25/03/2013 - 18:06
As metas do governo de transformar o etanol no principal combustível dos carros brasileiros parecem se distanciar cada vez mais da realidade. Para piorar a situação do setor sucroalcooleiro, a falta de incentivos, os altos custos de produção e preços de venda estagnados podem levar o etanol hidratado, que vai direto ao tanque do automóvel, à inviabilidade econômica, já em 2015, reduzindo a níveis preocupantes a produção do combustível. A informação foi dada pela União dos Produtores de Bioenergia (Udop), entidade que representa empresas de etanol, açúcar, bioeletricidade e biodiesel. “Sem uma política de regras claras para o etanol, o setor tende a definhar”, diz Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da Udop. “O preço do hidratado é inferior ao do anidro, e os usineiros estão optando por fabricar mais o álcool que é misturado à gasolina.”
Na semana do dia 15 de fevereiro, o preço do etanol hidratado em São Paulo, principal mercado consumidor do País, estava na casa do R$ 1,23 por litro, livre de impostos e frete. Ao mesmo tempo, o etanol anidro, que é misturado à gasolina, era vendido por R$ 1,34 o litro, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Esalq). Já o custo da produção do álcool chegou próximo a R$ 1,1 por litro. “Com o aumento da mistura do anidro na gasolina, a produção do etanol hidratado é a última opção dos usineiros”, diz Franco.
Em 1º de maio deste ano, a porcentagem de etanol anidro misturado à gasolina passará dos atuais 20% para 25%. Isso pode gerar uma demanda extra por etanol anidro de até três bilhões de litros. Na safra 2012/2013 a produção de etanol ficou dividida em nove bilhões de litros de anidro e 12,4 bilhões de litros de hidradato. A diferença entre as produções de etanol hidratado e anidro, que era de dez bilhões de litros na safra 2010/2011, caiu para 5,6 bilhões de litros na safra 2011/2012 e ficou em 3,4 bilhões de litros na última safra. “Essa queda mostra que muitas usinas já estão produzindo mais anidro do que hidratado”, diz Franco.
Não é difícil encontrar uma usina alcooleira que já deixou de fabricar hidratado, por conta dos ganhos maiores do anidro. A 550 quilômetros de São Paulo, em Fernandópolis (SP), a usina Alcoeste, pertencente ao Grupo Arakaki, especializada na produção de etanol, já fez a escolha. Dos 100 milhões de litros de álcool produzidos por ano, 90% são de anidro e apenas 10% de hidratado. Há quatro anos a divisão era de 60% de hidratado e 40% de anidro. “Não dá para manter uma usina aberta vendendo hidratado”, diz Celso Luís Martins Arakaki, coordenador de planejamento da usina. “Agora estamos estudando ampliar também a produção de açúcar.” Segundo ele, a área de etanol hidratado não receberá novos investimentos.
Para Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), apesar do movimento das usinas, a demanda por etanol anidro é limitada. “O País não possui tanta demanda por anidro assim”, diz ele. “Por isso, acredito que boa parte das usinas seguirá com sua produção normal.” Mas Rodrigues concorda que, sem uma política pública a longo prazo para o setor, em 2015 muitas usinas estarão em situação de inviabilidade financeira e fecharão as portas. “Seguimos conversando com o governo sobre a ajuda ao setor para retomar o crescimento”, afirma Rodrigues. “ Já recebemos sinais de que estão sendo estudadas algumas medidas de apoio.”
Em fevereiro, o ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, afirmou que entre as medidas mencionadas pelo diretor da Unica está a redução da cobrança do PIS e do Cofins sobre o produto. “Estamos examinando um conjunto de medidas, mas não tomamos nenhuma decisão ainda”, disse Lobão, ao ser questionado sobre a possibilidade de desoneração. A carga de PIS/ Cofins é de aproximadamente R$ 0,12 por litro de etanol, ou 10% do custo de produção total. Apesar de nada estar confirmado, Franco, do Udop vê a medida com bons olhos, mas destaca que não seria mais do que um paliativo. “A curto prazo, a isenção desses impostos ajudaria os usineiros a colocarem parte das dívidas em dia”, diz Franco. “Mas, a longo prazo, ainda precisaríamos de outras medidas de incentivo.”
Segundo a Unica, aproximadamente 30% das usinas brasileiras registram um endividamento superior ao do faturamento anual. Outro dado alarmante é que das 330 usinas de açúcar e etanol da região Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 90% de toda a cana-de-açúcar processada no País, 60 deverão fechar as portas ou mudar de dono nos próximos três anos. A Unica já confirmou que pelo menos dez usinas deixarão de processar a safra 2013/2014, por dificuldades financeiras. “O Brasil ainda possui muita capacidade ociosa de moagem, e a cana deixada por estas unidades será aproveitada por outras usinas”, diz Rodrigues.