18/01/2023 - 18:46
Os juros futuros fecharam estáveis na ponta curta da curva a termo, enquanto as demais taxas subiram. Após recuarem na manhã desta quarta, 18, inverteram o sinal no começo da tarde, refletindo componentes internos e externos. Lá fora, dados fracos da economia norte-americana seguidos pelo discurso “hawkish” do presidente da Fed em St. Louis, James Bullard, trouxeram aversão ao risco, ajudando também na virada do dólar para cima. Aqui, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abordando mudanças na tabela do Imposto de Renda e volta da política de valorização do salário mínimo atrelada ao PIB, foram vistas como “populistas” e na contramão da sinalização de austeridade fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,47%, de 13,48% ontem no ajuste, e a do DI janeiro de 2025, em 12,58%, de 12,51% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 12,45%, de 12,36% ontem. A taxa do DI janeiro de 2029 avançou de 12,47% para 12,55%.
Pela manhã, as taxas davam sequência ao alívio de prêmios visto ontem, alinhadas ao comportamento favorável do câmbio, com o dólar em baixa e chegando à casa dos R$ 5,06 nas mínimas do dia, no aguardo do desfecho da reunião que Lula teria com as centrais sindicais e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. No começo da tarde, o recuo das taxas começou a perder força até que viraram para cima, assim como o dólar ante o real.
Um dos gatilhos foi o ambiente externo, ampliadas as tensões sobre a economia norte-americana, primeiramente com os dados fracos da inflação no atacado e de atividade nos Estados Unidos, abaixo do consenso. Num segundo momento, o efeito nos ativos se potencializou com Bullard defendendo que o Fed mova os juros “rapidamente” em direção aos 5%. “Preferimos errar pelo lado de mais aperto monetário”, disse Bullard.
Indicativo da busca pela segurança, o rendimento dos Treasuries de dez anos despencava a 3,37% no fim da tarde, ante nível de 3,54% ontem.
Mal o mercado digeria a piora externa, vieram as declarações de Lula, avaliadas como inconsistentes com o plano de ajuste fiscal da Fazenda. Lula garantiu que fará mudanças no Imposto de Renda, para aumentar a faixa de isenção a quem recebe até R$ 5 mil, e defendeu a política de valorização do salário mínimo atrelada ao crescimento da economia. “Vamos colocar o pobre no orçamento e o rico no Imposto de Renda”, afirmou.
O valor de R$ 1.302 será válido, a princípio, até maio, mas antes disso pode ser revisado, segundo Marinho. Um grupo de trabalho (GT) interministerial vai formatar a política de reajuste, que deve voltar a utilizar o crescimento da economia como métrica para correção acima da inflação. Um aumento para R$ 1.320, como consta no Orçamento aprovado pelo Congresso, a partir de maio traria impacto extra de R$ 4,3 bilhões em 2023 às contas públicas.
“Haddad vem usando um tom mais austero nas sinalizações em Davos, mas sabe-se que a última palavra não é dele. Lula quer gastar no modo tiro de canhão, enquanto o pacote de Haddad deve arrecadar a conta-gotas”, disse a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, para quem as declarações do mandatário hoje tiveram caráter “populista”.