Coca-Cola é isso aí, emoção pra valer!, abra a felicidade, viva positivamente, são slogans do refrigerante mais vendido no mundo. E também de uma das bebidas mais achincalhadas: Coca-Cola serve para limpar vasos sanitários, Coca-Cola dissolve prego, CocaCola é pesticida. Entre a cruz e a caldeirinha, a empresa tenta dar respostas aos seus milhões de consumidores. Uma dessas respostas é utilizar açúcar certificado na fabricação de suas bebidas doces e o Brasil foi o escolhido.

A Coca-Cola Brasil, subsidiária da Coca-Cola Company, está saindo na frente, entre os mais de 200 países onde a marca de refrigerantes está presente. “Estamos em fase de teste, mas nosso objetivo é que todas as usinas fornecedoras de açúcar para a Coca-Cola tenham a certificação Bonsucro”, diz Rino Abbondi, vice-presidente de técnica e logística da Coca-Cola Brasil.

As primeiras três fábricas que começaram a utilizar o açúcar certificado, a partir de julho, pertencem à Spaipa, a maior fabricante autorizada pela Coca-Cola Brasil, no País.

O primeiro lote de duas mil toneladas de açúcar foi entregue às unidades de Curitiba e Maringá (PR) e Marília (SP). Segundo Abbondi, ser sustentável é uma causa permanente nos planos da indústria. “A utilização de açúcar produzido dentro de normas técnicas adequadas é um compromisso assumido mundialmente pela CocaCola.” A empresa, no entanto, não divulga quantas toneladas de açúcar certificado serão consumidas por todas as fábricas instaladas no País. No ano passado, a marca comercializou 10,6 bilhões de litros de bebidas no mercado brasileiro, um aumento de 11% em relação a 2009. O faturamento foi de R$ 17,7 bilhões.

Política global: “O objetivo é que todas as usinas fornecedoras de açúcar para a CocaCola tenham certificação Bonsucro”, diz Abbondi

Para ter açúcar certificado em sua linha de produção de refrigerantes, a Coca-Cola se juntou à Raízen, empresa líder do mercado nacional na produção de açúcar e álcool, controlada pela Shell e pelo grupo Cosan. Por sua vez, para certificar o açúcar da Coca-Cola, a Raízen deu como garantia a sua associação à Bonsucro, uma organização sem fins lucrativos, criada em 2010 e que nasceu a partir da antiga Better Sugar Cane Iniciative. Além da Raízen, a Bonsucro tem em sua carteira de clientes gigantes do setor sucroalcooleiro, como a Cargill, a Cosan Alimentos e a British Sugar.

O processo de certificação de uma das usinas da Raízen ocorreu em junho. A escolhida foi a unidade de Maracaí, no interior de São Paulo, que processa 1,7 milhão de toneladas de cana-de-açúcar e industrializa 130 mil toneladas de açúcar, além de 63 milhões de litros de etanol. Luiz Eduardo Osório, vice-presidente de desenvolvimento sustentável e relações exteriores da Raízen, diz que a empresa, por questões contratuais, não pode confirmar quanto de açúcar a CocaCola Brasil irá absorver dessa produção. “Mas posso dizer que esse açúcar certificado está à disposição da Coca-Cola.”

A Raízen espera faturar na safra 2011/2012 cerca de R$ 50 bilhões, R$ 30 bilhões a mais que na de 2010-2011. Segundo Osório, as certificações atendem a um mercado cada vez mais exigente por processos limpos e padronizados. Por isso, a tendência é de mais empresas indiretamente ligadas ao agronegócio buscarem por elas, como é o caso da Coca-Cola. “As empresas se tornam mais competitivas quando conseguem equilibrar os pilares econômico, social e ambiental”, diz Osório.

Para o presidente da Bonsucro, Kevin Ogorzalek, com o padrão métrico global desenvolvido para a cana-de-açúcar, as emissões de gases de efeito estufa, liberados na produção e no processamento da cultura, podem ser mensuradas. “Os critérios da certificação também contribuem para a eficiência do processo produtivo e no gerenciamento do uso de insumos”, diz Ogorzalek. Para ele, esses são elementos que podem gerar economia nos custos das usinas. A cana-de-açúcar é uma das culturas que mais necessitam de grandes concentrações de terra e de água.

Para receber a certificação, as empresas são avaliadas por meio de 48 indicadores. Esses indicadores foram baseados em cinco princípios: cumprimento das leis, responsabilidade social, respeito aos direitos humanos, gerenciamento da biodiversidade e do ecossistema e o aperfeiçoamento dos critérios gerenciais. “Cada quesito é composto por indicadores que permitem quantificar o desempenho e identificar se o que uma empresa faz está em conformidade com o que prega a Bonsucro”, diz Ogorzalek.

Segundo o executivo, as metas para atingir a certificação são ajustadas de acordo com cada usina. “As unidades produtoras possuem suas próprias regras; o que fazemos é ajustálas aos princípios da certificação.” O processo tem validade de três anos e as usinas passam por auditorias técnicas uma vez a cada 12 meses. “As auditorias por institutos independentes verificam se aquilo que está sendo oferecido ao mercado foi realmente certificado”, diz Ogorzalek.