08/05/2023 - 15:55
Diante do registro de surto do vírus de Marburg – letal e da mesma família do Ebola – na Guiné Equatorial e na República Unida da Tanzânia, decretado no início de fevereiro e fim de março, respectivamente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta segunda-feira, 8, que continua monitorando de perto a situação nos dois países africanos.
Conforme a OMS, as autoridades de saúde de ambos os países demonstraram um forte compromisso político. “Nas últimas semanas, eles fortaleceram ainda mais as funções críticas de resposta, como vigilância de doenças, inclusive nos pontos de entrada; atividades laboratoriais; gestão de casos clínicos; prevenção e controle de infecções; comunicação de riscos e envolvimento da comunidade; e apoio operacional e logístico com apoio da OMS e parceiros”, afirmou a entidade.
Em março de 2023, a OMS já avalia o risco à saúde pública representado pelos surtos na Guiné Equatorial e na República Unida da Tanzânia como muito alto em nível nacional, moderado em abrangência regional (África) e baixo para o risco global.
A doença de Marburg causa febre hemorrágica, com taxa de letalidade de até 88%, de acordo com a OMS, o que faz dele um dos vírus mais mortais do mundo. O quadro começa abruptamente, com febre alta, dor de cabeça e mal-estar intensos.
Guiné Equatorial
Desde a declaração do surto em 13 de fevereiro deste ano na Guiné Equatorial, um total de 17 casos foram confirmados, além de outros 23 prováveis, conforme foram relatados até 1º de maio. Entre os casos confirmados por laboratório, foram registradas 12 mortes. Para um caso confirmado, porém, o resultado da doença ainda é desconhecido. Com relação a todos os casos prováveis, não houve sobreviventes.
Cinco distritos (Bata, Ebebiyin, Evinayong, Nsok Nsomo e Nsork) em quatro das oito províncias do país (Centro Sur, Kié-Ntem, Litoral e Wele-Nzas) relataram casos confirmados ou prováveis da doença. Segundo a OMS, o distrito mais afetado é Bata, na província do litoral. No país africano, o último caso confirmado foi relatado em 20 de abril. A maioria envolve o sexo feminino, sendo a faixa etária mais afetada entre 40 e 49 anos.
Entre os casos confirmados, quatro se recuperaram. “Não há casos confirmados no centro de tratamento, desde a alta mais recente de um paciente em 26 de abril. Isso eleva o total de sobreviventes para quatro desde que o surto foi declarado”, afirma a OMS.
“Entre os casos relatados, muitos estão vinculados a uma rede social ou por proximidade geográfica, no entanto, a presença anterior de casos e/ou grupos em vários distritos sem vínculos epidemiológicos claros pode indicar a transmissão não detectada do vírus”, acrescenta a entidade.
A OMS afirma que continua apoiando o Ministério da Saúde do país no treinamento e supervisão de apoio das atividades de vigilância, incluindo investigação de casos e rastreamento de contatos e coordenação com unidades de saúde para vigilância ativa.
“Também desenvolveu uma lista de verificação de prontidão para ajudar os países vizinhos a avaliar seu nível de prontidão e identificar possíveis lacunas e ações concretas a serem tomadas em caso de qualquer possível surto de filovírus, incluindo o Marburg”, afirmou a OMS.
O centro de alerta desenvolvido pelo Ministério da Saúde local, com o apoio da OMS, está operacional. No entanto, o nível diário de alertas relatados permanece baixo, de acordo com a entidade.
República Unida da Tanzânia
Entre 16 de março e 30 de abril deste ano, na República Unida da Tanzânia foram relatados nove casos, incluindo oito casos confirmados, sendo o último em 11 de abril. Entre as seis mortes relatadas, incluindo um caso provável e cinco entre os casos confirmados. Entre os casos confirmados, três se recuperaram. Todos os casos foram relatados no distrito de Bukoba, região de Kagera. O surto foi declarado em 21 de março.
Na República Unida da Tanzânia, todos os casos são relatados no distrito de Bukoba. A idade dos casos variou de 1 a 59 anos (mediana de 35 anos), sendo o sexo masculino o mais acometido, diferentemente do perfil na Guiné Equatorial. O último caso confirmado foi relatado em 11 de abril.
Com relação a vigilância, o nível diário de alertas relatados ainda permanece baixo, segundo a OMS.
Como ocorre a transmissão e formas de tratamento
O vírus de Marburg é transmitido aos humanos por morcegos frugívoros e se espalha entre os humanos por meio do contato direto com os fluidos corporais de pessoas, superfícies e materiais infectados.
Segundo a OMS, profissionais de saúde foram infectados durante o tratamento de pacientes com suspeita ou confirmação da doença.
A doença começa, de forma abrupta, com febre alta, dor de cabeça intensa e mal-estar intenso. Manifestações hemorrágicas graves podem aparecer entre cinco e sete dias após o início dos sintomas. No entanto, nem todos os casos apresentam sinais hemorrágicos, e os casos fatais geralmente apresentam algum tipo de sangramento, geralmente em várias áreas. A morte ocorre mais frequentemente entre oito e nove dias após o início das manifestações clínicas.
“Embora nenhuma vacina ou tratamento antiviral seja aprovado para prevenir ou tratar o vírus, o Remdesivir está sendo usado de forma modificada e monitorada para uso emergencial na Guiné Equatorial”, afirma a OMS, ao citar também cuidados de suporte – reidratação com fluidos orais ou intravenosos – e o tratamento de sintomas específicos como medidas que podem melhorar a sobrevida do paciente. “Uma variedade de tratamentos potenciais está sendo avaliada, incluindo hemoderivados, terapias imunológicas e terapias medicamentosas, ainda de acordo com a entidade.”
Segundo a entidade, este é o primeiro surto relatado de Marburg na Guiné Equatorial e na República Unida da Tanzânia. Outros surtos foram notificados anteriormente em Gana (2022), Guiné (2021), Uganda (2017, 2014, 2012 e 2007), Angola (2004-2005), República Democrática do Congo (2000 e 1998), Quênia (1990, 1987 e 1980) e África do Sul (1975).
A OMS orienta que aumentar a conscientização sobre os fatores de risco para infecção pelo vírus Marburg e as medidas de proteção que os indivíduos podem tomar são maneiras eficazes para ajudar a reduzir a transmissão humana. Os profissionais de saúde que cuidam de pacientes com a confirmação ou a suspeita do vírus também devem redobrar os cuidados durante o atendimento.
Além disso, a entidade aconselha ainda a fortalecer a vigilância nos pontos de entrada nas áreas afetadas na Guiné Equatorial e na República Unida da Tanzânia para a identificação de casos, inclusive por meio de triagem de saída, por exemplo.
Fim do surto
“Antes de iniciar a discussão sobre a contagem regressiva de 42 dias para declarar o fim de um surto, recomenda-se que todos os contatos listados de casos confirmados ou prováveis tenham completado seu período de acompanhamento de 21 dias sem sintomas. Caso contrário, ainda existe a possibilidade de um contato se tornar um caso”, afirma a OMS.
Uma vez que todos os contatos tenham completado seu período de 21 dias, a data da última possível exposição a um caso provável ou confirmado do vírus pode ser definida com base em dois cenários possíveis:
– A pessoa era um caso positivo confirmado. Ela recuperou e posteriormente testou negativo em duas amostras de sangue coletadas em um intervalo de pelo menos 48 horas. A contagem de 42 dias começa no dia seguinte ao dia em que a segunda amostra de PCR negativa foi coletada.
– A pessoa era um caso provável ou confirmado. Ela morreu e um enterro foi organizado. A contagem de 42 dias começa no dia seguinte ao enterro.