MULTIPLICADORES: jovens do projeto Biodiversidade, da Bayer, promovem a recuperação ambiental, com o plantio de árvores nativas

Cansadas de serem vistas como inimigas do meio ambiente, as empresas do agronegócio estão empenhadas em mudar esta fama. Prova disso foi a criação do Instituto para o Agronegócio Sustentável (Ares), iniciativa de 18 entidades ligadas ao agronegócio brasileiro. Entre elas, a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Na agenda de prioridades do Ares estão questões como o ordenamento fundiário, legislação ambiental, monitoramento, questões trabalhistas relacionadas à terceirização, etc. Este cenário mostra como a questão da sustentabilidade vem ganhando importância no plano estratégico das companhias. A americana Cargill é um exemplo. Em seu relatório anual, um dos capítulos é destinado ao Desenvolvimento Sustentável, em que a empresa se propõe a atingir quatro metas até 2010: ampliar em 10% o portfólio de energias renováveis, melhorar em 20% a eficiência energética, reduzir em 2% o uso de água potável e em 8% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa. Neste sentido, a Bunge é outro exemplo de grupo que também incorporou a sustentabilidade à gestão empresarial. “Temos oito pontos ligados às questões socioambientais e eles têm que ser seguidos por todas as nossas empresas”, diz Adalgiso Telles, diretor de comunicação corporativa da Bunge. Segundo ele, o tripé da empresa é: desenvolvimento econômico, social e ambiental. Tanto que em 2006 a multinacional holandesa investiu R$ 30 milhões em ações ambientais e R$ 8 milhões na parte social. Entre os projetos, destaca- se a Suinocultura Sustentável, programa iniciado em 2006 com a instalação de biodigestores em granjas de suínos no Brasil. Quem dá assessoria técnica e financeira é a Ecoinvest Carbon, empresa do grupo que já instalou 27 biodigestores, em regime de comodato por dez anos. Estes biodigestores ajudam na redução da emissão de gases do efeito estufa, já que o dejeto suíno é um grande poluente atmosférico por causa do gás metano. Este processo favorece a decomposição dos dejetos, retém o gás carbônico e provoca a combustão. Energia que pode ser usada pela propriedade e ainda render créditos de carbono. “O que pode representar 20% da renda do suinocultor”, complementa Telles.

R$ 30 milhões foi o investimento da Bunge em ações ambientais em 2006

EM PROL DA NATUREZA: projeto Suinocultura Sustentável, da Bunge, é focado em biodigestores (foto acima), que reduzem a emissão de gases poluentes. Já a americana Monsanto tem várias ações ligadas à preservação do Cerrado (foto ao lado) e à adoção de práticas de agricultura sustentável

Na área de biodiversidade, desde 2005 a Bayer CropScience está com um projeto novo junto aos jovens do assentamento rural Sumaré I, na cidade de Sumaré, interior paulista. O objetivo é promover a biodiversidade por meio de duas linhas: a recuperação ambiental, com o plantio de árvores nativas e frutíferas, e a instrução socioambiental desses jovens. “Eles vêm sendo capacitados desde 2005 para ser multiplicadores de conhecimento”, explica Marcelo Santana Vasconcelos, engenheiro agrônomo e responsável pela área de responsabilidade socioambiental da Bayer. Os frutos já começaram a aparecer. Com o repovoamento da mata ciliar do Córrego Taquara Branca, uma das principais fontes de abastecimento de água do município, o corpo d’água tem aumentado. Além disso, constatou-se que a eliminação da degradação repercutiu no ressurgimento de minas d’água e no enriquecimento da fauna local. “Biólogas da USP fazem o monitoramento das espécies nativas e observaram que alguns animais silvestres já voltaram”, diz Vasconcelos. Para o próximo ano, a meta é fazer um trabalho de educação ambiental com os agricultores do assentamento, levando boas práticas agrícolas, como o uso consciente de agroquímicos.

A gigante Monsanto também investiu R$ 3,4 milhões em projetos socioambientais no ano passado. Um deles é desenvolvido no Parque das Emas, em Mineiros, em Goiás. Lá, a multinacional incentiva a preservação do Cerrado, promovendo a adoção de práticas de agricultura sustentável, como o plantio direto, a rotação de culturas e o uso racional de agroquímicos.

Outra com projetos neste foco é a americana Basf. A empresa, em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) – USP Piracicaba e com a Fundação Espaço ECO, desenvolve o Programa de Adequação Ambiental no qual ensina os produtores a trabalhar a terra de forma equilibrada, sem agredir o meio ambiente. O fato é que ser reconhecida como uma empresa sustentável, mais que uma necessidade, é uma forma de acessar os mercados. Os selos socioambientais viraram uma estratégia de marketing e uma espécie de barreira alfandegária, quando o assunto é exportação.