, aponta que o mercado está mais pessimista que o governo, prevendo superávit de US$ 76,9 bilhões.
Em 2023, o valor exportado pelo Brasil foi de US$ 339,7 bilhões, um aumento de 1,7% em relação ao ano anterior, e as importações registraram o valor de US$ 240,8 bilhões, um recuo de 11,7% na mesma comparação.
Em 2022, as variações em valor dos fluxos de comércio foram lideradas pelos preços, 13,7% para exportações e 21% para as importações, e o volume cresceu a taxas inferiores à dos preços. Em 2023, os preços caem para os dois fluxos de comércio e para o volume importado (-2,2%). O único resultado positivo foi para o volume exportado, 8,7%.
As exportações de commodities explicam mais de 50% das exportações brasileiras desde 2009, quando o porcentual foi de 53%. Em 2022, a participação foi de 68% e, em 2023 aumentou ligeiramente para 69%. A variação no volume exportado das commodities foi de 14,2% e das não commodities de -1,9% entre 2022 e 2023.
Segundo a FGV, “observa-se que o volume exportado das commodities mostra uma tendência ascendente e a variação anual de 14,2% foi a maior da série, desde 2008. Antes, a maior variação havia sido de 13,5%, entre 2014 e 2015”.
Os preços registram um comportamento cíclico. A maior variação ocorreu em 2010, de 31,3%, acompanhada de uma variação no volume de 7,5%. Em 2023, a liderança no volume (14,2%) foi acompanhada pela queda de preços em 9,3%.
O comportamento de queda de 9,6% nos preços importados e no volume importado (2,2%) entre 2022 e 2023 se repetiu para as commodities e não commodities. Ressalta-se, porém, que o recuo no preço das commodities em 17,3% superou o das não commodities, 8,6%. Em termos de volume, a diferença na queda foi menor: commodities recuaram 3,5% e não commodities, 2,0%. A queda nos preços importados reverteu a pressão inflacionária observada em 2022.
Como o recuo nos preços importados (-9,6%) superou o das exportações (-6,4%), os termos de troca aumentaram 3,6% entre 2022 e 2023, revertendo a queda de 2022. Na série histórica desde 2008, o maior índice dos termos de troca foi o de 2011, 121,5, quando os preços exportados subiram 23,2% e os importados em 14,5% entre 2010 e 2011. Em relação ao índice de 2011, os termos de troca de 2023 caíram 7,2%.