O candidato do Republicanos ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, realinhou a estratégia de campanha com temas mais caros ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Antes cuidadoso ao abordar assuntos da agenda mais radical do bolsonarismo, o ex-ministro da Infraestrutura abraçou de vez as bandeiras dos seguidores do seu padrinho político.

Com dados de pesquisas qualitativas em mãos e ciente da estratégia do atual governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), de buscar o eleitor antipetista, Tarcísio deixou de lado o estilo moderado e pragmático e adotou a narrativa da ala “ideológica” do bolsonarismo.

Em entrevista ao Estadão, em junho, o candidato tinha um tom diferente e procurou, à época, marcar posição sobre suas diferenças com o presidente. “Vou mostrar os avanços do ponto de vista fiscal, de reformas pró-mercado e de entrega de políticas públicas. Por outro lado, vou também estabelecer as diferenças que existem entre o presidente e eu.”

A virada foi evidenciada anteontem, na sabatina promovida pelo Estadão em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), quando Tarcísio afirmou pela primeira vez que pretende acabar com a exigência de vacinação no serviço público, se vencer a eleição, criticou as cartas em defesa da democracia e adotou um estilo de resposta que serviu sob medida para viralizar nas redes sociais.

INTERNET

A mudança de tom deu certo e as respostas de Tarcísio durante a sabatina, ao estilo do ex-chefe, agradaram ao presidente, que usou as redes para publicar trechos editados das declarações. A postagem desencadeou efeito em cadeia e mobilizou as redes bolsonaristas, que produziram memes com as falas do ex-ministro em defesa de Bolsonaro.

A estratégia, porém, contém riscos. O comitê de Garcia também editou trechos da sabatina e divulgou a fala de Tarcísio em defesa do fim da obrigatoriedade da vacina no serviço público. A declaração foi vista como um “tiro no pé” e deve ser aproveitada em debates e inserções do horário eleitoral de rádio e TV.

“O Tarcísio abraçou o negacionismo. Essa é uma estratégia irresponsável e que pode colocar a população em risco”, disse o presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi. A mesma crítica foi feita por petistas. “Um candidato que se diz técnico ceder a esse tipo de argumento é o vale-tudo eleitoral. É o padrão Bolsonaro, negar as evidências”, afirmou o deputado Emídio de Souza (PT), coordenador do plano de governo do petista Fernando Haddad.

LEGADO

Interlocutores da campanha de Tarcísio minimizaram a fala sobre a vacina e disseram que ele só não tratou da obrigatoriedade no serviço público antes porque não foi questionado. Os aliados, porém, admitem que a estratégia é fazer uma defesa “mais acirrada” do “legado” de Bolsonaro.

Para George Avelino, coordenador do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público, Tarcísio só tem chance de chegar ao segundo turno se colar sua imagem em Bolsonaro. “Muitos institutos dão Bolsonaro empatado com Lula (em SP). Bolsonaro está com muito mais votos do que Tarcísio. Nada mais natural do que tentar ganhar esses votos.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.